Grandes produtores de trigo, os dois países representam quase 30% do mercado exportador da commodity
O aumento das tensões entre Rússia e Ucrânia pode ter reflexos na economia mundial. Na sexta-feira (10) o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu, em entrevista a um canal de televisão, para que os cidadãos americanos deixem a Ucrânia imediatamente. O secretário de Estado, Antony Blinken, enfatizou que a Rússia pode invadir a vizinha a “qualquer momento”.
Ainda que o mercado não acredite que um conflito entre os dois países possa de fato ocorrer, as movimentações de tropas russas na fronteira ucraniana levam a uma escalada de incertezas, que prejudicam o comércio na região. Com a economia dos dois países baseada em commodities, as movimentações lá impactam também o Brasil. Grandes produtores de trigo, os dois países representam quase 30% do mercado exportador da commodity, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
O Brasil não tem compras relevantes com a Rússia ou mesmo com a Ucrânia, mas mudanças de oferta do grão podem elevar os preços e refletir em toda a cadeia, culminando no aumento do quanto se paga no pãozinho francês na padaria mais próxima da sua casa.
“A Rússia é quem determina o preço do trigo do mundo e corresponde a 18% de toda a exportação mundial. Uma mudança no Mar Negro também pode alterar as movimentações das exportações de outros países da região. Tudo isso leva a uma subida de preços. E o trigo é um grão para alimentação humana, e tem ligação direta com a cadeira de produção de outros alimentos, como óleo vegetal”, explica Roberto Sandoli, gerente sênior de risco de grãos e algodão da consultoria HedgePoint Global Markets.
O analista ainda destaca que o Brasil compra trigo da Argentina, mas como o valor do grão é cotado internacionalmente, os preços no nosso vizinho também pode ficar mais caro, pressionando o produto internamente.
“Os aumentos que já ocorreram recentemente no trigo foram segurados pelos moinhos no Brasil. Como a economia não deslancha, tudo fica travado. Mas em um cenário em que o preço começa a ficar muito alto, haverá um repasse ao consumidor. Se vier a acontecer vai ser bem trágico para a economia brasileira”, diz Sandoli.
André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, lembra também que uma possível invasão russa não vai necessariamente afetar fortemente o Brasil logo no início.
“O preço do petróleo pode subir o que irá criar incentivos para alta de empresas como Petrobras, segurando nossa bolsa. O problema maior para o Brasil em relação ao conflito seria num segundo momento com as sanções uma vez que mais de 30% dos fertilizantes importados pelo país vêm da Rússia”, diz.
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Por Gilson Garrett Jr
Publicado originalmente em: https://cutt.ly/dPeiR3Y