Dias atrás, estava conversando com um grupo de amigos. Um deles levantou a tese de que existe demora para surgir um nome que represente a Terceira Via nas eleições presidenciais porque os candidatos não querem sofrer um bombardeio vindo dos apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais. Diante disso, perguntei: mas quem está se guardando para se lançar à presidência no ano que vem?
Um silêncio revelador preencheu a sala. O fato é que todos os nomes disponíveis já foram cogitados em algum momento – até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, chegou a ser levantado alguns meses atrás (e devidamente apupado nos palanques digitais). O mesmo ocorreu com Michel Temer, um ex-presidente bom de articulação política, mas muito ruim de voto.
No fundo, no fundo, quem tinha de se candidatar já o fez. Agora, estamos esperando apenas para ver quem fica de pé até 2022. Mas, antes de falar sobre o ano que vem, é bom lembrar o que ocorreu em 2018.
Desde o início do ano, tivermos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad liderando as pesquisas – com o petista na frente durante boa parte do tempo. Os analistas diziam: em algum momento, Bolsonaro derreterá e Geraldo Alckmin (a opção centrista com maiores chances) irá crescer, até chegar ao segundo turno contra o candidato do PT. O que se viu, no entanto, foi uma estagnação do tucano até o final da campanha. Bolsonaro se manteve no topo e derrotou Haddad através do voto eletrônico, o mesmo que agora critica. Alckmin ficou tão parado que perdeu a terceira colocação para Ciro Gomes.
Isso se repetirá em 2022? No que depender da vontade de Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, sim. As estratégias de ambos os candidatos passam pela polarização. Um aposta na rejeição do outro em um eventual segundo turno entre os dois.
A alimentação do discurso polarizado reforça essa possibilidade. As militâncias duelam nas redes digitais com ataques cada vez mais fortes, tentando amplificar a desaprovação dos oponentes. Apesar disso, é preciso registrar um fenômeno curioso: enquanto a militância bate impiedosamente em Bolsonaro, chama a atenção o comportamento de Lula, que se mantém mais quieto que o habitual.
Isso mostra que o PT reconhece o telhado de vidro que surgiu com os escândalos do Mensalão e Petrolão e deseja reservar os movimentos de Lula apenas quando a campanha começar de verdade. Neste aspecto, dois tópicos podem fazer diferença. O primeiro é a escolha do vice. Um empresário de alto perfil poderia reduzir a rejeição à figura de Lula, hoje ligada à esquerda (todos, porém, lembram que o mandato lulista, de 2003 a 2011, pouco teve de esquerdista – os bancos, por sinal, ganharam bastante dinheiro e a inflação foi controlada com a manutenção do tripé econômico). Outro ponto que poderia ganhar importância seria a reedição da Carta aos Brasileiros, divulgada em 2002 e garantindo a impossibilidade de uma aventura socialista no país. O problema é que esta nova missiva à sociedade brasileira teria de levantar um assunto incômodo: as acusações de corrupção que pesam sobre o PT. Sem uma promessa firme, acompanhada de um plano estratégico para evitar um festival de propinas sob uma possível administração petista, a candidatura de Lula pode ter problemas.
Bolsonaro, de seu lado, fica acenando constantemente ao seu grupo de apoio, com um discurso voltado às bases mais radicais. Seu objetivo é manter esses apoiadores aquecidos até a campanha e esperar que a rejeição à corrupção do PT no passado possa causar uma rejeição maciça a Lula no segundo turno. Além disso, o presidente aposta no crescimento econômico entre 2021 e 2022 para conseguir mais apoio. Essa performance econômica e o novo programa social, o Auxílio Brasil, poderiam reverter a queda de popularidade de Bolsonaro e turbinar suas chances no ano que vem, ao contrário dos prognósticos sugeridos pelas pesquisas realizadas agora. Por enquanto, os números são ruins para o mandatário. Em uma enquete feita pelo PoderData na semana passada, um entre cada cinco eleitores de Bolsonaro em 2018 deverá sufragar Lula no próximo pleito.
Há uma enorme possibilidade de os eleitores que anseiam por uma Terceira Via se dispersem entre as diversas candidaturas que vão da esquerda moderada à direita contida. Ciro Gomes deve largar em terceiro lugar e vai se esforçar para provar que não é um esquerdista disfarçado de político do Centro. João Doria tem grandes chances de obter sua indicação pelo PSDB, mas ainda precisa demover Eduardo Leite de suas intenções eleitorais para que o partido não chegue à campanha dividido. Luiz Henrique Mandetta é um nome que deve ficar pelo caminho, já que o DEM tem maior interesse em se associar a uma candidatura de porte do que partir para a disputa com um representante nanico.
Há dúvida em relação a dois nomes que compõem a segunda divisão eleitoral e, hoje, ocupam uma posição difusa – ninguém sabe ao certo o que eles vão fazer.
Um deles é o ex-ministro Sergio Moro, que já se lançou candidato, desistiu oficialmente e agora volta a conversar com partidos e apoiadores. Moro tem um bom recall, mas foi bastante atacado nas redes sociais e criticado por certas ações tomadas durante a Lava-Jato. Não terá muito espaço para crescer, pois sofre de rejeições maciças entre lulistas e bolsonaristas. Mas o destino de seus eleitores no segundo turno pode decidir a eleição. Esses apoiadores de Moro compõem a base dos “nem-nem”: nem Lula, nem Bolsonaro. A maioria destas pessoas, em um segundo turno polarizado, ficará em casa, anulará ou apertará a tecla do voto em branco.
Outro personagem é o apresentador José Luiz Datena (foto), da Band, que começa a ser colocado em algumas sondagens eleitorais. Segundo pesquisa da consultoria Quaest, feita com 1 500 pessoas entre 27 de julho e 1º de agosto, Lula teve 44 % das intenções de voto; Bolsonaro, 27%. E Datena surgiu em terceiro lugar, com dez pontos, empatado com Ciro Gomes. Apesar da estilo polêmico e um tanto agressivo diante das câmeras, Datena é tido como uma pessoa afável e divertida. Nos anos 1980, foi repórter esportivo da TV Globo, responsável por matérias originais e engraçadas. Reza a lenda que foi demitido por uma razão peculiar: subiu ao palanque com Lula em comício realizado na campanha de 1989.