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Outro passeio inútil

Bolsonaro diz que “levou paz” à Rússia – e por tabela à Ucrânia -, mas sua missão apenas resultou em mais vácuo diplomático ao se colocar ao lado de dirigentes sem aliados

Não é de hoje que o presidente Jair Bolsonaro (PL) coleciona gafes e faz de sua agenda um manual do que não fazer nas relações internacionais. O mandatário volta ao Brasil após compromisso oficial à convite do presidente russo, Vladimir Putin, na tentativa (ou não) de sair de seu limbo internacional. Foi um jogo de cena. O brasileiro também ajudou o autoritário presidente russo, que se encontra ainda mais isolado por causa das tensões militares na fronteira da Ucrânia por causa da intenção do vizinho seu juntar ao bloco militar ocidental, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

A agenda comercial da visita abordou fertilizantes e assuntos agrícolas, porém, nada foi decidido. Bolsonaro saiu do Kremlin dizendo que “estava em uma missão de paz”, mas seu esforço serviu, no máximo, para acalmar as queixas russas sobre a carne brasileira, que volta e meia sofre embargos russos, o que sempre obriga alguma renegociação. Bolsonaro também citou a dependência brasileira em fertilizantes. Um equívoco, já que Canadá, Noruega e Estados Unidos também vendem ao Brasil. A cobertura da imprensa internacional ignorou Bolsonaro. The New York Times, Washington Post, Financial Times, The Guardian, BBC, The Times e The Economist se concentram na crise com a Ucrânia.

União Soviética

Daí piora. Bolsonaro falou em colaboração militar. O Brasil é aliado preferencial extra-Otan dos Estados Unidos e, em um momento que a tensão militar aumenta entre ambos, o ex-capitão sorri para o principal oponente do nosso maior aliado. E não há razão alguma para tanto. Brasil faz uso somente de dois equipamentos russos: mísseis anti-helicóptero de curto alcance e helicópteros de ataque. Além desses, o restante vem dos EUA, Suécia, França, Reino Unido e Alemanha. Em nada a Rússia melhoraria a capacidade militar brasileira, a não ser, talvez, em drones de ataque. O resto está disponível com melhor assistência técnica ou pode ser fabricado aqui.

Mesmo que Putin e Rússia não sejam mais comunistas, há no país uma exaltação ao combate ao fascismo pela União Soviética na Segunda Guerra Mundial, por lá chamada de Grande Guerra Patriótica. De extrema direita, Bolsonaro ignorou esse detalhe formador do caráter nacional do país que visitou. Tanto que os historiadores contemporâneos russos citam a vitória contra o nazismo “com Stalin” e “apesar de Stalin”, assassino e paranoico dirigente totalitário comunista entre 1922 e 1953. Depois, o presidente brasileiro voou para a Hungria para encontrar seu aliado, o premiê Victor Orbán, com quem comunga o ideário de extrema direita. Pouco depois de desembarcar em Budapeste, outro mico. A Rússia e Venezuela, dirigida pelo autoritário de esquerda Nicolás Maduro, anunciaram um acordo de cooperação militar de verdade melhora.

À extrema direita

Ainda na Hungria, a imprensa local fez questão de citar o posicionamento antivacina de Bolsonaro. Ele, por sua vez, insinuou que poderia ter contribuído para a saída de tropas russas da fronteira com a Ucrânia, apaziguando uma possível guerra. Uma balela. O que Putin quer é manter a Ucrânia longe da Otan para que os sistemas de mísseis ocidentais não fiquem tão perto de Moscou. Ele também quer manter a influência sobre vizinho, que concentra uma substancial população etnicamente russa.

De Budapeste, Bolsonaro desembarca direto no Rio de Janeiro para sobrevoar a região de Petrópolis, atingida pelas chuvas e desmoronamentos que causaram a morte de mais de 100 pessoas.

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