Por Anthony Boadle
BOA VISTA (Reuters) – A Força Aérea Brasileira (FAB) começou a transportar venezuelanos de avião de uma região de fronteira em Roraima para outras partes do Brasil, tentando acabar com uma crise humanitária ao passo que dezenas de milhares de imigrantes fogem do colapso econômico de seu país.
Nesta sexta-feira 233 venezuelanos embarcaram em um Boeing 767 rumo a Manaus e São Paulo, no terceiro voo realizado em um mês para reduzir a pressão sobre os serviços sociais de Roraima.
O governo do Brasil iniciou a operação liderada pelo Exército em março com um orçamento de 190 milhões de reais para controlar o fluxo de imigrantes, melhorar seus abrigos temporários e ajudar com a documentação para que eles possam seguir adiante e encontrar trabalho em cidades maiores.
Mas as levas de venezuelanos, desencadeadas pela fome e pela miséria, continuaram inalteradas, e centenas de imigrantes entram em solo brasileiro todos os dias pelo único posto de travessia terrestre formal entre as duas nações, de acordo com autoridades de Roraima.
Na capital, Boa Vista, cerca de 1.500 refugiados se abrigaram em uma praça batizada com o nome do herói da independência da Venezuela, Simón Bolívar, enfrentando chuvas tropicais em uma barraca lotada sem água, banheiros ou instalações para cozinhar.
“Novas medidas estão sendo tomadas para aliviar a situação, mas a crise humanitária continua”, disse Rosilene Santiago, superintendente da Polícia Federal em Roraima. “Basta ver o número de venezuelanos procurando trabalho nas ruas de Boa Vista.”
Os pedidos de asilo de venezuelanos em Roraima, que foram 3.800 em 2016, saltaram para 20 mil desde o início deste ano, quase superando os 22 mil pedidos de todo o ano de 2017.
A Polícia Federal disse que 92.656 venezuelanos entraram no Brasil entre 2017 e 2018. Metade deles seguiu adiante para países vizinhos em que se fala espanhol, como Argentina, mas muitos permaneceram em Boa Vista.
O general Eduardo Pazuello, que está coordenando a operação com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), disse que até 7 mil venezuelanos ainda precisam de assistência em Boa Vista.
Isabel Marquez, representante do Acnur, disse que o processamento de refugiados melhorou desde que o Exército se envolveu, mas alertou que a crise não terminou e que o fluxo de imigrantes pode crescer.
“A situação na Venezuela não está melhorando nada. Ela se deteriorou em muitos aspectos. As pessoas não estão recebendo alimento e nem todas têm acesso ao pouco que existe”, disse.
(Reportagem adicional de Ueslei Marcelino)