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O “Uber” que foi inventado na novela “Dancin’ Days”

Ontem, falei sobre uma novela de Gilberto Braga (“Celebridade”). E hoje cito outra obra deste autor, aproveitando que um trecho de “Dancín’ Days” virou uma espécie de meme nas redes sociais, em especial no TikTok. O segmento que viralizou é uma conversa entre os personagens Alberico Santos (Mário Lago) e Horácio Pratini (José Lewgoy). Neste diálogo de pouco mais de um minuto, Alberico está descrevendo a uma ideia que teve a Pratini. Este, então, pergunta ao amigo se ele quer montar uma frota de táxis. Alberico, então, diz o seguinte:

– Não, você não compreendeu bem, não… Eu não pretendo ser dono de uma empresa de táxi. O meu negócio é a central telefônica. Eu vou trabalhar com motoristas autônomos, que me darão uma comissão, mas que cobrarão tarifa normal, sabe como é? […] Eu fico responsável pela ligação dos rádios nos carros e a ligação dos carros com a central telefônica. Uma pessoa precisa de um carro. O que faz? Liga para a central, que se comunica imediatamente com todos os táxis que estão rodando. O que estiver mais próximo do endereço da pessoa que telefonou, dá o sinal. O encarregado da central, então, avisa à pessoa em quanto tempo terá o táxi em sua porta. É a ideia mais genial que tive na vida…

Os internautas rapidamente concluíram que a ideia dos aplicativos de mobilidade, como o Uber, foi antecipada ainda nos anos 1970, por Gilberto Braga, através de seu personagem. Afinal, o que Alberico Santos descreve é exatamente o funcionamento dessa ferramenta, cuja única diferença é rodar em uma tecnologia diferente.

Isso faria todo o sentido, não fosse o lampejo de Alberico algo que já existisse no Brasil há algum tempo. O conceito de radiotáxi tinha sido criado em 1975 para dar apoio aos motoristas que trabalhavam no aeroporto de Congonhas. O cliente poderia ligar para uma central telefônica e pedir um carro onde quisesse. Um ano mais tarde, em Curitiba, criou-se um sistema semelhante, sem nenhuma ligação com o aeroporto local. Mais ou menos naquela época, a frota paulistana deixou de operar exclusivamente em Congonhas e virou uma frota de carros de luxo, conhecida como “táxi especial” (hoje, opera sob o epíteto de “táxi vermelho e branco”).

Ou seja, a grande novidade do Uber não foi exatamente ser um sistema automatizado de requisição de transporte, como pensava o personagem Alberico Santos, mas sim colocar motoristas, que não necessariamente dirigiam táxis, disponíveis aos clientes em várias categorias de veículos – e com cobrança automática.

O que podemos concluir deste episódio? Duas coisas.

A primeira é: assim que recebemos alguma mensagem interessante, como essa do Uber ancestral, assumimos que é uma verdade absoluta. Não fazemos uma pesquisa sobre o tema e ainda passamos o post para frente.

A outra conclusão é a de que os acontecimentos do passado, sejam de vulto ou corriqueiros (como a criação do radiotáxi), não têm importância para muitos das novas gerações. É como se a história, de fato, tivesse começado nos anos 1980 e o verdadeiro conhecimento pudesse ser assimilado apenas em posts das redes sociais.

Quando decidimos ignorar o passado ou a história, corremos o sério risco de não aprender com os erros pretéritos ou repetir comportamentos que se mostraram errados ou inadequados. Uma função do passado é nos ajudar a evoluir. Se ignorarmos as experiências pregressas, nosso aprendizado neste mundo digital será muito mais doloroso.

https://vm.tiktok.com/ZMruGfA4J

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