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Exame: Hóspedes são o pedido de Natal da principal rede de hotéis de Gramado

Setor espera retomada de clientes com volta do aeroporto e com o Natal Luz, maior data turística da Serra Gaúcha

Se fosse uma manhã normal de julho em Gramado, na serra gaúcha, a cidade estaria lotada de turistas fotografando o termômetro com temperaturas negativas, comprando casacos, gorros e luvas de lã nas lojas e fazendo filas nos cafés de manhã dos hotéis. 

Neste ano, porém, algo está diferente. O frio segue lá. O termômetro, também. As lojas continuam abertas e os hotéis funcionando. Mas o turista sumiu. 

Na sexta-feira em que a reportagem da EXAME esteve na cidade, eram poucas as pessoas consumindo ou circulando na Avenida Borges de Medeiros, a principal da cidade.

As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no fim de abril e início de maio paralisaram a operação da principal porta de entrada de turistas no Estado: o aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre. Como um efeito em cadeia, a ocupação e a movimentação em Gramado despencou.

Agora, para chegar na cidade, o turista de fora do Rio Grande do Sul precisa passar praticamente por uma maratona. Ou então, desembolsar muito dinheiro. 

A base aérea militar de Canoas está operando diariamente, mas com muito menos voos do que havia em Porto Alegre, e com preços muito mais altos — uma passagem de ida e volta saindo de São Paulo pode custar mais de 3.000 reais. 

Tem quem esteja parando em Florianópolis, Santa Catarina, e pegando cerca de 10 horas de ônibus para chegar à serra gaúcha. A opção mais em conta é por Caxias do Sul, cidade também na Serra que fica a duas horas de Gramado. O problema é que no inverno, o aeroporto fecha com mais frequência por causa da neblina que toma conta da região. Além disso, a quantidade de voos também é bem menor do que a que existia em Porto Alegre.

Resumidamente: está complicado para o turista chegar à cidade. Assim, mesmo que o município não tenha sofrido com as enchentes, ele sofre pelos efeitos dela. E muito. 

A Laghetto, principal rede de hotéis da serra gaúcha, com 14 operações entre Gramado e Canela, que o diga. Em maio, no pior momento da crise, a ocupação da empresa caiu 80% em relação a maio de 2023. Em junho, a ocupação foi 60% menor. 

Qual é a estratégia da Laghetto

Agora, sem aeroporto, a empresa depende majoritariamente de turistas do próprio Rio Grande do Sul ou de estados vizinhos, como Santa Catarina e Paraná.

Em junho, por exemplo, a ocupação foi principalmente aos finais de semana. Mais especificamente, aos sábados.

“Imagina que o turista vem de Porto Alegre, por exemplo, depois do trabalho na sexta-feira, ou então sábado de manhã”, afirma Cristiane Mörs, diretora de Vendas e Marketing da Laghetto. “Nossa ocupação funciona muito bem no sábado, mas durante a semana, está tudo muito parado ainda”.

Como está a Orla do Guaíba, em Porto Alegre, dois meses após as enchentes

Em julho, a expectativa é um pouco melhor. Com as férias de inverno, os gaúchos, que também estão impossibilitados de irem a outros estados por causa do aeroporto, podem escolher Gramado como ponto de descanso.

“Seguimos vendendo, mas estamos com uma estimativa de fechar julho com uma ocupação de 60%”, diz. “Normalmente, julho é um dos nossos melhores meses. Normalmente nossa média era de 90% de ocupação no mês. Não é ruim agora, mas não é o que estávamos acostumados”.

Para atrair turistas, a empresa também precisou diminuir o preço das diárias em cerca de 30% a 40%, o que afeta no tíquete médio do mês, e lançou campanhas para estimular o turismo na região, com reservas mais em conta.

Nos últimos dois meses, ainda tomou estratégias de redução de custos. Em maio e parte de junho, por exemplo, precisou focar nas hospedagens em alguns poucos hotéis. Assim, o turista que chegava num hotel poderia ser direcionado a outro, reduzindo assim gastos como de energia. Mesmo assim, houve demissão de cerca de 35% do total de funcionários. 

“E ficamos pensando que, como somos os maiores da região, ainda somos privilegiados porque, quando as coisas retomam, somos os primeiros a serem procurados”, diz. “Imaginamos que várias pousadas e hotéis menores não vão conseguir passar dessa crise”.

A estimativa do setor é que os prejuízos na área turística pelo fechamento do aeroporto cheguem à casa dos 550 milhões de reais. O governo federal trabalha numa linha de crédito específica para o setor, mas o dinheiro ainda não foi liberado.

Como a Laghetto quer dar a volta por cima

grande questão da Laghetto, assim como de outros negócios de Gramado, é tentar mostrar ao turista que a cidade está segura e operando bem. 

De fato, no caminho de Porto Alegre à cidade, que a reportagem fez numa sexta-feira chuvosa, não houve muitas intempéries. Só chegando em Gramado que o trânsito afunila por obras numa das pistas, onde houve um desmoronamento.

Mas qualquer chuva é agora um motivo de tensão para os gaúchos.

“Nos finais de semana que há previsão de chuva, sempre temos um monte de cancelamentos”, afirma Cristiane. “Tentamos informar o cliente que as coisas estão seguras, que é normal chover no inverno no Rio Grande do Sul”. 

Na cidade, se não fosse um vazio estranho para a época do ano, tudo estaria normal. Praticamente todos os restaurantes reabriram, assim como as lojas e hotéis. Também não falta mercadoria. O que está faltando são, mesmo, os turistas.

Quais são as expectativas para o Natal

Se julho será destinado ao público gaúcho, a expectativa em Gramado está praticamente toda para o período mais quente da cidade, o Natal. 

A cidade é conhecida pelo Natal Luz, um festival natalino com uma série de programações especiais sobre a data comemorativa. 

Neste ano, depois de várias edições cobrando para acessar o desfile de Natal, a principal atração do evento, a cidade decidiu colocá-lo de volta no espaço público. Dessa vez, o cliente não precisará pagar para ver o cortejo. 

“A ideia é tirar o estigma que ficou de que os espetáculos são muito caros”, diz Cristiane. “O desfile volta agora para a rua coberta, até como um agradecimento para quem está aqui, em Gramado”.

Na verdade, para a Laghetto e para o setor, os hóspedes serão o grande presente de Natal. Mas quem vai trazê-lo não é o Papai Noel, e sim o aeroporto. Há previsão de que o espaço reabra entre outubro e dezembro. 

“Não existe a possibilidade do aeroporto não voltar para o Natal Luz”, afirma Cristiane. “Seria um desastre. O mais forte do festival é novembro e dezembro. Já estamos trabalhando com esse foco. Vai ser o sinal da nossa retomada”.

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Por Daniel Giussani

Publicado originalmente em: https://encurtador.com.br/jYjMd

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