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Reflexões sobre o Dia dos Pais

No domingo, teremos mais um Dia dos Pais. E essa efeméride em especial tem um forte efeito sobre milhões de indivíduos que exercem a paternidade. Muitos passam por essa data apenas esperando um presente bacana e um almoço especial. Outros, no entanto, aproveitam a data para fazer um check-list sobre sua performance como pais.

Ao ouvir um debate radiofônico sobre o tema, passei a refletir sobre o pai que fui, que sou e aquele que poderei ser.

Meu primeiro filho nasceu quando eu tinha 34 anos. Naquela época, me considerava maduro o suficiente para ser pai. Mas logo que vi aquele bebê percebi que o caminho para ser um pai correto era difícil e tortuoso.

Hoje, percebo que a paternidade não é algo linear. Primeiro, o comportamento de um genitor varia de acordo com a idade em que seus filhos nascem. Pais jovens e inexperientes agem de forma diferente daqueles que têm filhos mais maduros.

Outra variável importante: meninos e meninas são diferentes. Não adianta agir da mesma forma com os dois. Quando minha filha tinha três anos, fez alguma arte e dei uma bronca igualzinha à que dava no irmão. Enquanto meu filho ouvia reprimenda e virava a página, minha filha começou a chorar imediatamente. Ao final, recebi um olhar de profunda mágoa e fui colocado na geladeira por dias a fio.

Percebi que as relações que se estabelecem são diferentes por vários motivos – o gênero das crianças é apenas um fator. Independentemente de serem meninos ou meninas, cada um tem sua personalidade e isso precisa ser levado em consideração.

Meu filho, por exemplo, é alguém que se cobra muito. Qualquer tipo de crítica é analisado cuidadosamente, especialmente se vinda do pai ou da mãe, e passa por um escrutínio totalmente racional – neste caso, o objetivo dele é resolver a parada. Minha filha, por sua vez, é temperamental e lida muito mal com desaprovações. Ela acelera de zero a cem em um segundo e reage intempestivamente – seu principal objetivo, eu percebo, é desabafar primeiro e encontrar uma solução depois.

Nesses últimos anos, percebo que ser pai não é uma função que se exerce no automático. É preciso dedicação e refletir sobre a personalidade dos infantes. O que serve para um, assim, não necessariamente servirá para o outro (não importa se homens ou mulheres).

Minha filha, por exemplo, aumenta a octanagem se eu reagir com irritação a alguma provocação dela. E não recua. Por alguns meses, esse comportamento me incomodou. Secretamente, eu pensava: “essa pirralha precisa me respeitar – existe uma hierarquia entre pai e filha”.

Mas acabei refletindo sobre esse tipo de atitude e conclui que passei a vida dela tentando estimulando a sua capacidade de argumentar – ao mesmo tempo que a ensinava a não se intimidar, desde que acreditasse em sua posição. Por isso, não poderia querer que ela fosse guerreira fora de casa e abaixasse a crista para mim.

Foi difícil chegar a essa conclusão, pois ela veio após várias brigas lastimáveis. Hoje, tento lidar com calma às provocações e perceber que ela precisa de apoio – não de um pai que brigue com ela em uma disputa de território familiar.

Esse tipo de conversa – um pai calmo falando com uma adolescente em chamas – não é simples. Procuro dar um tom de mentoria a esses colóquios, não de um tratamento condescendente. Mas confesso que preciso respirar fundo quando escuto um “você não vai entender”.

Minha filha tem 13 anos e meu filho tem 23. Aprendo com os dois a todo instante e eles me ensinam, cada um a seu modo, a ser um pai melhor. E me preocupo sobremaneira de não ter um destino semelhante ao da canção “Cats in the Cradle”, sucesso de Harry Chapin nos anos 1970. A música fala de um pai que não dá atenção a seu filho porque está sempre preocupado com o trabalho e seus afazeres. Mas o filho, naquela admiração infantil, diz: “I’m gonna be like you, dad/ You know I’m gonna be like you” – “Eu vou ser como você, pai/ Você sabe que eu serei igual a você”).

A canção Cats in the Cradle, de Harry Chapin, aqui na interpretação da banda Ugly Kid Joe

Quando o narrador está mais velho e procura o filho para bater um papo, ouve ao telefone que o rapaz está muito ocupado e não tem tempo para encontrá-lo. Chapin, então, arremata a história: “And as I hung up the phone, it occurred to me/ He’d grown up just like me/My boy was just like me” (“E quando eu desliguei o telefone, me ocorreu que/ ele cresceu igual a mim/ Meu filho ficou igual a mim”).

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Comentários

Uma resposta

  1. Meus parabéns antecipado. Amei suas palavras. Faz diferença, dez anos e sexos diferentes. Com sua inteligência, sabedoria e, sendo a pessoa que você é, que sua conheço, esses filhos tiveram a maior sorte, de ter VOCÊ como PAI. O domingo será todo seu.

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