Projeto contou com 73 artistas do grafitti que realizaram 130 obras em casa prestes a ser demolida; artes serão eternizadas no blockchain por meio de NFTs
A efemeridade e a adaptabilidade sempre foram aspectos intrínsecos da arte urbana. E foi pensando nisso que Alexandre Travassos e Rodrigo Loli idealizaram o projeto da Casa NFT. Com inspirações no artista Banksy, que já triturou uma de suas obras mais famosas, “Girl with Balloon”, após uma venda milionária, e teve outra, “Morons”, queimada após ter sido transformada em NFT, surgiu a ideia de ressignificar a casa de mais de mil metros quadrados no Morumbi, bairro nobre da capital paulista, que já havia abrigado mais de dez pessoas, como uma espécie de último suspiro pouco antes de sua demolição.
“Um amigo de uma construtora me falou sobre a mansão que seria demolida para a criação de um condomínio de seis casas no Morumbi. Eu pedi para ver e fiz a proposta. No começo, queriam emprestar o espaço, mas preferi fazer negócio. A construtora ficará com 5% de cada obra vendida no futuro”, contou Travassos ao Estadão.
A casa recebeu 130 obras, que foram espalhadas em suas paredes, caixa d’água, telhado e piscina por 73 nomes da arte urbana como EDMX, TEF, Massive Mia e Mazola Marcnou. Ainda segundo os organizadores, foram disponibilizadas apenas as tintas e materiais aos artistas, que realizaram seus trabalhos artísticos por interesse no projeto.
“A experiência no local, não só comigo, mas com outros artistas também, foi com trabalhos diferentes em sintonia, conversando… Quando a gente se encontra tem toda uma troca de experiência entre os artistas, isso foi muito válido para esse projeto”, afirmou Mazola Marcnou em entrevista ao site ArtSoul.
Alguns artistas chegaram a utilizar elementos pré-existentes como papéis de parede e pastilhas para compor suas obras na casa, que possuía poucas regras: não incomodar os vizinhos e não encostar nas árvores (que são catalogadas). Os organizadores ainda seriam responsáveis por qualquer acidente.
A demolição da casa, ocorrida no final de agosto, não foi suficiente para apagar um trabalho artístico de tamanha magnitude. Todas as obras foram registradas e eternizadas no blockchain por meio de NFTs, os tokens não-fungíveis que podem representar digitalmente qualquer objeto do mundo real (entenda aqui como eles funcionam).
Travassos e Loli já haviam trabalhado com a tecnologia anteriormente, com foco no meio musical, quando decidiram embarcar no projeto da Casa NFT, que foi registrado por completo em uma página no Instagram e ainda não possui uma data para a comercialização das obras convertidas em NFTs.
Agora, a Gamboa, construtora responsável pelo imóvel, se demonstra interessada em ampliar sua participação no projeto e deve oferecer outras casas para a criação de galerias de arte temporárias no mundo real e eternas no blockchain, como foi a Casa NFT.
Quanto à efemeridade da arte, os artistas afirmam já estar acostumados, por conta de seu trabalho nas ruas: “Estou acostumado a pintar na rua. É uma arte efêmera que, às vezes, dura um dia. Já venho trabalhando o desapego”, afirmou EDMX ao Estadão.
Nesse sentido, o projeto da Casa NFT vai além e prova a função dos NFTs em tornar trabalhos artísticos mais adaptáveis e acessíveis no blockchain, processo que tem feito sucesso e gerado visibilidade e receita para diversos artistas. Travassos afirmou que “A destruição faz parte do processo. É o ciclo que precisa se fechar”. Em todo caso, as obras da Casa NFT sempre estarão disponíveis neste novo ciclo, agora dentro do universo digital.
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Por Mariana Maria Silva
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