Quando o termo “startup” surgiu, ainda nos anos 1990, referia-se a um empreendimento que explorava o nascente mercado digital e ainda não poderia ser considerado uma empresa formalmente constituída, mas tinha grande potencial de crescimento. Algumas dessas iniciativas surfaram a bolha que inflou sobre a internet entre 1996 e 2001. Muitas captaram recursos e poucas sobreviveram até hoje.
Demorou muito para que essa expressão fosse utilizada coloquialmente em nosso dia a dia e até se tornasse um objeto de desejo. Muitos executivos querem tocar suas áreas com espírito de startup; empresários sonham em poder fazer “pivotagens” em suas companhias exatamente como fazem esses empreendimentos que nasceram digitais; e várias corporações decoram seus escritórios baseados nessa cultura, que nasceu no Vale do Silício americano e se espalhou pelo mundo.
Desde que a revolução digital varreu do mapa alguns mercados e forçou grandes corporações a mudanças dolorosas, as startups mostraram um poder econômico invejável. Muitas delas têm um valor de mercado incompatível com a receita que geram e várias vezes superior às concorrentes tradicionais – isso mostra o quanto os investidores acreditam em seu potencial. Mas, até agora, não tem sido uma garantia de que esse potencial será concretizado.
A fundação dessas startups, até agora, foi geralmente motivada por alguém que viu um atalho na forma clássica de se fazer negócios em um determinado mercado. Com um aplicativo ou uma ferramenta digital, se criava uma forma de baratear ou agilizar um determinado serviço. Com isso, um novo modelo era inventado.
Esse roteiro funcionou até agora. Só que, desde 2020, um novo elemento foi colocado na mesa: a pandemia.
Com os entraves econômicos provocados pelo coronavírus, muitas ineficiências foram desnudadas. A primeira delas foi o atraso tecnológico de várias empresas. Muitas delas tinham negligenciado ferramentas como o e-commerce e ferramentas de comunicação instantânea. Todas tiveram de migrar para um modelo que as permitisse trabalhar no cenário criado pelo lockdown.
A segunda barreira a ser ultrapassada pelas empresas foi a avaliação de suas equipes durante esse novo cenário, no qual o trabalho remoto passou a ser comum e as relações entre chefia e subordinados tiveram de ser repensadas. As empresas entenderam rapidamente as novas regras do jogo e mapearam seus times com base em novas fórmulas de avaliar talentos e potenciais. Essa fase está em seus estertores finais e vai provocar mudanças em breve – seja na forma de contratar ou demitir pessoas.
A segunda onda de lockdowns pelo mundo acabou por descortinar novas oportunidades para quem quer criar atalhos e revolucionar mercados. A pandemia mostrou as fraquezas de todos os mercados, dando uma chance de ouro às mentes fervilhantes de jovens empreendedores: encontrar novas maneiras de fazer negócios que podem desafiar fortemente os grandes players.
Esse desafio, no entanto, dificilmente valerá para segmentos que necessitam de capital intensivo para pesquisas e expansão ou de uma tipo de tecnologia muito sofisticada.
As novas startups devem explorar as falhas de empresas que ficaram expostas com o stop-and-go da economia sob a Covid-19. Muitas iniciativas, especialmente entre os pequenos, vão sucumbir por conta da recessão (muitas, por sinal, já fecharam suas portas) e deixar espaço para que jovens empreendedores enxerguem uma nova forma de explorar nichos mal explorados.
A pandemia vem como um cavaleiro do Apocalipse em cima de empresas que já estavam no campo da mediocridade antes do coronavírus. Em primeiro lugar, porque tornou o ambiente de negócios inóspito, exigindo foco, criatividade e agilidade. Nem todos conseguem repensar suas atividades com base nesses três pré-requisitos. Em segundo, mostrou as fraquezas dos mercados e, eventualmente, das empresas que neles atuam.
Cada mercado tem sua peculiaridade. E essa característica particular vai ser pensada e repensada por alguém, até encontrar uma nova solução, que tornará tudo mais barato, competitivo e com maior qualidade.
Por que deixar que alguém de fora repense e redefina seu mercado? Por que ser mais uma Kodak da vida? Por que não encontrar você mesmo uma solução para este problema? Gaste algum tempo escrutinando sua empresa e o mercado. O que pode ser um breaktrough em seu nicho? Ouça pessoas de outras formações, converse com seus fornecedores e clientes. Encontre os pontos fracos e reflita sobre eles. Vamos lá. Os jovens não detêm o monopólio da mudança e da disrupção.