Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

Palácio dos Bandeirantes, o prêmio ignorado

O Brasil pode ser visto como o país dos presidentes por acasos, a democracia dos mandatários de ocasião. Esta hipótese pode ser comprovada na história recente desde antes da redemocratização, com o relutante general João Figueiredo e o vice por vias indiretas de Tancredo Neves, José Sarney, que se viu circunstancialmente com a faixa presidencial no peito. Depois tivemos os vices Itamar e Temer. Também houve FHC, o senador e ministro que até o sucesso do Plano Cruzado/Ricúpero almejava no máximo o glamouroso posto de titular do Itamaraty. Collor e Bolsonaro também entram nessa conta como vencedores de oportunidade, cacifados pelas intensas rejeições aos adversários de segundo turno – os petistas Lula e Haddad, respectivamente. Já Dilma é o oposto, pois foi só continuísmo, ungida a partir de mera ministra tecnocrática – deu no que deu, convém lembrar. Desses todos, só Lula insistiu. Acumulou três derrotas seguidas até levar duas eleições e fazer duas vezes sua sucessora. Há muitos que garantem que a reeleição de Dilma foi uma imposição dela – de novo, deu no que deu.

Agora Lula, com suas condenações anuladas e seus julgamentos em vias de serem reiniciados do zero, lidera as pesquisas de intenção de voto à presidência. Sem contar que seu índice de rejeição é menor que o do atual mandatário. Um mérito mais devido ao modo como Bolsonaro e seu governo lidam com as adversidades do que por qualquer presunção de inocência do petista – redundantemente, sendo ele culpado ou não. É preciso lembrar que diante da falta de perspectivas, é natural que o eleitorado se volte à bonança passada mais imediata. Na esteira da estagnação dos governos Dilma/Temer, Bolsonaro até usou de tal argumento. “Na ditadura é que era bom”, proclamaram seus apoiadores, esquecendo que o ex-capitão se tornou político justamente discordando da política salarial dos militares durante o governo Sarney. É incrível, mas Lula e Bolsonaro são de passado classista, ainda que só o primeiro admita, mas o segundo seja mais eficiente, preservando os fardados da reforma da Previdência.

Para tentar voltar ao poder, Lula articula uma até há pouco improvável chapa com Geraldo Alckmin, um ex-tucano que esteve por três vezes e meia no Palácio dos Bandeirantes e que lhe foi feroz opositor. E é justamente aí que está a jogada dupla. Lula ganhou Alckmin a partir do desprezo de Doria. Já dizia o escritor Rubem Braga que não há nada mais longevo que ciúmes entre homens [héteros, ao que parece]. Alckmin com Lula seriam a prova cabal das uniões que o rancor é capaz de gerar. Sem contar que Bolsonaro deixou o tucano desprezado lhe escorrer entre os dedos sem fazer o menor esforço. Um erro a ser somado.

Este cenário ganha mais nitidez diante das ambições presidenciais de Doria e Moro, que poderiam se alternar fazendo sombras ao PT nas esferas federal e paulista – principalmente nesta última. Como esta possibilidade anda reduzida, Lula e Alckmin poderiam compor uma operação de adição ao Palácio da Planalto e uma outra, quase ignorada, de subtração aos Bandeirantes. Com Doria e Moro disputando os mesmo votos dos desiludidos com Bolsonaro, o Sapo Lula e o Chuchu Geraldo podem ter margem de manobra para cooptar os alckmistas do interior e os tucanos preteridos por Doria, pavimentando também o caminho para o governo de São Paulo com uma eventual vitória da candidatura de Fernando Haddad com Márcio França de vice. E é esse o prêmio suculento ignorado pelos fominhas do poder.

Como quase todas as atenções estão no caminho para Brasília, e com Doria queimando pontes com boa parte do tucanato nacional, Alckmin pode encontrar nos braços de seu antigo maior adversário as grandes chances de voltar a ter relevância. Para o mais paciente dos anestesistas da política, renascer como discreto vice de um Lula presidente seria como retornar ao conforto do ninho, como quando foi vice de Mário Covas, seu mentor. A partir do segundo gabinete do Planalto, Geraldo poderia subir ao andar superior em 2027 ou tentar voltar ao endereço que ocupou por mais tempo em sua vida adulta, os Bandeirantes.

Se concretizada do jeito que parece estar, seria uma amarração com grande chances de dar ao PT o estado mais rico do país, a joia da coroa federativa. Um prêmio político só alcançável por falta de outros pretendentes qualificados. Se Doria queimou a viaduto que cruzou para chegar da prefeitura ao governo estadual, para Alckmin só restou avançar, construindo uma ponte de enorme vão livre em direção à esquerda. Seria uma obra de engenharia política que para funcionar exigiria um exercício de convívio político sem precedentes em São Paulo.

Nem tudo nessa narrativa é exatamente genialidade por parte do petista-mor. É preciso lembrar que em 2018, não foi possível ao PT lançar uma chapa em busca de mais votos. Haddad concorreu à presidência ao lado de Manuela d’Ávila, do PCdoB. Foi um desejo de Lula, que incapaz de articular à direita como bem fez nos pleitos anteriores, abriu mão de criar uma vaga tentativa de frente ampla para enfrentar Bolsonaro. Os resultados são bem conhecidos. Outro ponto importante a ser pesado para 2026 seria o afastamento de Lula de Guilherme Boulos (PSOL), que concentra parte do eleitorado raiz da esquerda. Boulos, é preciso lembrar, foi um defensor ferrenho de Lula, enquanto Alckmin o chamava de ladrão. Ou seja, as articulações exigirão cérebro e fígado de todos. E ainda por cima será preciso combinar direitinho com os eleitores.

Compartilhe

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.