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Soberba, o grande perigo que ronda os políticos

O presidente Jair Bolsonaro é pródigo em criar pontes com o eleitorado cristão e passou boa parte de sua última campanha citando algumas passagens da Bíblia. Conforme a eleição de 2022 se aproxima, porém, seu comportamento pode incomodar aqueles que levam certos preceitos religiosos ao extremo. Ultimamente, por exemplo, ele mostra sinais de soberba, um dos sete pecados capitais. Nesta semana, ele criticou seu ex-ministro, Sergio Moro, desfazendo de sua capacidade de argumentação. O presidente disse, naquele cercadinho em que se reúne com os admiradores, que Moro “não aguenta 10 segundos de debate” (além disso, Bolsonaro também disse que o ex-juiz era “de esquerda”, apesar de ter colocado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia).

Pode-se criticar o ex-ministro sob vários aspectos. É possível apontar excessos na Operação Lava-Jato. Ou criticar sua capacidade de discursar (um processo que ele procura melhorar). Ou ainda acreditar que ele não está preparado para discorrer profundamente sobre temas como economia, saúde e educação. Mas estamos falando de um ex-juiz com 22 anos de experiência como magistrado. Achar que ele não tem condições para debater é menosprezar demais o adversário ou se exagerar nas próprias virtudes.

Meses atrás, Bolsonaro salientou que tinha dois diplomas universitário (o da Academia Militar de Agulhas Negras e de Educação Física pela Escola do Exército) e que seu principal adversário, Lula, era um “jumento”. O ex-presidente tem pouquíssimo estudo e frequentemente tropeça no português quando fala de improviso. Mas é reconhecido como um político inteligente e capaz de memorizar muita informação apenas ouvindo interlocutores.

Bolsonaro não é o único político a se valer da soberba e menosprezar seus adversários. No Brasil, praticamente todos os presidenciáveis já escorregaram para o campo da arrogância. E isso não é algo exclusivo da política brasileira. Nos anos 1990, o então presidente George Bush concorria à reeleição e tinha como oponente o então governador do Arkansas, Bill Clinton (seu companheiro de chapa era o congressista Al Gore). Num rompante de irritação, disse: “Minha cachorra Millie sabe mais de política externa do que esses dois palhaços”, referindo-se a Clinton e Gore. Bush continuou alfinetando Clinton durante toda a campanha. Como se sabe, perdeu as eleições.

Ridicularizar o adversário foi igualmente a estratégia utilizada por Donald Trump no último pleito americano. Desde que os democratas bateram o martelo pela candidatura do ex-vice Joe Biden, Trump começou a hostilizá-lo. Seu xingamento mais frequente era o de “Spleepy Joe” (“Joe Sonolento”), trocadinho com a expressão “sloopy joe”, que dá nome a um sanduíche de carne moída famoso nos Estados Unidos. De fato, Biden tem o costume de tirar sonecas públicas – como ocorreu recentemente em evento nas Nações Unidas. Mas, como se pode observar, a soberba de Trump não o levou a um novo período na Casa Branca.

Embora seja um pecado capital, a arrogância está sempre entre nós. E surge sorrateiramente, quando menos esperamos. Há pessoas que são arrogantes por natureza ou outras que se comportam assim depois de fazer sucesso. Mas a maioria das pessoas está em uma outra categoria – a do arrogante casual. Todos nós temos algum mecanismo particular que faz surgir essa característica. E, quando alguém aperta esse botão invisível, acabamos nos comportando com convencimento exagerado. Normalmente, nos arrependemos imediatamente quando isso ocorre. Mas o grande desafio é conseguir reprimir esse comportamento antes que ele ocorra.

Há quem, no entanto, goste da arrogância e a cultive. A designer de moda, Coco Chanel, por exemplo, era um poço de soberba e se orgulhava disso. “A arrogância está em tudo que faço. Está nos meus gestos, na dureza da minha voz, no brilho do meu olhar, no meu rosto anguloso e atormentado”, dizia ela.

Como Chanel, os artistas e profissionais que trabalham com criatividade estão mais propensos a desenvolver esse tipo de atitude. Têm consciência de seu talento e do efeito que seu trabalho provoca nas pessoas. E ainda convivem com um grupo bastante diminuto de gente – ou seja, a arrogância fica restrita ao seu universo particular.

Mas um político está sempre sob o olhar do eleitorado. Um tipo de atitude dessas acaba sendo aplaudida apenas pelos fãs incondicionais. Só que, no caso de Bolsonaro, ele enfrenta uma onda de rejeição muito forte e precisa dos eleitores de centro para vencer o próximo pleito. Agir de forma arrogante é a melhor forma de reduzir seus índices de desaprovação e cabalar novos votos? Definitivamente, não é.

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