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Exame: país continua a evoluir apesar da pandemia e de governos, diz Esteves

O Brasil tem uma economia “vibrante e ativa” que continua a crescer e a se desenvolver apesar da pandemia do novo coronavírus e de governos “A ou B”, especialmente quando se analisa a evolução sob uma perspectiva de longo prazo. Essa foi uma das principais mensagens passadas por André Esteves, sócio sênior do BTG Pactual, no painel de encerramento do CEO Conference Brasil 2021.

Segundo Esteves, isso não significa que não haja desafios e ameaças pelo caminho. No ambiente doméstico, ele citou a necessidade de atacar o principal foco de insegurança para o setor privado, que a seu entender é a área tributária.

Defendeu a estratégia de fatiamento da reforma tributária em tramitação no Congresso e disse que não se opõe à taxação de dividendos, desde que isso seja feito no mínimo com a equivalente redução do imposto sobre as empresas.

No front externo, se disse preocupado com a estratégia do Federal Reserve de não retirar os estímulos monetários a despeito das pressões inflacionárias. Disse que entende que o Fed está cometendo um “erro grosseiro” e que teme um desarranjo na economia e no mercado que pode ter como gatilho justamente a alta dos preços.

O sócio sênior do BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME) foi entrevistado pelo jornalista William Waack, atualmente âncora na CNN Brasil. Leia a seguir os principais temas abordados no painel com Esteves:

Otimismo com o país

Waack abriu o último painel do CEO Conference Brasil 2021 questionando Esteves sobre o tom considerado otimista que ele havia adotado na véspera, justamente na abertura do evento de dois dias promovido pelo BTG Pactual (BPAC11).

“É bom olhar para o lado cheio do copo. É a visão do empreendedor: se não for assim, ele não vai adiante”, disse Esteves.

Ele voltou a reiterar sua avaliação de que, a despeito de governos “A ou B e da pandemia”, “nós, como sociedade, conseguimos aprovar reformas e avançar com privatizações nos últimos anos.”

Ele destacou que a riqueza de um país vem do trabalho dos brasileiros, de empreendedores e de empresas que estão no setor privado. “Foram falas direcionadas para a nossa sociedade.”

Esteves elogiou histórias empresariais de sucesso, citando “uma WEG, uma Natura, um Itaú”.

E fez questão de pontuar a diferença entre avaliar a fotografia e o filme, uma analogia comum a quem analisa a evolução a longo prazo, e não apenas a conjuntura. “O Brasil certamente evoluiu em 30 anos, aos trancos e barrancos, apesar de incertezas e de desperdícios de recursos. Vejo uma dinâmica parecida pelos próximos 30 anos”, afirmou Esteves.

O sócio sênior do BTG Pactual voltou a reiterar que o Brasil pode escolher o mesmo caminho dos Estados Unidos, da Alemanha, do Japão e da Inglaterra, países que alcançaram o estágio de desenvolvimento.

O contrapeso da política

“Por que estamos ainda falando de reforma administrativa ou até do Orçamento de 2020?” Questionado por Waack sobre o fato de o país ainda estar dedicado aos mesmos temas de reformas ou política fiscal há muitos anos, Esteves quis destacar o que chamou de “produtividade legislativa” do Congresso em meio à pandemia.

O sócio sênior do BTG disse que o Brasil apresenta seus sobressaltos, segundo ele, assim como outros países no mesmo estágio de desenvolvimento, como Rússia ou Turquia, mas disse considerar que, em geral, o país está à frente de outras nações emergentes.

Esteves afirmou que suas declarações na véspera com elogios às aprovações de medidas como a PEC Emergencial e a autonomia do Banco Central representaram um “certo reconhecimento ao Congresso pela direção à racionalidade”.

“Olhando a sequência de fatos, precisamos aplaudir quando há um pipeline de projetos e um avanço.”

Papel do setor privado

Questionado por Waack sobre se os empresários e os executivos das grandes empresas do país estão pressionando na medida certa o Congresso, Esteves afirmou que tem havido uma interlocução que ele avaliou como saudável.

“Vejo com muito bons olhos o diálogo do setor produtivo com o mundo político.” Segundo Esteves, é obrigação do setor privado levar ao mundo político as necessidades para o desenvolvimento do país e da economia. Por outro lado, ainda que o mundo político não entenda como funciona o setor privado, deve estar aberto a esse diálogo.

“A interação com o mundo político vai removendo os entraves e os preconceitos para o desenvolvimento”, defendeu o sócio sênior do BTG, ainda que nem tudo seja atendido. “Nós, como sociedade, andamos para a frente.”

Eleições de 2022

Segundo Esteves, as elites empresariais do país esperam que a racionalidade prevaleça na disputa eleitoral do próximo ano, ainda que os dois candidatos mais fortes, o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representem polos opostos no campo político.

“A eleição vai ser decidida ao centro, não necessariamente por um candidato de centro”, afirmou. Ele citou como candidatos potenciais do centro os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

“O centro vai ser determinante”, afirmou, citando números arredondados de 40% do eleitorado que não está alinhado nem à direita nem à esquerda. E disse esperar que qualquer candidato vitorioso assuma compromissos políticos e sociais.

“Será necessário um contrato social para chegar ao governo e para ficar lá de 2023 até os quatro anos seguintes.”

Risco de desarranjo nos EUA

Esteves avaliou o cenário e as perspectivas da economia americana, à luz do começo de mandato do presidente Joe Biden. Disse entender que o democrata foi levado a exercer um protagonismo maior que o que houve no governo de Barack Obama, do qual foi vice-presidente, em parte por causa do ambiente atual de forte polarização política.

Mas se demonstrou preocupado com o estágio atual da economia americana. “Estamos chegando perto de uma zona que pode causar um desconforto maior. A inflação pode ser um trigger [um gatilho] para uma grande confusão.”

Ele fez referência ao posicionamento do Federal Reserve (o Fed, banco central americano) de ficar atrás da curva dos juros, como se diz no mercado financeiro, ao avaliar a inflação como temporária e manter todos os estímulos monetários para a economia.

Esteves disse temer um “desarranjo na economia americana”. Afirmou que as probabilidades desse desarranjo se situam abaixo de 50%, mas devem ser consideradas com seriedade pelas autoridades dada a dimensão das potenciais consequências.

“Estamos cometendo um erro grosseiro na política [monetária] americana, pela falta de necessidade de fazer isso. Os Estados Unidos devem crescer 6%. E no governo Trump já estava crescendo 3%, gerando emprego e sem inflação.”

A inflação no Brasil

Ao ser questionado especificamente sobre a inflação no Brasil, Esteves pontuou que não é uma exclusividade brasileira, citando um “rali espetacular” nos preços de commodities, em que a soja, o milho, o boi, o ovo, o minério de ferro etc. estão em recordes históricos. E citou como fator ainda de pressão sobre o câmbio a desvalorização cambial significativa, com o salto nominal do dólar de 4,03 reais no início de 2020 para o atual patamar de 5,30 reais.

Questionado sobre o risco fiscal, Esteves afirmou que “estamos vivendo ainda uma pandemia” e, mesmo assim, os dados não serão tão negativos como as projeções apontavam. Ele citou o caso específico da relação dívida/PIB, que deve terminar o ano próximo do patamar de 85% a 90% do PIB, e não perto dos 100% estimados anteriormente.

Sua preocupação com o tema fiscal, no entanto, é de caráter estrutural. “Chegamos ao limite. Tirar os fantasmas é fácil. Mas mudar o framework [a estrutura] não é”, disse Esteves. Ele defendeu que existe a necessidade de esclarecer a relevância das medidas fiscais junto às principais lideranças políticas do país, e isso inclui o presidente da República.

Reforma tributária

Esteves disse ver com bons olhos a decisão de líderes do Congresso de “fatiar” a reforma tributária, ou seja, de encaminhar a tramitação de temas específicos, em vez de tudo em uma única proposta. Argumentou que existem muitos interesses legítimos e muitos conflitos a ser solucionados ao mesmo tempo. “É impossível resolver tudo ao mesmo tempo.”

“Não adianta ser ambicioso demais. É melhor caminhar aos poucos.”

Essa reforma, segundo ele, é necessária também diante de sua avaliação de que a insegurança tributária é a maior de todas para o setor privado. “O que está muito fora [na comparação do país com o mundo] é o contencioso tributário.”

Taxação de dividendos

O sócio sênior do BTG Pactual disse que é favorável à taxação de dividendos, desde que a medida seja adotada de forma concomitante à redução do imposto para as empresas, em magnitudes que tenham efeitos pelo menos equivalentes. Mas que o ideal é reduzir a carga tributária para estimular a geração de riqueza na sociedade.

“Vai subir um pouco mais o imposto do banco? O governo vai onerar a sociedade inteira. Tem de olhar o que é net (líquido). O caminho tem de ser o contrário, é preciso desonerar”, defendeu.

Ele lembrou o plano do governo Biden de elevar de 21% para 28% o imposto corporativo no país e comparou com a realidade no Brasil. “Como o empresário vai concorrer sendo cobrado em 34% em impostos?”, questionou Esteves, citando a alíquota de imposto de renda corporativo, isso sem mencionar outros tributos incidentes.

“Queremos [como país] tributar os dividendos e reduzir o imposto corporativo? Acho ótimo, o mundo vai nesse caminho. Vai tributar JCP? Não tem problema. Desde que a redução do imposto corporativo venha de forma equilibrada.”

Caso isso não aconteça, Esteves diz que o mercado vai dar a resposta, exportando investimento ou reduzindo seu dinamismo.

Estratégia comercial

No final do painel, que durou 1 hora, Esteves defendeu que o governo brasileiro adote uma postura de consenso com seus principais parceiros comerciais, e isso inclui as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China.

“O mundo vai sempre trazer desafios e oportunidades para o Brasil. Não devemos ser aliados incondicionais nem de ‘A’ nem de ‘B’. O Brasil tem o privilégio de não depender demais de nenhuma das grandes economias.”

“Precisamos agir com racionalidade e juízo [em questões geopolíticas e de comércio exterior]. É um trunfo da nossa sociedade”, afirmou.

Por Da Redação

Publicado originalmente em https://exame.com/brasil/pais-continua-a-evoluir-apesar-da-pandemia-e-de-governos-diz-esteves/

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