Por Claudia Violante
SÃO PAULO (Reuters) – O cenário internacional continuou pesando no mercado nesta quarta-feira, fazendo o dólar fechar pelo terceiro dia seguido em alta e encostado no patamar de 3,60 reais, diante de temores de juros maiores e tensões geopolíticas envolvendo os Estados Unidos e o Irã.
O dólar avançou 0,74 por cento, a 3,5954 reais na venda, maior nível desde 31 de maio de 2016 (3,6123 reais). No mês, a moeda norte-americana já acumula alta de 2,62 por cento, depois de saltar 10 por cento entre fevereiro e abril.
Na máxima da sessão, o dólar foi a 3,6111 reais. O dólar futuro tinha alta de cerca de 0,80 por cento no final da tarde.
“Após a decisão dos EUA de abandonarem o acordo com o Irã, os mercados monitoram o comportamento do petróleo… que pode influenciar diretamente na inflação do país”, escreveu a Advanced Corretora.
Na véspera, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que seu país estava abandonando o acordo nuclear com o Irã, envolvendo sanções e alimentando temores de que a produção e exportação de petróleo iraniano possam ser afetadas e elevar os preços da commodity.
Esse movimento pode obrigar o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, a ser mais duro no atual ciclo de aperto monetário, atraindo recursos para o país provenientes de outros mercados mais arriscados, como o brasileiro.
O preço do petróleo subiu cerca de 3 por cento no mercado externo. Além disso, o rendimento dos Treasuries dos Estados Unidos de 10 anos estava em 3 por cento, nível que no começo do mês passado reacendeu os temores de mais juros pelo Fed.
O dólar no Brasil subiu mais do que frente a divisas de países emergentes nesta sessão por conta do chamado diferencial de juros, diante da expectativa de que o Banco Central brasileiro vai reduzir a Selic na próxima semana para nova mínima histórica, a 6,25 por cento ao ano.
E, diante de temores de que o Fed pode elevar mais os juros nos Estados Unidos, os investidores tendem a migrar para a maior economia do mundo atrás de rendimentos com baixíssimo risco.
Os pesos chileno e mexicano, por exemplo, eram negociados praticamente estáveis frente ao dólar.
“Acredito que se a moeda furar 3,60 reais, o BC voltará a atuar, porque se trata de um movimento especulativo”, afirmou o gerente de câmbio do grupo Ourominas, Mauriciano Cavalcante.
Neste mês, o BC entrou com mais força no mercado de câmbio. Pela quinta sessão, vendeu a oferta integral de até 8.900 contratos em swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares, rolando 2,225 bilhões de dólares do total de 5,650 bilhões de dólares que vence em junho.
Se mantiver e vender esse volume diário até o final do mês, o BC terá rolado integralmente os contratos que vencem no mês que vem e terá colocado o equivalente a 2,8 bilhões de dólares adicionais.
“O BC vai procurar evitar distorções de preços. Não acho que esteja preocupado com o nível de câmbio, mas com a volatilidade da moeda”, afirmou o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, para quem o nível de 3,60 reais não necessariamente levará a uma nova atuação do BC.