Após as investidas de teor golpistas do presidente Jair Bolsonaro (à direita) contra o Supremo Tribunal Federal (STF), uma postura conciliadora aos poucos toma forma com mimos institucionais e, claro, verbas. Esta semana, o chefe do Executivo criou o Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6), sediado em Belo Horizonte, que atuará exclusivamente com as demandas de Minas Gerais. Em discurso breve, Bolsonaro reiterou seu papel de padrinho e atribuiu o sucesso ao “lobby do pão de queijo”, se referindo aos senadores mineiros, incluindo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Na cerimônia, ocorrida em Brasília, estava o presidente do STF, Luiz Fux (à esquerda), que não aparecia ao lado de Bolsonaro desde a semana do 7 de setembro, quando fez um duro discurso em defesa da Corte e contra atos antidemocráticos. Na ocasião, o presidente disse que não cumpriria as ordens judiciais emitidas pelo ministro Alexandre de Moraes, que investiga seus aliados. Agora em fase paz e amor, Bolsonaro se referiu a Fux e ao ministro Kássio Nunes como “amigos do Poder Judiciário”, sem citar Moraes.
O recuou apaziguador incluiu um projeto de lei ao Congresso que prevê a abertura de crédito suplementar de R$ 83,8 milhões em favor das justiças Federal, Eleitoral e do Trabalho, além do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
O mais curioso é que R$ 46,5 milhões do crédito suplementar irão para a Justiça Eleitoral para custear as próximas eleições, aquelas que Bolsonaro dizia desconfiar por antecipação do resultado por causa das urnas eletrônicas. Desse dinheiro, a parte do eleitoral viria das despesas primárias previstas no teto de gastos, explicou a Secretaria-Geral da Presidência da República. Os outros R$ 37,3 milhões entrariam como gastos a mais que aumentariam ainda mais o déficit fiscal, podendo ser contingenciados em algum momento politicamente mais propício.
Essa mudança de postura é mérito do ex-presidente de Michel Temer, que em 9 de setembro saiu em socorro do mandatário, que estava sob pesadas críticas do mercado financeiro, do empresáriado, da imprensa internacional e do próprio Centrão. É preciso lembrar que a crise foi criada pelo próprio presidente.