Ontem passei o dia inteiro em frente ao computador, conversando com vários CEOs de empresas. Foram doze horas seguidas de aprendizado profundo. E, de todas as conversas, listo quatro lições que me fizeram refletir:
“Não existe especialista em coisa inédita” – Reynaldo Gama, CEO da HSM e da SingularityU Brasil
O mundo atual nos traz situações inusitadas. Diante de cenários absolutamente inéditos, surgem do nada pessoas que entendem tudo daquele assunto totalmente desconhecido até cinco minutos atrás. Alguns, de fato, têm conhecimento de outros temas que podem ser adaptados à nova situação. Outros, porém, usam uma pesquisa rápida no Google para justificar opiniões pré-existentes e, muitas vezes, enviesadas.
Durante a pandemia, encontramos uma plêiade de catedráticos amadores nas redes sociais falando sobre inúmeros aspectos da Covid-19. Muitos deles foram desmentidos pelas circunstâncias – ou surpreendidos pela realidade. Neste particular, sempre lembro de uma conversa com um médico que entrevistei em abril de 2020. Ele, que era diretor de um plano de saúde, me contou que conversara no dia anterior com um colega que parecia saber tudo sobre o coronavírus, tamanha a certeza de suas palavras. A este colega, ele disse: “Nesta situação, quem diz que entendeu tudo é porque não compreendeu nada”, afirmou. “Sugiro que você leia mais sobre o assunto”.
“O celular é o controle remoto do nosso mundo” – Paulo Dalla Nora Macedo, empreendedor ESG.
Essa reflexão não é exatamente uma novidade, mas é um achado no sentido ao resumir totalmente a nossa dependência deste aparelhinho. Quando eu era criança, os adultos diziam que a televisão era “uma máquina de fazer doido”, repetindo uma frase do escritor Stanislaw Ponte Preta que ficou famosa nos anos 1960.
Bem, se uma tevê preto e branco, com som mequetrefe e uma imagem cheia de fantasmas era capaz de enlouquecer as pessoas durante a década dos Beatles, o que podemos dizer do smartphone? Estamos falando de um aparelho que, como na música do falecido apresentador Chacrinha, nos domina e alucina. Nossa vida está no celular. Ele é o nosso banco, registra nossas fotos, faz vídeos, nos acorda, nos conecta com os amigos, manda mensagens, oferece a previsão do tempo, nos informa sobre os mercados financeiros, nos ensina o melhor caminho no trânsito, armazena nossas músicas e nossos livros, reserva mesas nos restaurantes, nos conecta aos filmes e vídeos que queremos ver, ajuda a trazer comida e compras em casa – e, de vez em quando, também funciona como telefone.
A nossa dependência em relação ao celular é grande e vai aumentar. Imagine o que irá acontecer quando o 5G fizer parte de nossa vida para sempre. Com maior banda e maior velocidade, a vida como nós conhecemos irá mudar irremediavelmente.
“Se os Estados Unidos tivessem uma identidade digital igual à da Estônia, não haveria essa discussão sobre se houve fraude ou não nas eleições presidenciais” – Diego Torres, CEO da Único.
O caso da Estônia é exemplar. Esse país do leste europeu, há alguns anos, criou o governo digital, que inventou uma identidade virtual, totalmente segura e inviolável (com ela, o cidadão tem acesso a cerca de 500 serviços oferecidos pelo governo). O sistema permite, inclusive, que se vote através de sua plataforma. O eleitor pode acessar urnas virtuais que estão na nuvem e, durante sete dias, entrar e sair da plataforma quando quiser – inclusive tendo a possibilidade de mudar o voto ao longo dos dias definidos pelo tribunal eleitoral.
“Quem desindustrializou o Brasil foi o imposto” – Abilio Diniz, presidente do Conselho da Peninsula e Salim Mattar, fundador da Localiza.
Abílio Diniz (foto) soltou essa pérola para explicar a diminuição significativa no número de indústrias no país. “Milhares de empresas fecharam porque tiveram de pagar tributos além da conta”, avaliou o empresário. Salim Mattar não apenas concordou com Diniz, como ainda apontou o início da elevação da cobrança de tributos. “Em 1985, a carga tributária era apenas 23% sobre o PIB”, lembrou Salim. “A sucessão de governos social-democratas fez esses tributos dispararem”. Hoje, os economistas acreditam que o total de impostos chegue a 35 % do Produto Interno Bruto. Mas o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação, criador do Impostômetro, calcula que esse índice esteja em torno de 42%, número que está em sintonia com as estimativas de Mattar. O fundador da Localiza lamenta que a Constituição brasileira tenha sido promulgada em 1988, um ano antes da queda do muro de Berlim. “Fosse um ano depois, talvez tivéssemos a chance de redigir uma Carta mais sintonizada com as necessidades da iniciativa privada”, disse Mattar.