BRASÍLIA (Reuters) – O governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) registrou déficit primário de 24,828 bilhões de reais em março, pior dado para o mês na série histórica iniciada em 1997, afetado pela antecipação do pagamento de precatórios.
O rombo, divulgado nesta quarta-feira pelo Tesouro Nacional, também veio maior que o déficit de 14,3 bilhões de reais projetado para o mês por analistas, segundo pesquisa Reuters.
Segundo o Tesouro, o mês foi marcado pela antecipação do pagamento de 9,5 bilhões de reais em sentenças judiciais e precatórios. No ano passado, esse pagamento foi feito em maio e junho. Desta vez, se estenderá até abril.
“O Tesouro vai buscar… que essa despesa seja paga em torno de março e abril em todos os anos. O benefício disso para o governo federal são vários, a gente ganha com maior previsibilidade da gestão financeira”, disse o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.
“Não faz sentido a gente ficar com uma dívida que cresce, pagando juros, se a gente sabe que tem caixa para pagar o mais rápido possível aquela dívida.”
No total, a receita líquida do governo central caiu 0,6 por cento em março, na comparação com o mesmo mês do ano passado em termos reais, a 89,277 bilhões de reais.
Na véspera, a Receita Federal já tinha informado que a arrecadação federal seguiu no azul em março, mas com expressiva desaceleração em relação aos primeiros meses deste ano.
Por outro lado, as despesas avançaram 12,6 por cento na mesma base de comparação, a 114,104 bilhões de reais. O destaque, nesse caso, foi para a alta de 14,7 por cento nos benefícios previdenciários, a 49,581 bilhões de reais, num acréscimo de 6,357 bilhões de reais.
As despesas com pessoal e encargos sociais também subiram 18,4 por cento em março sobre um ano antes, ou 4,022 bilhões de reais, a 25,907 bilhões.
No mês, o rombo da Previdência foi de 20,127 bilhões de reais. Já Tesouro e BC tiveram juntos um déficit de 4,701 bilhões de reais.
No primeiro trimestre deste ano, o déficit do governo central somou 12,980 bilhões de reais, chegando a 119,5 bilhões de reais no acumulado em 12 meses.
O governo vem reiterando a viabilidade da meta fiscal deste ano, de déficit de 159 bilhões de reais, e o próprio mercado vê o objetivo sendo cumprido com folga de mais de 20 bilhões de reais, segundo relatório Prisma mais recente divulgado pela Fazenda.
Mas importantes medidas que dão sustentação a essa folga nas contas públicas, como a privatização da Eletrobras, parecem cada vez mais distantes de virar realidade. Isso porque demandam aprovação do Congresso Nacional, cuja atenção já está majoritariamente focada nas eleições deste ano.
(Por Marcela Ayres)