A alta dos combustíveis devido ao câmbio elevado, inflação e a busca do governo federal por uma maneira de financiar o novo Bolsa Família/Auxílio Brasil criaram condições para o retorno da pauta da privatização da Petrobras. Em uma manobra que tenderia ao perspicaz, o governo e o Congresso estudam mudar a participação acionária na estatal, fazendo a União perder a maioria das ações.
Mas nem o presidente Jair Bolsonaro parece entusiasmado, já que ocorrerão constestações judiciais e a manobra poderia ser derrubada, fazendo recair sobre o Executivo até crimes de responsabilidade. “Quando falam em privatizar a Petrobras. Privatizar qualquer empresa não é, como alguns pensam. Pegar a empresa, botar na prateleira, amanhã quem dá mais leva embora é uma complicação enorme”, disse à Rádio Caçula FM, de Três Lagoas (MS). O presidente ainda relacionou o assunto à escalada dos preços de gasolina e diesel: “Ainda mais quando se fala em [preços de] combustível. Se você tirar do monopólio do estado e botar no monopólio particular, fica a mesma coisa ou até pior”, afirmou.
Em defensa da medida, Guedes explicou que o mundo caminha para a descarbonização de fontes de energia até 2050, por isso a privatização deveria ser feita logo ou a empresa valerá “zero daqui a 30 anos”. As intenções de mudar a participação societária da empresa fizeram a empresa subir na bolsa na segunda-feira (26). Apesar da euforia do mercado, analistas e negociadores agora pedem estudos sobre a venda das ações da União.
Golden share
O projeto criaria algumas condições especiais. O Palácio do Planalto ainda manteria a prerrogativa de indicar o presidente da estatal e de vetar algumas medidas tomadas pela companhia, sendo dotado de uma espécie de golden share, ação com poder de veto, típica das privatizações da década de 1990. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), confirmou à Reuters que há estudos sobre o tema, mas reiterou: “Primeiro precisamos avançar com os Correios.”