A passagem do presidente Jair Bolsonaro pela reunião do G20, em Roma, foi um dos momentos mais embaraçosos na história das relações internacionais brasileiras. De início, ver o mandatário de máscara N95 até trouxe algum alento, mas logo depois vieram uma série de momentos canhestros. Presença barulhenta em pizzarias, comentários jocosos, empurrões em jornalistas, uma trombada em uma senhora, uma conversa insólita e um alienamento da realidade construído desde o início de seu mandato.
Depois de caminhar por Roma e visitar a Praça de São Pedro como turista (imagem), pois o papa Francisco não o recebeu no Vaticano, na noite de sábado o presidente do Brasil descuidadamente deu um pisão na chanceler alemã Angela Merkel, a mulher mais poderosa do mundo. “Ah, só podia ser você”, disse ela brincando. Horas antes, na presença de intérpretes, ele teria dito que não era tão mau quanto descrito pela imprensa. Esse foi o melhor momento do presidente brasileiro.
Prestes a deixar o cargo, a chanceler alemã preferiu deixar de lado a afirmação de 2019, quando Bolsonaro disse que o Brasil teria muito a ensinar a Alemanha sobre política ambiental. Nada mais errado. A Alemanha conta com partido Verde mais forte da Europa, tem leis e regulamentos inovadores, aboliu usinas nucleares, muda sua matriz energética para solar e eólica e capitaneia os esforços de redução das emissões dos gases de efeito estufa com forte participação industrial.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ignorou Bolsonaro. Tinha motivos. Durante a Assembleia Geral da ONU, há um mês, o brasileiro afirmou ter recebido um pedido “emergencial” de um produto alimentício não especificado que estaria em escassez no Reino Unido. Na mesma ocasião, disse que não se vacinaria, mesmo com o Ministério da Saúde que comanda produzindo localmente o imunizante da AstraZeneca, a vacina de Oxford. Depois, o presidente brasileiro citou um estudo que associaria vacinas com aids. As autoridades sanitárias britânicas negaram essa absurda correlação.
Já com o presidente francês, Emmanuel Macron, o constrangimento conseguiu ser maior. Bolsonaro fez comentários jocosos sobre a primeira-dama, Brigitte Macron, 25 anos mais velha que o marido. Cobrado pelo francês sobre o desmatamento na Amazônia, o brasileiro rebateu com ataques que culminaram com seu filho, o deputado Eduardo, chamando o francês de “idiota”. Neste domingo (31), ao final da cúpula, diplomaticamente Macron comentou que a relação entre França e Brasil “já foi melhor”.
Com os líderes da China, Xi Jinping, e dos Estados Unidos, Joe Biden, nem houve conversa. O Brasil foi a última democracia parceira dos EUA a reconhecer a eleição do novo presidente, a quem chamou de “John”. Apoiador de Trump, sugeriu que as eleições americanas poderiam ter sido fraudadas. Com a China, o histórico de ataques em redes sociais ao embaixador no Brasil, Yan Wanming, e o descrédito com a vacina adquirida e fabricada pelo governo paulista, a CoronaVac, já foram suficientes.
O momento mais constrangedor foi a conversa com o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom. Ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, Bolsonaro recebeu uma rápida e contraproducente aula sobre o vírus da covid. Quando Adhanonm disse que a vacina previne a doença em sua forma grave, o brasileiro comentou que se tratava “de uma grande interrogação”. Depois, criticou os passaportes de vacina e a imunização de crianças, em adoção entre quase todos os integrantes do G20, ignorando propositalmente que a OMS só passará a defender esses pontos quando a vacinação em países pobres estiver mais avançada, a fim de evitar desigualdades e preconceitos. Os brasileiros tentam convencer no vídeo que a OMS está com eles. Perto do final, sem constrangimento, o presidente comentou ser o “único chefe de estado do mundo que está sendo investigado” e que poderá parar no Tribunal Penal Internacional, em Haia. “Eu também. Vou com ele. Vamos passear”, disse o ministro Queiroga, rindo. Doutorado em saúde comunitária e especializado no combate à malária, Adhanom pouco respondeu. Ninguém citou os mais de 600 mil brasileiros vítimas da pandemia.
Respostas de 2
Lamentavel esta reportagem do Andre Vargas que esta com a síndrome do vira-lata, infelizmente. O que se quer ver é o que se vê. Seu relato destoa totalmente dos videos que estão em outras mídias. Felizmente as pessoas hoje podem ver ambos os lados e não ficar preso a uma mídia tendenciosa que viés politico.
As outras mídias só mostram o que o presidente quer, senhora. Bolsonaro é uma vergonha mundial e a senhora deveria ter vergonha de o defender.