Depois dos abalos causados pela semana do 7 de setembro, veio a conta para o governo e para o Progressistas, o partido que dá sua grande sustentação a Bolsonaro. Com dificuldades de articulação, os líderes da legenda tiveram que engolir 12 vetos presidenciais derrubados pelos parlamentares só na segunda-feira (27), além dos novos que estão por vir esta semana. Antes de Bolsonaro, o maior número de vetos derrubados foi no governo de Michel Temer (MDB), com quatro. O que se apresenta é uma reação que desacelera a governabilidade
Cada Casa se comporta de um jeito. A Câmara presidida por Arthur Lira (PP-AL) presencia a ampliação das divisões, enquanto ele segura em sua gaveta mais de 100 pedidos impeachments contra o mandatário, além de projetos e votações adiados ou fatiados para evitar novas derrotas. Não se trata só de franca oposição. Há muito fogo amigo parlamentar envolvido, como indica simbolicamente a foto que ilustra esta reportagem. No Senado, o presidente Rodrigo Pacheco (DEM-MG) tenta se afastar do governo que o elegeu ao comando da Casa, escapando do perfil de conservadorismo liberal conciliador de seu partido.
Por isso, pautas tidas como eleitoreiras ou de interesse do governo obrigam o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, senador licenciado, a se desdobrar para articular em favor de Bolsonaro, mas seus antigos colegas não demonstram o mesmo entusiasmo – é a conta que chegou. O próprio líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), colocou o cargo à disposição desde a queda da minirreforma trabalhista. “Acordos não foram cumpridos”, afirmou ele na época, que se mantém onde estava.
Entre os 12 vetos está o que permite aos partidos se organizarem em federação pelo tempo mínimo de 4 anos e o que prevê repasses para ampliar o acesso das escolas públicas à internet de alta velocidade. A natureza eclética e pouco funcional das derrubadas indica que o clima é de contenção da governabilidade. Também foi adiada para esta quinta-feira (30) a votação de vetos relevantes, como o do dispositivo que mantém o emprego de fake news, a revogação de itens da Lei de Segurança Nacional (LSN) e da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Ainda restam agendar outros de peso, como os da privatização da Eletrobras, da quebra de patentes de vacinas e do acesso à quimioterapia oral por usuários de planos de saúde.