Os dois são alinhados com o governo e devem ao Planalto a viabilização de suas candidaturas. Mas os novos presidentes da Câmara e do Senado mostram diferenças significativas em seus estilos – algo que pôde ser captado em seus discursos de posse.
Rodrigo Pacheco (foto) se mostrou um legítimo representante da política mineira e fez questão de ressaltar essas raízes, mesmo tendo nascido em Porto Velho, em Rondônia. Não foi à toa, portanto, que citou Juscelino Kubistchek em sua primeira fala como autoridade máxima do Senado: “É inútil fechar os olhos à realidade. Se o fizermos, a realidade abrirá nossas pálpebras e nos imporá a sua presença”. Essa frase é sintomática e reflete o pragmatismo político defendido por JK. Pode estar aí uma pista do comportamento do senador à frente da Câmara Alta. Além disso, seu discurso abrangeu vários temas importantes para o Brasil, sem esquecer de tocar em pontos relevantes para a casa parlamentar.
Já Arthur Lira, o novo presidente da Câmara, teve uma postura oposta. Gastou a maior parte de seu tempo com assuntos internos dos parlamentares e reservou poucos minutos para tecer considerações sobre questões nacionais. Parece um presidente da Câmara ao estilo do falecido Severino Cavalcanti: mais voltado para causas internas do Parlamento do que externas. Sua primeira decisão foi a de anular o bloco registrado pelo opositor Baleia Rossi e zerar o jogo que vai distribuir os cargos da mesa diretora, incluindo secretarias e suplências – muitas das quais têm grande poder burocrático. Na prática, foi para a briga com a oposição. E isso pode ser um vislumbre do que ocorrerá em sua gestão, pois mostra que Lira pode ser implacável quando quer.
Há um claro vencedor em todo este processo: o presidente Jair Bolsonaro. Hoje, ele tem aliados nas duas mesas diretoras do Congresso, substituindo de forma acachapante seu oponente, Rodrigo Maia. A partir de agora, a pauta segue de perto os interesses planaltinos e deve passar longe dos sobressaltos.
Mas o núcleo duro do Planalto sabe que o modus operandi do Centrão segue um apetite insaciável. Cargos e verbas foram distribuídos para patrocinar as candidaturas de Lira e de Pacheco. Mas essa distribuição de benesses não ficará por aqui. Haverá novas rodadas de pedidos e exigências. E o governo terá de aceitá-las para garantir sua estabilidade e acalmar os parlamentares do Centrão.
O perdedor, evidentemente, é Rodrigo Maia. Chorando, ele se dirigiu aos colegas e propôs deixar o passado no passado. “As brigas passaram”, disse ele. E referindo-se aos partidários de Arthur Lira, afirmou: “Se em algum momento se sentiram ofendidos, não foi minha intenção”.
“Me preparei para não chorar”, comentou ele, que se despedia da presidência depois de quatro anos e meio. Maia, que conta com a simpatia por parte de vários jornalistas, foi figurinha carimbada na imprensa por muito tempo. Sempre simpático com os profissionais de comunicação, sabia distribuir comentários e informações saborosas para colunistas e repórteres. Fazia essa gestão de informação como poucos políticos e deve deixar saudades entre muitos analistas da cena brasiliense.
O novo presidente da Câmara, por sua vez, é mais econômico no relacionamento com a imprensa. Visto como um político à moda antiga, deve eleger pouquíssimos interlocutores entre os jornalistas de Brasília e construir pontes sólidas entre os donos de jornais, revistas e emissoras de televisão. Espera-se assim, que Lira estabeleça uma ponte aérea agitada entre Alagoas, seu estado natal, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Com a troca de poder no Congresso, as reformas devem voltar à pauta, sempre de acordo com as preferências dos ministros de Bolsonaro. É o que Lira chama de “pauta emergencial”. Atenção especial deve ser dada à reforma tributária, mas é de se esperar que Lira prefira outro texto sobre o tema que não o de autoria de seu opositor Baleia Rossi. A privatização, segundo o novo presidente da Câmara, também voltará à ribalta e pode ser revitalizada pela nova gestão. A agenda liberal raiz de Paulo Guedes não deve ser reabilitada por completa. Mas poderemos ter um arremedo de liberalismo pela frente, bem fraquinho.
Se as novas presidências do Parlamento retomarem as votações em torno das reformas eleitorais, o país poderá respirar um pouco – especialmente porque o equilíbrio político, devidamente equalizado na base do toma-lá-dá-cá, deverá reinar entre os congressistas nos próximos dois anos.
Dentro deste cenário, haverá espaço para o surgimento de uma candidatura que ameace a reeleição de Bolsonaro? Até existem condições para que isso aconteça. Porém, como diria o eterno tricampeão de Fórmula 1, Ayrton Senna, “chegar é uma coisa, passar é outra”. Ou seja, pode ser que apareça um novo candidato com densidade política – mas daí a derrotar Bolsonaro já é outra conversa.