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O que há de suspeito nos planos verdes dos sauditas

A busca dos países por diminuir suas emissões de carbono após o relatório do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas (ONU), iniciativa reforçada na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) que vai até 12 de novembro, e uma questão fundamental para guiar a mudança das matrizes energéticas. Nesse caminho há quem acredite que as propostas dos governos são tímidas e até duvidosas. É o caso da monarquia teocrática e ditatorial da Arábia Saudita. Antes da COP26, o príncipe herdeiro, Mohammad Bin Salman, anunciou os planos do país para a diminuição de suas emissões a zero até 2060. A ambiciosa meta esbarra na economia saudita, que tem na extração e exportação de petróleo e gás 90% de seu produto interno bruto. A vida do país é dominada pela estatal Saudi Aramco. O plano do príncipe herdeiro envolve usar tecnologias de captura de carbono e plantar 10 bilhões de árvores no deserto. Dinheiro sobrando há, só não se sabe como sustentar com emissões zero um país desértico, sem indústrias e com mais de 35 milhões de habitantes.

À jornalista Shirin Jaafari, do portal americano The World.org, Ellen Wald, autora do livro “Saudi, Inc.: The Arabian Kingdom’s Pursuit of Profit and Power” (sem tradução), afirmou que o prazo alongado até 2060 é propositalmente distante para evitar cobranças no futuro, pois os chefes de Estado até lá, não serão os mesmos. Ela explicou que os sauditas defendem uma abordagem propositalmente lenta para lidar com as mudanças climáticas pois precisam do dinheiro do petróleo para investir em energia limpa e de tempo para descobrir novas maneiras de administrar sua economia baseada em hidrocarbonetos. Tendo em vista isso, há outro plano em curso, o Visão 2030, que pretende diversificar a economia do país.

Em meio as sinalizações positivas, documentos vazados em outubro deste ano revelaram que os integrantes mais poderosos da dinasia Al Saud têm feito constante lobby para amenizar o relatório do IPCC. “A Arábia Saudita quer que os autores do documento excluam à necessidade de eliminar os combustíveis fósseis, bem como uma conclusão do IPCC [Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas] sobre a necessidade de ações de mitigação urgentes e aceleradas em todas as escalas”, diz o documento. Os sauditas são contra o uso da palavra “transformação” utilizada pelo IPCC para descrever os novos caminhos da redução das emissões. Outros países, como Argentina, Austrália, Japão e Brasil também tentaram influenciar determinadas diretrizes do IPCC, mas não de forma tão acintosa.

Por isso, a casa de Saud também aposta na continuidade da demanda internacional por petróleo. Enquanto as nações desenvolvidas tenderão a buscar alternativas sustentáveis, os sauditas querem manter o óleo e gás como as matrizes energéticas dos países em desenvolvimento e pobres. Plantar e regar bilhões de árvores com água dessalinizada enquanto fornecem combustível fóssil que vai virar CO2 na atmosfera alheia é uma estratégia de sobrevivência que também é vista como uma alternativa para os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Catar, Kuwait, Irã, Iraque e Omã. Só que estes também irão sofrer com as elevadas temperaturas que o IPCC alerta. Outros países menos ou nada aquinhados com petróleo, como Chade, Eritreia, Etiópia, Mali, Mauritânia, Níger, Somália, no Sahel africano, e Índia, Paquistão, na Ásia.

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