A eleição presidencial e a de São Paulo ainda estão abertas
Cientistas políticos tarimbados como Cila Schulmann e Murillo de Aragão disseram na semana passada a MONEY REPORT: a eleição presidencial continua aberta. Embora Luiz Inácio Lula da Silva tivesse uma forte liderança nas intenções de voto, o presidente Jair Bolsonaro iria crescer inevitavelmente nos próximos meses. A pesquisa do site Poder 360, divulgada no dia 16, mostrou exatamente isso. É preciso ainda ver se essa tendência será confirmada pelos outros estudos – mas o PT já entendeu o recado dado pelo recente crescimento de Bolsonaro e prepara ações para fortalecer seu candidato.
Lula sofre o desgaste natural dos líderes de pesquisas eleitorais: é bombardeado pelos demais postulantes. Ao mesmo tempo, a fase mais aguda da inflação parece ter ficado para trás – e isso é bom para a situação, que também colhe os frutos de ser responsável por um programa social turbinado. As críticas de economistas e empresários ao governo, por ter elevado o risco fiscal do país, não são levadas em conta pelo cidadão comum. O resultado disso é um crescimento natural da candidatura do presidente da República.
Há duas grandes dúvidas no ar. A primeira: Lula chegou ao seu teto? A segunda: Bolsonaro pode crescer mais?
O poder da economia
Ainda existem indecisos, que flutuam entre 10% e 15%, dependendo da pesquisa. E também há aqueles que desejam a Terceira Via, hoje dividida entre vários nomes. Em um segundo turno, esses eleitores terão de fazer uma escolha entre os dois líderes das enquetes. Estes dois grupos irão definir o pleito, ou pelo voto ou pela abstenção. Se os mais conservadores decidirem não votar, por exemplo, podem estar entregando a vitória ao PT. Neste caso, tudo vai depender do grau de rejeição de Bolsonaro no segundo semestre (a de Lula subiu um pouco, mas continua razoavelmente baixa).
O resultado será fortemente influenciado pela performance econômica do Brasil – e as perspectivas não são exatamente animadoras. O boletim Focus, do Banco Central, que compila a média das expectativas do mercado financeiro, aponta um crescimento de 0,29% no Produto Interno Bruto para 2022. Ao mesmo tempo, faz uma previsão para a cotação do dólar de R$ 5,60. Esse número é maior que o valor negociado recentemente no mercado, em torno de R$ 5,15. Ou seja, os operadores esperam por mais turbulências. E, nos dias de hoje, a consequência direta do dólar alto é uma inflação anabolizada.
Portanto, o otimismo do Palácio do Planalto, que acredita em uma virada das pesquisas em junho, deve ser relativizado. Repetindo o que disseram os especialistas ouvidos por MONEY REPORT: a eleição está aberta.
Haddad, França, Tarcísio e Garcia
Outra pesquisa que sacudiu a comunidade política na semana passada, essa elaborada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), foi sobre a sucessão em São Paulo. Vários cenários foram pesquisados, mas um deles chama a atenção: Fernando Haddad lidera a corrida eleitoral com 28 %, seguido de Marcio França com 18 %, Guilherme Boulos (11%), Tarcísio Freitas (10%) e Rodrigo Garcia (5%). Isso comprova definitivamente que a saída de Geraldo Alckmin do páreo pelo Palácio dos Bandeirantes mudou o cenário de vez.
Ainda é preciso saber se França será mesmo candidato ou sairá da disputa em função de um eventual acordo entre PSB e PT. De qualquer forma, dois nomes se destacam nessa pesquisa – Tarcísio e Garcia. A desistência de Alckmin deixou os eleitores do interior e uma parcela dos mais conservadores da capital sem candidato. São eleitores com grandes possibilidades de despejar seus votos no ministro da Infraestrutura ou no vice-governador de São Paulo.
Quando a campanha pegar fogo, Tarcísio será apoiado pelo governo federal e Garcia deverá ser o governador em exercício. Estar aboletado no Bandeirantes não é exatamente uma garantia de vitória (França, por exemplo, era o governador em exercício em 2018 e perdeu), mas é uma enorme vantagem competitiva.
Portanto, o segundo turno deverá ser decidido entre Haddad e um candidato mais conservador. Neste momento, entra em campo a força do eleitor que está no interior de São Paulo. São cerca de 9 milhões de eleitores na capital e 24 milhões no interior. Essa discrepância explica o fato de o PT nunca ter levado o governo do estado, pois o eleitorado interiorano teria rejeição a uma proposta política mais esquerdista.
Quem será o oponente de Haddad? Tarcísio Freitas ou Rodrigo Garcia? Façam suas apostas.
O que MONEY REPORT publicou