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Morre o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, aos 88 anos

Ex-secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores e embaixador do Brasil em Londres, Washington e Roma, o diplomata Paulo Tarso Flecha de Lima faleceu nesta segunda-feira, aos 88 anos. Ele estava hospitalizado em Brasília desde sábado (10), tratando de uma infecção urinária decorrente que problemas renais crônicos. A infecção evolui para uma septicemia que o vitimou.

Flecha de Lima encarnou tudo aquilo que o Itamaraty deixou de ser nos últimos anos. Aposentado do serviço diplomático desde 2001, ele possuía trânsito livre em círculos internacionais restritos. Além de reforçar os laços com Estados Unidos, Reino Unido e Itália, desde os anos 1970 ajudou a expandir o comércio exterior brasileiro com países árabes e estabeleceu parcerias com nações africanas há pouco independentes e interessadas em manufaturados e tecnologias agrícolas tropicais.

Mineiro de Belo Horizonte, veio de uma família ligada ao ex-presidente Juscelino Kubistchek e, aos 22 anos, era diplomata de carreira lotado na sede da Presidência, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Quando Brasília foi inaugurada, em abril de 1960, ele era oficial de gabinete de JK. Antes dos 28 anos já havia convivido com Jango, Tancredo Neves, Darcy Ribeiro, irmãos Villas-Boas, Paulo Freire de um lado, com José Sarney, Antônio Carlos Magalhães e Ernesto Geisel no espectro político oposto. Na ditadura, era seguidamente convocado pelo presidente Geisel, a quem classificou como alguém de difícil convívio, mas uma figura impressionante.

De Saddam a Lady Di
Sua missão mais delicada foi tirar, às vésperas da primeira Guerra do Golfo, cerca de 500 brasileiros retidos no Iraque, a maioria funcionários da empreiteira Mendes Junior. O ditador Saddam Hussein queria mantê-los como escudos humanos em instalações críticas para o país.

A ordem do governo era minimizar danos, liberando quem estivesse com visto de saída pronto. Desde o início Flecha de Lima foi por outro caminho. Falou diretamente com o ditador árabe e liberou todo mundo. Já aposentado, relatou o que Saddam lhe disse: “Olha, embaixador, a relação do Iraque com o Brasil é interessante porque vocês têm condições de oferecer a mesma cooperação econômica que países industrializados, mas não cobram o preço político”. Flecha de Lima representava com excelência o não alinhamento que tornou o Brasil diplomaticamente respeitado, antecipando o que anos depois seria chamado de exercício de soft power. “Estragaram as minhas férias no sul da França, mas em compensação consegui trazer os 500 brasileiros”, comentou.

Casado por 54 anos com a embaixatriz Lúcia Flecha de Lima – que morreu em abril de 2017 -, na residência do casal, em Nova York, recebiam Katherine Graham, a poderosa dona do jornal Washington Post, responsável por revelar o escândalo de Watergate, que derrubou Richard Nixon da presidência americana, e a princesa Diana. Amiga da embaixatriz, Lady Di circulava com o casal por Manhattan. Em outra ocasião, o embaixador passou um final de semana negociando com o presidente Bill Clinton na residência oficial de Camp David, algo que nem presidentes costumam conseguir. Sua saída de cena só reforça a necessidade do surgimento de novos quadros da mesma estirpe na diplomacia brasileira.

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