Tech expert que trabalhou no Facebook, Qualcomm, IBM, Ericsson, Dário Dal Piaz é fundador e CEO do marketplace MercadoOrganico.com
Em desenvolvimento há décadas em jogos e redes sociais com contornos e nomes diferentes, o metaverso ganhou notoriedade recentemente quando Mark Zuckerberg divulgou um vídeo extremamente bem produzido para anunciar que o Facebook passará a ter esse espaço virtual como elemento central de suas estratégias de crescimento para os próximos anos, ainda, para que isso se solidifique como um mantra para seus funcionários, clientes e parceiros, a empresa mãe do grupo, que tem o mesmo nome da rede social, deixaria de se chamar Facebook e passaria a se chamar Meta.
No mundo real, novas profissões serão demandadas pelo metaverso e outras ganharão ainda mais importância. No mercado de trabalho, é um daqueles momentos que se abre uma janela de oportunidade para quem está disposto a investir em novos conhecimentos, carreiras e adquirir novas habilidades que serão demandadas fortemente por empresas inovadoras, startups ou para montar o seu próprio negócio literalmente num novo universo, que se abre com infinitas possibilidades de negócios.
No metaverso usuários interagem por meio de avatares. Tá, isso parece conhecido, mas a novidade agora com o avanço do 5G, AI, tecnologias de renderização de imagens de alta resolução em escala, XR/VR, tecnologias em Cloud, blockchain e NFTs , novos processadores dedicados e até IoT, as possibilidades dos avatares são infinitas, dentro do mundo virtual e também na realidade mista, que reproduz sensações do mundo virtual de volta no mundo real. São muitas tecnologias pesadas e diferentes, interagindo com velocidade, precisão e sincronismo para que a interação entre avatares e o mundo virtual traga a imersão total de sensações para os usuários, que serão bilhões ou até trilhões, já que uma pessoa poderá viver em infinitos avatares!
Quase me esqueci, humanos de verdade vão ter de criar, desenhar, programar, executar, cuidar da segurança, qualidade, marketing e monetizar tudo isso! E isso vai exigir novos conhecimentos, habilidades e desenvolvimentos que existem e alguns outros que precisam ser desenvolvidos. E para criar tudo isso, o novo profissional do metaverso aparece. A lista pode ser longa, então resolvi destacar alguns desses profissionais chave, baseado nas experiencias que vivi dentro das empresas que trabalhei, muitas delas propulsoras do metaverso.
Estrategista
Um empreendedor, uma pessoa que está ligada no que o consumidor está buscando, consciente ou inconscientemente, nas possibilidades tecnológicas do metaverso de software, hardware, nuvem, blockchain, nas possibilidades de monetização presentes e futuros, no engajamento de parceiros tecnológicos para o desenvolvimento tecnológico, que seja capaz de gerir pessoas, direta e indiretamente, dentro e fora de uma organização formal e, principalmente, seja capaz de desenhar um caso de negócio atrativo, um caminho de evolução, sexy e que tenha sucesso mensurável.
Cientista de pesquisa
Tá, imagine que um mundo caiu no chão, quebrou todo em pedaços e você tem que organizar tudo de novo, já que se alguém for procurar algo, terá que achar rápido, fácil e ter a resposta organizada, limpa e já encadeada com tudo que já foi visto anteriormente por avatares similares e que está encadeada de alguma forma com isso. Sabe o chaveiro da Matrix, a chave (de busca) na mão para abrir a porta (insight) certa. O caminho para isso é por meio de bancos de dados não relacionais, AI, deep learning, visão computacional, computação gráfica e programação. Ele será cientista de dados que trabalha com dados multidimensionais em tempo real.
Strategic Partnerships & Ecosystem
Um ecossistema novo surge ao redor do metaverso, novas leis, novas relações com o estado, com organizações não-governamentais, grupos de usuários, com consumidores, parceiros estratégicos, fornecedores de tecnologia e insumos. Uma certeza: nenhuma empresa vai vencer sozinha no metaverso. Nesse sentido, uma área capaz de executar alianças estratégicas é chave para o sucesso. Um profissional de partnerships ou ecossistema é um maestro de uma filarmônica em que nem todos os instrumentos e suas possibilidades são conhecidas. Aqui falamos de um profissional de tecnologia das áreas de produtos, marketing, inovação, engenharia e desenvolvimento, que tem capacidade de gerir bem o desconhecido e um leque de relações com parceiros que são moldadas e renegociadas dia a dia.
Policy and Security
O mundo pode ser arriscado de viver, a internet pode ser perigosa para usar, mas o metaverso pode ser temerário para sua lucidez. No metaverso, a palavra segurança precisa ser levada às potências superiores. Segurança de dados, informações pessoais e financeiras são básicas, agora imagina alguém conhecer os seus hábitos de vida e suas várias variações dela, seus gatilhos de estímulos para comportamentos e tem isso mapeado de como influenciar suas decisões baseadas nessas informações. Dados valiosíssimos que precisam de profissionais não só experts em segurança da informação, mas que são capazes de definir e assegurar políticas de acesso e uso desses dados por parceiros, anunciantes, funcionários e sistemas internos.
Hardware
Não só óculos, mas estamos falando de gadgets e dispositivos que reproduzem no mundo real sensações, estímulos e experiências do metaverso, um mundo todo a parte, que minha cabeça pira de tantas possibilidades! Aqui a pessoa tem que fazer a ponte entre a neurociência, a psicologia, o conhecimento do corpo humano, seus pontos chave de estímulo e os ecossistemas de hardware, sensores, XR e VR. Reconhecendo os elementos chave da experiência do metaverso que merecem ser trazidas ao mundo real com precisão e harmonia.
Storyteller
O storyteller é o profissional que criará os elementos que conduzirão a imersão das pessoas no metaverso. Veja a diferença sutil de uma história bem contada para um espectador, para uma história construída com elementos que a pessoa se veja compelida a participar dela, seja por seus comportamentos e crenças do mundo real ou as dos seus avatares, que podem ser similares ou desconexos da realidade. É um profissional experiente em comportamento humano contemporâneo e digital da qual saem na frente antropólogos, psicólogos, estrategistas, militares, escritores, filósofos, historiadores, sociólogos e jornalistas.
Construtor de mundos
Aqui você imagina que trabalha na Marvel e um dia um diretor entra na sala e te propõe a criar um novo universo inter-relacional e interdependente, onde desde a história dos elementos coadjuvantes estão encadeados e conversam com os elementos principais, objetivando gerar permanência, engajamento, interação e sentimentos nos avatares. Saem na frente designers de games, animadores, gente que trabalha com 3D, realidades virtual e mista e, provocando, gente que entende ao menos das possibilidades de IoT.
Publicitário
A publicidade, o anúncio, o merchandising no metaverso vão ganhar olhares diferentes e possibilidades infinitas, não só pela segmentação, profundidade de exposição e possibilidades de ambientação, mas principalmente pela questão da monetização e criação de métricas que valorizem as oportunidades únicas do metaverso. Aqui é um mundo baseado em tecnologia e no velho visão, criação, codificação, teste e correção. Saem na frente os profissionais de growth hack, de anúncios de plataforma digital, de criação, de animação e de codificação.
A lista vai aumentar a cada dia à medida que conhecemos mais os desafios e as possibilidades de interação entre as novas tecnologias, mas em comum a todos esses profissionais está a multidisciplinaridade, a importância da formação humana aliada com o saber tecnológico, a capacidade de navegar em projetos pouco estruturados com alto grau de volatilidade e, principalmente, profissionais que encarem o fracasso como um passo por vezes necessário para a construção do sucesso. Por fim, nós de tecnologia as desenvolvemos para o bem das pessoas, mas às vezes involuntariamente causamos algum sofrimento pelo caminho. O profissional do metaverso é um profissional agressivo, mas que não pode se esquecer do bem-estar dos usuários como o final feliz esperado.
Uma resposta
Mais do que nunca, faltou nessa lista, engenheiros mecatrônicos, de controle e automação, ciência da computação!