Após investir 100 milhões de reais em um complexo de pesquisa e produção no Paraná, a empresa que fabrica bactérias mira um faturamento de 1 bilhão de reais já em 2023
Proliferação de bactérias. Está frase para muitos não tem chance alguma de sinalizar boa coisa. Mas, no interior do Paraná, em Mandaguari, que fica entre as cidades de Londrina e Maringá, uma fábrica sui generis foi inaugurada na quinta-feira, 21, justamente, para proliferar bactérias. Trata-se de um complexo de produção e pesquisa da SuperBac, uma empresa brasileira de biotecnologia. Um negócio promissor, com chances de faturar 1 bilhão de reais nos próximos anos.
Para começar, primeiro, é preciso voltar brevemente no tempo. O ano é 1995, e o jovem paulistano Luiz Chacon, de 19 anos, trabalha com o pai, fornecedor de uma solução orgânica para limpar tubulações de óleo na indústria petroquímica. O produto, basicamente, era feito de microrganismos vivos, criados em laboratório, que podiam eliminar resíduos de tubulações de diversos setores. Eram bactérias que naturalmente “comem” a sujeira incrustrada e a transforma em água e gás carbônico, mas de forma canalizada. Com a constatação de que o uso dos seres vivos vendidos pela empresa do pai poderia ser ampliado para um n número de situações, quase como em um ‘momento Eureka!’ de Chacon, era criada a SuperBac.
De lá para cá, Chacon criou mais misturas de bactérias capazes de limpar resíduos químicos, aplicadas em fábricas de cosméticos, alimentos, oficinas mecânicas e na indústria de papel e celulose. Há também produtos vendidos na gôndola dos mercados para consumidores doméstico, como desentupidores de ralos e antiodores naturais para pets. Tamanha versatilidade, a empresa, com sede em Cotia, a 35 quilômetros da capital paulista, já se espalhou com outras unidades e centros de pesquisa nos Estados Unidos, na Colômbia, em Israel e em Cingapura, que servem como pontos de contato com clientes globais. A prioridade da biofábrica será a de suprir as necessidades do mercado brasileiro.
A nova biofábrica no Paraná é a fase final de um projeto iniciado em 2015, que contempla laboratórios e toda a estrutura de P&D, onde atuam cerca de 60 pesquisadores. Para sair do papel, e dos sonhos de Chacon, o complexo recebeu aportes de 100 milhões de dólares em investimentos, sendo metade desse montante destinado à construção da biofábrica. Nela, desde antes da inauguração, desenvolve-se um complexo ciclo de fermentação de bactérias, que vai da bioprospecção, que é a ação de selecionar o tipo de microrganismos, ao processo de desenvolvimento e elaboração do produto final em escala industrial. Ao final do ciclo, é possível produzir compostos líquidos e sólidos, numa capacidade produtiva de 50 mil litros de bioinsumo a cada 24 horas.
Uma das vantagens da planta é a de que ela foi idealizada para garantir flexibilidade de produção, podendo cultivar até três microrganismos diferentes ao mesmo tempo. De acordo com Giuliano Pauli, diretor de inovação da SuperBac, essa versatilidade e amplitude deve servir para atender uma enorme gama de empresas e indústrias, aliada a estrutura de vanguarda de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.
Ao olhar para o maquinário usado para o cultivo das bactérias, a primeira vista, é possível ver uma enorme estrutura de aço cromado. Trata-se, na verdade, de um revestimento térmico de quase 10 km de tubulações por onde os produtos circulam de forma hermética, e qual é higienizada automaticamente, sem a necessidade de pessoas para limpeza ou desmonte da planta a cada ciclo produtivo. Por este motivo, o de ser uma fábrica asséptica, há também a chance de atuar com fármacos e saúde e na elaboração de probióticos, metabólicos e até IFAs, os insumos utilizados para vacinas. “Estamos muito à frente em tecnologia na América Latina. Não existem concorrentes”, destaca Pauli. “Nossa unidade é mais capacitada que um antigo parceiro nosso que fica nos Estados Unidos. Sabemos bem do potencial criado aqui”, completa. O segmento agro até 2030, ocupará 40% da capacidade total da biofábrica, os outros 60% de sua capacidade serão alocados para atender todos os outros segmentos
Aliás, aposta em potencial tem sido um segredo para SuperBac, já que a empresa tem vivido nesta linha, esperando pelo seu grande momento, há anos. Tome-se, como exemplo, os percalços no início da empresa. Em 2002, quando ainda desenvolvia parte do portifólio de produtos hoje existente, potenciais distribuidores torciam o nariz para usar as bactéria, que na época, pereciam em questão de meses. A fim de remover a barreira, Chacon foi buscar respostas com a indústria de biotecnologia do Estados Unidos. Lá conheceu a Bio-Green Planet, uma das maiores fabricantes de produtos biotecnológicos do mercado americano, e na qual passou a terceirizar a produção com o acréscimo de uma inovação: tornar as bactérias em um produto sólido, por consequência, mais durável. Graças à parceria, e com a troca do prazo de validade do produto, que saltou para cinco anos, pode-se chegar em novos clientes, além de garantir a distribuição sem grandes preocupações com conservação.
Contudo, o faturamento da companhia, segundo estimou por alto o próprio CEO Chacon, até 2015 não passava da casa dos 20 milhões de reais. Era preciso ‘ter fé’, de novo, no potencial, como em todas as grandes boas inovações. Chacon acreditava em uma mudança de mentalidade de consumo, que com o passar do tempo pedisse por mais responsabilidade no uso de produtos químicos, e se voltasse para uma proposta mais sustentável. No segmento agro, por exemplo, as bactérias da SuperBac tornam possível utilizar menos fertilizantes químicos no campo, e substituir aplicações de defensivos químicos. Já em indústrias complexas como de óleo e gás, os bioprodutos são aplicados no tratamento de efluentes e resíduos, eliminando, de forma natural, grandes passivos ambientais. “Tínhamos uma visão ESG antes dela ser a ordem da vez. É com esta visão a frente do tempo que contamos para crescer”, diz.
E se o tempo era o segredo para ganhar tração, segundo Mozart Fogaça Júnior, vice-presidente da empresa, os próximos anos serão de bonança. O plano estratégico será o de manter uma meta agressiva de crescimento de 25% ao ano, pelos próximos dez anos. Aumentando a rentabilidade, a biofábrica tornará a empresa mais competitiva, eliminando a dependência do fornecimento externo e entraves como prazos de entrega e variação cambial. O receituário prevê, já em 2022, 1 bilhão de reais em faturamento — é uma enorme fatia de um mercado que movimenta cerca de 10 bilhões de reais por ano no Brasil. “Eu nunca soube se este negócio daria certo, mas ele é a realização de um sonho. Sei que é possível canalizar a natureza para trazer as melhores e mais sustentáveis soluções para os mais diversos setores da economia”, afirma Luiz Chacon.
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André Lopes
Publicado em: cutt.ly/ERDIPIP