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Enciclopédia Barsa: onde os gênios se encontraram

Coleções como a Barsa estavam para os jovens do passado como o Google está para a juventude atual

Na primeira metade da década de 1960, criou-se uma obra que era desejada por todos os estudantes até o início dos anos 1980: a enciclopédia Barsa. Editada sob supervisão da Encyclopedia Britannica, a Barsa ocupava um local de importância nas estantes da classe média brasileira e era sinônimo de requinte intelectual.

Somente ontem descobri que a redação desta coleção foi resultado do esforço concentrado de 268 intelectuais e cientistas. A maioria dessas mentes brilhantes era formada por desconhecidos. Mas, há entre os autores nomes ilustres da intelectualidade brasileira. Alguns deles: Alceu de Amoroso Lima, Aurélio Buarque de Hollanda, Austregésilo de Athayde, Jorge Amado, Odylo Costa, Filho (o nome deste escritor é mesmo grafado com uma vírgula entre “Costa” e “Filho”), Otto Maria Carpeaux, Oscar Niemeyer, Paulo Francis e Rachel de Queiroz.

O mérito de Antonio Callado

O mérito de juntar tantos exemplos ilustres? De seu coordenador, o jornalista, escritor e dramaturgo Antonio Callado. Com grande trânsito entre a nata intelectual do Rio de Janeiro dos anos 1960, ele conseguiu formar um time imbatível, com verbetes informativos e muito bem escritos.

Sem querer desmerecer os novos talentos da atualidade, o brilhantismo do grupo de autores da Barsa dificilmente será superado por qualquer iniciativa do futuro – e é reflexo de uma efervescência cultural que produziu, no Rio de Janeiro, verdadeiras obras-primas na literatura, arquitetura, artes plásticas e música.

Ler a Barsa, para mim, era sinônimo de lição de casa em minha adolescência. Mas agora, na maturidade, virou uma atividade de puro prazer. Tanto que carreguei minha coleção para a estante de meu escritório, para poder consultá-la durante o trabalho. A Barsa, para um adolescente da década de 1980, tinha o mesmo papel que o Google desempenha hoje para a juventude — ou seja, se não estava na Barsa, simplesmente não era alguma coisa de fato importante.

Conhecer, a concorrente da Editora Abril

O sucesso da Barsa levou a Abril a lançar uma concorrente – a Conhecer, através de fascículos vendidos nas bancas de jornal. Apenas na década de 1970 é que essa enciclopédia seria colocada no mercado em volumes encadernados. Embora não tivesse a elegância da Barsa, a Conhecer também era muito bem editada e contava com muitas ilustrações e fotografias coloridas. Minha mãe comprou essa coleção no portão de casa, convencida por um vendedor que tocou a campainha (para quem vive nas grandes cidades do século 21, uma situação dessas é inimaginável).

Enciclopédias como Barsa e Conhecer fizeram a alegria de garotos curiosos como eu, que adorava ler e reler páginas sobre qualquer assunto. Boa parte de meu repertório veio dessa fonte, especialmente os tópicos que são uma verdadeira ode à cultura inútil.

O escritor Jorge Luís Borges disse que “o homem que compra uma enciclopédia não apenas adquire cada linha, parágrafo, páginas e todas as ilustração; ele compra a possibilidade de se tornar familiar com um pouco de seu conteúdo”. É exatamente como me sinto hoje, décadas de pois de ter lido tanto a Barsa como a Conhecer em suas versões originais.

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