Para o novo coronavírus ser controlado por imunidade de rebanho está comprovado que não basta um grande índice de infectados curados, já que as mutações podem ser reinfectantes. A solução adotada é a vacinação em massa. Só que o índice de 70% de plenamente imunizados preconizado de início não deve ser o suficiente para estancar a circulação da doença. Durante uma mesa de discussão na Jornada Nacional de Imunizações, ocorrida neste sábado (11), o infectologista Celso Granato, professor da Escola Paulista de Medicina, em São Paulo, e diretor clínico do Grupo Fleury, destacou que o vírus SARS-CoV-2 exigirá um percentual alto de população imunizada para ser epidemicamente contido.
Seu colega, Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor clínico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Rio de Janeiro, situa esse índice em até 90%. “Estabelecer imunidade de rebanho para um vírus que sofre mutação em transmissão respiratória é muito complexo”, avaliou. “Existe, para qualquer doença infecciosa, uma imunidade de rebanho, mas o nível é muito mais alto do que aquele que a gente imaginava, muito provavelmente 80%, 90%, algo muito mais próximo do sarampo do que de outras doenças menos infecciosas”, disse Chebabo.
A questão surgiu durante considerações sobre a real necessidade da terceira dose. Chebabo defende a aplicação para os mais frágeis ou expostos: “Ainda não estou convencido de que uma terceira dose vai ser necessária para toda a população. Neste momento, não tenho dúvida de que vai ser importante para a população com mais de 60 anos e imunossuprimidos. Para os demais, precisa de evidências, precisa de dados, para a gente poder tomar uma decisão melhor”. Ele acrescentou que essa dose poderia ser estendida aos profissionais de saúde para reduzir as infecções hospitalares e afastamentos do trabalho.
Para ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fantinato, o trabalho de planejar a campanha de imunização contra a covid-19 deixa lições, como a importância de um grupo assessor forte e disponível para discutir novas evidências e atualizações do Plano Nacional de Operacionalização de Vacinação contra a Covid-19, que já está em sua nona versão devido às constantes descobertas sobre a doença e as vacinas.