Presidente disse que ex-ministro queria vaga no STF; que 04 jamais namorou filha de suspeito da morte de Marielle; que a PF era lenta; que há vazamentos à imprensa; que o porteiro do seu condomínio estava equivocado
Confira abaixo a íntegra do depoimento do presidente Jair Bolsonaro à Polícia Federal nesta quinta-feira (4), no âmbito da investigação da denúncia do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, de tentativa de interferência do chefe do Executivo nas ações da PF.
Por quais motivos pediu ao ex-ministro Sérgio Moro para que fosse trocado o Diretor-Geral da PF, Maurício Valeixo?
RESPOSTA: Que confirma que em meados de 2019 solicitou ao ex-ministro Sergio Moro a troca do diretor-geral da Polícia Federal, Valeixo, em razão da falta de interlocução que havia entre o presidente da República e o diretor da Polícia Federal; Que não havia qualquer insatisfação ou falta de confiança com o trabalho realizado pelo DPF Valeixo, apenas uma falha de interlocução; Que sugeriu ao ex-ministro Sergio Moro a nomeação do DPF Ramagem para a Direção-Geral; Que indicou o DPF Ramagem em razão da sua competência e confiança construída ao longo do trabalho de segurança pessoal do declarante durante a campanha eleitoral de 2018; que ao indicar o DPF Ramagem ao ex-ministro Sergio Moro, este teria concordado com o presidente desde que ocorresse após a indicação do ex-ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal; que conheceu o DPF Ramagem após o 1° turno quando ele assumiu a coordenação da segurança do então candidato Jair Bolsonaro: que salvo engano os filhos do declarante também conheceram Ramagem somente quando ele assumiu a segurança do declarante; que nunca teve como intenção, com a alteração da Direção-Geral, obter informações privilegiadas de investigações sigilosas ou de interferir no trabalho de Polícia Judiciária ou obtenção diretamente de relatórios produzidos pela Polícia Federal.
Na reunião de ministros do dia 22/04/2020, o presidente fez a seguinte declaração. O que quis dizer quando disse “eu tenho a PF que não me dá informações”?
RESPOSTA: Que o declarante quis dizer que não obtinha informações de forma ágil e eficiente dos órgãos do Poder Executivo, assim como da própria Polícia Federal; Que quando disse “informações” se referia a relatórios de inteligência sobre fatos que necessitava para a tomada de decisões e nunca informações sigilosas sobre investigações.
Conforme o ex-ministro Sérgio Moro, a motivações para a troca do DG/PF seria porque o Presidente “precisava de pessoas de sua confiança, para que pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência”. Confirma tais motivações?
RESPOSTA: Que, pelo seu entendimento, necessitava da mudança da Direção-Geral da Polícia Federal, como dito, para maior interação; que nunca obteve, de forma direta, relatórios de inteligência produzidos pela Polícia Federal; que perguntado se possui acesso ao Sisbin, coordenado pela Abin, disse que não; que muitas informações relevantes para a sua gestão chegavam primeiro através da imprensa, quando deveriam chegar ao seu conhecimento por meio do Serviço de Inteligência.
Nas mensagens contidas no celular do ex-Ministro Sérgio Moro, consta, em 23/04/2020, uma reportagem do site “O Antagonista”, intitulada “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”, encaminhada pelo Presidente ao ex-Ministro, seguida da mensagem “Mais um motivo para a troca”. Por que reforçou a necessidade da troca do DG/PF com a reportagem?
RESPOSTA: Que desconfiava que havia vazamento de informações sigilosas de investigações no âmbito da Polícia Federal para o site “O Antagonista“, revista “Crusoé” e outros meios de imprensa;
A troca do DG/PF seria motivada, também, por uma eventual falta de empenho da PF na investigação sobre a tentativa de assassinato contra o Presidente durante a campanha de 2018? Se reuniu com o delegdo responsável pela investigação?
RESPOSTA: Que cobrou do ex-ministro Sergio Moro uma investigação mais célere e objetiva sobre o atentado que sofreu; Que não observou nenhum empenho do ex-ministro Sergio Moro em solucionar o assunto; que houve uma apresentação do Delegado responsável pela investigação do atentado com a presença do ex-ministro Sergio Moro; que não fez nenhum tipo de pedido na direção da investigação ou qualquer outra interferência no andamento dos trabalhos.
A troca do DG/PF seria motivada, também, por uma eventual falta de empenho da PF na investigação que visou esclarecer as declarações do porteiro do condomínio da residência do Presidente, no Rio de Janeiro, o qual teria levantado falsas suspeitas do envolvimento do Presidente no assassinato da vereadora Marielle Franco?
RESPOSTA: Que também cobrou do ex-ministro Sergio Moro um maior empenho na investigação sobre as declarações do porteiro do condomínio da sua residência no Rio de Janeiro; que também não observou nenhum empenho ou preocupação do exministro Sergio Moro em solucionar rapidamente o caso; que soube pelo ex-ministro Sergio Moro que foi aberta uma investigação na Polícia Federal e que foi constatado um equívoco por parte do porteiro; que também foi divulgado na impressa que o filho do declarante, Renan, teria namorado a filha do ex-policial militar acusado pelo assassinato da vereadora Marielle; que posteriormente ficou esclarecido pelo próprio ex-ministro Sergio Moro que o ex-policial militar declarou que a sua filha nunca namorou o Renan, pois ela sempre morou nos Estados Unidos; que esse esclarecimento veio à tona em razão dos insistentes pedidos do declarante para o ex-ministro Sergio Moro em solucionar rapidamente o caso; que, portanto, não havia uma proatividade do ex-ministro Sergio Moro.
Por quais motivos, em agosto de 2019, pediu ao ex-Ministro Sérgio Moro para que fosse trocado o Superintendente Regional da PF no Ri? Sugeriu algum nome? Por quê? Qual o grau de amizade entre o Presidente e o substituto? Havia a intenção de obter informações de investigações sigilosas presididas na SR/PF/Ri ou de interferência?
RESPOSTA: Que confirma que a partir de agosto de 2019, sugeriu ao ex-ministro Sergio Moro a troca do Superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro; que sugeriu a mudança porque o Estado do Rio de Janeiro é muito complicado e entendia que necessitava de um Dirigente da Polícia Federal local com maior liberdade de trabalho; que não conheceu o então Superintendente Ricardo Saadi; que talvez o DPF Ricardo Saadi não tinha a completa independência para tomar as medidas necessárias para melhorar a gestão local; que , no primeiro momento, não sugeriu nenhum nome ao ex-ministro Sergio Moro para assumir a Superintendência do Rio de Janeiro; que posteriormente, em razão da resistência do ex-ministro Sergio Moro, sugeriu o nome de um Delegado para a Superintendência do Rio de Janeiro; que há uma vaga lembrança que esse nome seria o DPF Saraiva; que não se lembra quem indicou o nome do DPF Saraiva ao declarante; que no final de 2018 cogitou em indicar o DPF Saraiva como Ministro do Meio Ambiente; que não se lembra quem sugeriu o nome do DPF Saraiva; que, da mesma forma, nunca buscou obter informações privilegiadas de investigações sigilosas em andamento na SR-PF-RJ ou de interferir, seja na gestão local ou em investigações em andamento.
Conhecia o DPF Carlos Henrique Oliveira de Sousa, o qual sucedeu o DPF Ricardo Andrade Saadi como Superintendente da SR/PF/RJ? Se reuniu com o DPF Carlos Henrique após a indicação para a gestão da SR/PF/RJ? Por quê? Qual o teor da conversa?
RESPOSTA: Que conheceu o DPF Carlos Henrique em uma reunião ocorrida no Gabinete da Presidência quando ele foi indicado para assumir a Superintendência do Rio de Janeiro; que o propósito dessa reunião foi para conhecê-lo melhor, ou seja, para que o novo Superintendente de um dos Estados mais importantes da Federação fosse apresentado ao Presidente da República.
Em abril de 2020 houve uma nova troca com a exoneração do DPF Carlos Henrique como SR/PF/RJ. Foi o Presidente que sugeriu essa nova mudança?
RESPOSTA: Que não sugeriu a nova mudança na Superintendência no Rio de Janeiro, ocorrida em abril de 2020.
Soube, através do ex-ministro Gustavo Bebianno, de alguma investigação sigilosa em curso na SR/PF/RJ (Operação Furna da Onça) que teria como alvo Fabrício Queiroz, ex-assessor do Senador Flávio Bolsonaro? Como soube?
RESPOSTA: Que não soube previamente nada sobre a operação Furna da Onça, antes da sua deflagração; que todo assunto sobre essa operação, ficou sabendo através da impressa; que conheceu Paulo Marinho através de Gustavo Bebiano; que também nunca Paulo Marinho repassou ao declarante informações que ele [Paulo Marinho] teria recebido de um delegado de Polícia Federal da SR-PF-RJ sobre a Operação Furna da Onça.
Na reunião de Ministros do dia 22/04/2020, o Presidente fez a seguinte declaração quando disse “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui!”, se referia a troca do SR/PF/RJ?
RESPOSTA: Que há um pequeno núcleo do GSI sediado no Rio de Janeiro, responsável pela segurança do declarante e de sua família; que esse núcleo do GSI é formado por servidores lotados e alguns comissionados; que achava que esse trabalho poderia ser melhorado, principalmente no acompanhamento do seu filho Carlos Bolsonaro, residente no Rio de Janeiro; que portando, quando disse que queria trocar gente no Rio de Janeiro, referia-se a sua segurança pessoal e da sua família.
Por quais motivos pediu, em março de 2020, ao ex-Ministro Sérgio Moro para que fosse trocada a Superintendente Regional da PF em PE? Sugeriu algum nome? Por que essa pessoa? Qual o grau de amizade entre o Presidente e o substituto? Havia a intenção de obter informações de investigações sigilosas presididas na SR/PF/PE e/ou interferência nos trabalhos de polícia judiciária?
RESPOSTA: Que confirma que sugeriu ao ex-ministro Sergio Moro a mudança da Superintendente da PF de Pernambuco; que sugeriu essa mudança em razão da baixa produtividade local e pelo fato da então Superintendente ter, anteriormente, assumido o cargo de Secretária Estadual de Pernambuco, o que não daria a isenção necessária nos trabalhos locais; que jamais sugeriu a mudança da gestão local com o intuito de obter informações sigilosas de investigações ou de interferência de trabalhos de Polícia Judiciária.
O que entende por “interferência política” na PF? Interferiu na PF?
RESPOSTA: que entende como interferência política pedidos políticos e não técnicos de gestores de Órgãos Públicos com a intenção de haver influência política sobre os trabalhos desenvolvidos pelo árgão; que jamais teve qualquer intenção de interferência política na Polícia Federal quando sugeriu ao ex-ministro Sergio Moro a alteração na gestão da Direção-Geral ou em Superintendências Regionais. que quando convidou o ex-ministro Sergio Moro, assim para todos os demais ministros, para fazer parte de sua equipe concordou em “dar carta branca para que cada um montasse sua equipe e os órgão vinculados com os nomes que entendessem“, com poder de veto do declarante; que tanto foi assim que o ex-ministro Sergio Moro trouxe para o seu ministério os profissionais que ele teve contato em Curitiba-PR; que em determinado momento percebeu que o ex-ministro Sergio Moro estava administrando a pasta sem pensar no todo, sem alinhamento com os demais ministérios e o Gabinete da Presidência. que, por fim, gostaria de acrescentar que sempre respeitou e respeita a autonomia da Polícia Federal e que entende que mesmo com a alteração de dirigentes de unidades da PF, não é possível interferir nas investigações em razão do sistema penal brasileiro e na cultura organizacional enraizada na instituição; que perguntado se gostaria de acrescentaria algo, disse negativamente; que, passada a palavra aos advogados-gerais da união [AGU], não fizeram questionamentos; que registra-se que uma cópia deste termo foi entregue aos advogados da União.