Assim como qualquer empresa que se preze, crescer é primordial (receita, clientes, lucros), um caminho natural para se manter vivo e saudável. No caso da Meta, controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, que combinadas detêm quase 5 bilhões de usuários, a busca parece infinita. O Facebook é a maior rede social do mundo, com quase 3 bi de usuários, mas seu criador, Mark Zuckerberg (imagem), quer mais antecipando o futuro.
Diferente de meus chefes de MONEY REPORT e talvez até da maioria dos leitores, sou da geração 2000 (nascida em 1995) e cheguei ao Facebook aos 12 anos – antes disso, navegava na horrível internet discada da casa da minha mãe após a meia-noite ou frequentava as não tão saudosas e barulhentas lan houses, fazendo qualquer outra coisa na internet ou jogava meus joguinhos de CD-ROM. Também faço parte do final da geração TV, era vidrada na Cultura e na MTV.
Então, quando o Facebook apareceu, adolescentes com pouco traquejo social como eu faziam amigos virtuais, criavam fakes de personagens de filmes e se aventuravam em comunidades e grupos – um mundo bem mais interessante que o colégio. Conforme crescíamos postávamos nossas vidas e o Facebook, por duas décadas, experimentou a ascensão e nos algoritmizou (faculdade, consumo, trabalho, viagens, casamento, primeiro filho, separação, divórcio, recomeços, luto, comida favorita, gosto musical, posicionamento político). Ninguém sabe melhor sobre nós que os dados guardados nos bancos de inteligência artificial de Zuckerbeg e sócios. Agora, ele se adiantou: seus usuários não são mais tão jovens e ele tem informações de sobra sobre o mundo real. O Facebook se tornou malvisto por promover bolhas de ódio e desinformação. No início de 2021, a invasão do Capitólio escancarou essa discussão nos Estados Unidos.
A partir desse processo, vem o Metaverso (uma camada de metadados sobre a realidade), um passo audacioso que busca criar um novo tecido diferente do mundo analógico. Ali, o usuário acessa, controla e desliga – e quem dita as regras são as big techs. E isso pode virar em milhares de negócios? Não há momento mais propício para pensar em uma vida alternativa do que o pior momento da nossa geração, a pandemia. Além da tragédia, passamos pelo menos dois anos quase isolados. Ter a possibilidade de promover escapes sanitariamente seguros para tentar contornar a solidão enquanto governos e laboratórios lutam contra as variantes me parece excelente. Além disso, reuniões e treinamento de equipes por videoconferências ficariam interativas. É o retorno às aglomerações por meio de encontros virtuais, shows e baladas. Para as marcas é simples, anúncios dentro da nova realidade, como já ocorre no game Fortnite (à direita).
O que Zuckerberg quer?
O ramo do fundador do Facebook são redes sociais e acho difícil que ele busque migrar para os games de aventura. A Microsoft ao comprar a Blizzard fará isso. Zuckerberg sabe que o mais rentável é o social, ainda que pareça menos óbvio. É nossa característica como espécie. Projetando que a pandemia está longe de acabar de vez, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma, o melhor canalizador para atrair dinheiro é oferecer um meio seguro e “tangível” de interação, algo que chegue o mais perto possível do nosso velho normal. Talvez sua equipe até analise a oportunidade para recriar jogos que emulam a vida, como The Sims (2000) e Second Life (2003). Mas certamente há muito mais que joguinhos envolvidos.
A internet não se resume ao surface (acessos públicos, como sites e aplicativos facilmente encontrados nas pesquisas). Existe um lugar mais denso e com conteúdo ilegal onde são veiculadas pornografia infantil, tráfico de remédios de uso controlado, de drogas, documentos falsificados e muito discurso de ódio. O que pode transbordar desse esgoto preocupa. Com alguma atenção e menos anseio, esse futuro que chega para combater a solidão de bilhões também poderá virar para multidões um daqueles episódios incomodamente distópicos da série Black Mirror. Prefiro pensar que estou exagerando.