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O calcanhar de Aquiles dos principais candidatos

As prévias do PSDB foram encerradas e deram fim à última dúvida que tínhamos sobre a campanha eleitoral – quem seria o candidato dos tucanos. Como se sabe, o governador João Doria sagrou-se vencedor do pleito interno e integra agora uma espécie de lista final dos nomes que devem concorrer para valer.

O presidente Jair Bolsonaro busca ser reconduzido ao cargo e abre essa relação. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também está lá. Doria, evidentemente, juntou-se à listagem. Sergio Moro também faz parte do rol de candidatos, assim como Ciro Gomes. Após esses nomes, temos outros nomes menos badalados, como o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e a senadora Simone Tebet. E, claro, os candidatos nanicos de plantão, que têm em José Maria Eyamael (dono de um dos jingles mais folclóricos e grudentos da história política brasileira) um de seus símbolos maiores.

Todos os candidatos têm seus pontos fracos – e , neste momento, estão preocupados em escrutinar suas fraquezas e trabalhá-las antes que a campanha comece para valer. Seus marqueteiros já encomendaram uma tonelada de pesquisas e sabem quais são os quesitos que precisam ser trabalhados. As pesquisas, diga-se de passagem, são o único instrumento que os políticos admitem analisar quando o tema é justamente algum fator que os desabonem. Mesmo assim, recentemente, um candidato entrou em conflito com sua equipe porque não concordava com os resultados das enquetes encomendadas por seu próprio partido.

Vamos restringir nossa discussão a apenas cinco candidatos que ponteiam as pesquisas e discutir quais é o calcanhar de Aquiles de cada um.

JAIR BOLSONARO – Há uma parcela razoável de eleitores que não conseguem suportar os arroubos verbais do presidente, assim como suas maneiras politicamente incorretas. Apesar disso, Bolsonaro conseguiu manter-se popular no início do governo, perdendo aprovação apenas durante a pandemia de Covid-19. Aqui teve início um de seus problemas: um discurso com toques negacionistas, com alfinetadas frequentes à vacinação (enquanto o Ministério da Saúde investiu bilhões no processo e acelerou a imunização entre os brasileiros). Isso provocou uma queda em sua popularidade. Mas a coisa ficou feia mesmo quando a economia mostrou sinais de estafa. A recuperação da atividade econômica não foi tão rápida e forte como se esperava e, além disso, a inflação começou mostrar teimosia. A alta do índice de preços corrói o poder aquisitivo e provoca grande preocupação entre os brasileiros, que prezam a estabilidade da moeda desde 1994. O ex-ministro Delfim Netto costumava dizer que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso – e com razão. Uma economia claudicante no ano de eleições é o pior pesadelo que Bolsonaro poderia ter. Daí sua insistência em criar um programa social que possa amealhar votos, apesar de trazer riscos ao controle fiscal do país. Aqui também mora um dilema: se houver aumento de juros para combater a espiral inflacionária, a economia pode pisar muito abruptamente no freio. Um verdadeiro dilema para os condutores da política econômica deste governo – que terá impacto direto na eleição de 2022.

LULA – É o líder nas pesquisas e parece ter apagado o passado recente, quando foi acusado de corrupção e preso pela Polícia Federal por mais de um ano. Com seu processo anulado pelo Supremo Tribunal Federal e de volta à estaca zero, Lula vai insistir na tecla de que é inocente (porém, o processo, que recomeça do zero, pode ainda condená-lo. Ou seja, ainda não se pode falar em inocência). Os adversários, no entanto, vão bater e bater pesado nessas acusações levantadas pela Lava-Jato. Mais que isso: há gente ligada ao PT que foi condenada independente do que aconteceu com o ex-presidente. Embora a Operação Lava-Jato seja mais ampla, a participação dos petistas no desvio de verbas da Petrobras é inquestionável, o que deve ser utilizado fortemente na campanha. Outro problema é a posição ambígua que Lula sempre usa ao falar de ditaduras de esquerda, como Cuba e Nicarágua. Recentemente, em entrevista ao jornal espanhol El País, Lula escorregou ao tentar defender o regime cubano e o ditador nicaraguense, Daniel Ortega. Esse ponto não tem exatamente apelo popular, mas pode colocar dúvidas no eleitorado de classe média.

MORO – Hoje, é dono isolado da terceira posição no ranking das intenções de voto. Entusiasma o eleitor que era fã da Lava-Jato e que considera a corrupção o maior problema do país. Mas o ex-juiz sabe que não pode ser eleito com um discurso voltado exclusivamente ao combate aos corruptos. Por isso, já teve inúmeros encontros com empresários e representantes do mercado financeiro. Todos que estiveram nessas reuniões e almoços gostaram do que ouviram – mas não estão totalmente convencidos de que baixou um liberal no ex-ministro. Ele terá de se esforçar mais para mostrar que esse abraço ao liberalismo não é uma atitude de ocasião. Além disso, apesar do investimento nos especialistas em fonoaudiologia, o ex-ministro ainda precisa melhor bastante a sua verve. Por fim, terá contra ele os eleitores que consideram nada imparcial sua atitude durante a Lava-Jato (outro tema que será discutido apenas nas classes média e alta). Por fim, Moro precisará traçar uma estratégia para trazer ao seu lado os simpatizantes de Lula caso vá ao segundo turno com Bolsonaro – também os eleitores de Bolsonaro caso disputar com o Lula a etapa final das eleições. Este será seu maior desafio.

CIRO – O ex-governador tem um eleitorado sólido, porém ainda restrito. Contava com a não participação de Sergio Moro para crescer nas pesquisas. Mas o ex-juiz resolveu entrar na corrida presidencial, o que fez reduzir um pouco suas intenções de voto. Do ponto de vista ideológico, Ciro é um tanto ambíguo. Ele tenta se apresentar como um candidato de centro, mas sua abordagem sobre a economia e outros temas parece ecoar propostas de esquerda – apesar de ter alguns economistas de cunho liberal em sua órbita. Por parecer um candidato de ideologia híbrida, Ciro corre o risco de amealhar mais descontentes com seu posicionamento político do que apoiadores. Terá o jornalista João Santana trabalhando em sua campanha, cujo desafio é fazê-lo mais popular na classe média do Sudeste e do Sul. Também precisa convencer os eleitores de que não é uma pessoa agressiva – apesar de todos os vídeos que circulam nas redes mostrando o ex-governador em momentos de descontrole emocional.

DORIA – O governador paulista conseguiu confirmar seu favoritismo nas prévias de seu partido e agora se organiza para disputar as eleições de 2022. Seus problemas? Ainda conta com uma rejeição razoável em seu estado e precisa reverter os efeitos negativos de suas decisões junto aos comerciantes da capital e do interior durante a pandemia. Muitos analistas acreditam também que ele precise tirar um pouco do verniz de seu comportamento, considerado elitista (no mês passado, perguntou, no interior da Paraíba, se alguém da plateia tinha ido a Dubai). Por fim, o governador precisa encontrar um nicho do eleitorado para trabalhar seu crescimento nas pesquisas. Por enquanto, seu apelo é mais forte entre tucanos e simpatizantes. Ele precisará escolher que bandeiras vai empunhar, sendo agressivo contra Lula e Bolsonaro – com o cuidado de poupar os demais candidatos da Terceira Via. Conseguirá fazer isso? Vai precisar, igualmente, encontrar outros assuntos fora do campo da vacinação. Precisará dar opiniões consistentes sobre os problemas econômicos da atualidade com uma linguagem simples e popular – e sabemos que falar a linguagem do povo não é exatamente a coisa mais fácil do mundo para Doria.

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