Por Laís Martins
SÃO PAULO, 7 Mai (Reuters) – João Jesus dos Santos só teve tempo de retirar a família e alertar alguns vizinhos sobre o fogo no intervalo de tempo entre o início do incêndio e o momento em que o edifício Wilton Paes de Almeida desabou, no centro de São Paulo, deixando uma montanha de escombros e ao menos um morto.
Documentos, roupas e objetos se perderam nas chamas, assim como a carroça com a qual ganhava a vida como carroceiro.
“Além de perder a minha casa, perdi a carroça”, disse ele à Reuters diante dos escombros do prédio de 24 andares. “Era o meu ganha-pão, minha correria. Daqui para frente, só Deus sabe. Vou ter que lutar de novo, ninguém vai me dar.”
A mulher e os cinco filhos de João, de 52 anos, foram para uma outra ocupação após o desabamento ocorrido na madrugada de 1º de maio. Ele, no entanto, permanece acampado no Largo do Payssandu, onde ficava o prédio, enquanto bombeiros continuam trabalhando nos escombros.
O corpo da primeira vítima fatal do desabamento foi encontrado na sexta-feira, e os bombeiros consideram que ainda estão desaparecidos um casal e uma mãe com seus dois filhos gêmeos, o que pode elevar para seis o número de mortos na tragédia.
Histórias como a de João se repetem entre muitos moradores do prédio. Projetado há 60 anos e considerado um marco arquitetônico modernista da cidade, o edifício passou a ser ocupado por centenas de pessoas em busca de moradia há pelo menos cinco anos.
A dificuldade de recomeçar a vida fora dali é uma preocupação comum, uma vez que muitos perderam inclusive suas fontes de renda.
“Todo mundo sem saber para onde vai, até agora… Não tem esperança nenhuma, todo mundo abandonou a gente”, disse Suzana Santiago, que vivia na ocupação há quatro anos.
Além da tensão neste primeiro momento, Suzana preocupa-se com o que virá depois, temendo que muitos acabem voltando às ruas. “O governo só tira alguns dias da situação…e depois esquece”, contou. “Dá seis meses de auxílio-aluguel para fugir da mídia e aí depois a gente não tem como pagar. De novo na rua”.
Muitos moradores estão acampados a poucos metros do local onde ficava o prédio envidraçado, aguardando uma decisão da Prefeitura sobre o seu destino. A posição deles é de que não aceitarão ser encaminhados para abrigos.
“Eu só saio daqui para a minha casa. Para ficar em abrigo, eu prefiro ficar aqui, que é bem mais confiável”, disse Fabiana Ribeiro da Silva Santos, de 38 anos, que ocupava uma das moradias do primeiro andar do prédio há dois anos com seu marido, filha e neta.
Iago Vitor, de 16 anos, que morava com a mãe no Wilton Paes de Almeida, está dependendo da ajuda do governo para seguir em frente. Para ele e sua mãe, que viviam há um ano na ocupação, ir para um abrigo ou albergue do governo não é uma opção viável. “Albergue não dá, você já foi a um albergue para ver a situação?”, disse.
O Wilton Paes de Almeida abrigava uma das muitas ocupações da cidade de São Paulo.
Segundo os moradores, agentes da prefeitura estiveram no edifício há cerca de dois meses para realizar um cadastro com os moradores. A informação dada na época, dizem, era de que as autoridades buscariam um novo local para realocar as famílias, que passariam a receber um auxílio-aluguel.
No entanto, nada disso aconteceu.
Procurada pela Reuters, a Prefeitura de São Paulo confirmou que vinha negociando com os ocupantes do edifício. “Foram realizadas seis reuniões e oferecida bolsa-aluguel aos moradores”, disse a prefeitura por email.
(Reportagem adicional de Leonardo Benassatto e Paulo Whitaker)