Por Luc Cohen e Vivian Sequera
CARACAS (Reuters) – O presidente Nicolás Maduro ordenou nesta terça-feira a expulsão do diplomata norte-americano mais graduado na Venezuela em retaliação a uma nova leva de sanções provocada pela eleição amplamente rejeitada do país sul-americano.
Os Estados Unidos são um de diversos países que não reconheceram a votação de domingo.
O sucessor de 55 anos de Hugo Chávez se reelegeu com facilidade, mas críticos disseram que a votação foi repleta de irregularidades, desde o veto à participação dos dois rivais opositores mais populares ao oferecimento de um “prêmio” do governo aos eleitores.
O presidente dos EUA, Donald Trump, reagiu com um decreto que limita a capacidade de Caracas para vender ativos do Estado, aumentando a pressão sobre o governo já carente de dinheiro.
Acusando o encarregado de negócios norte-americano Todd Robinson de estar envolvido em uma “conspiração militar”, Maduro ordenou que ele e outro diplomata veterano, Brian Naranjo, partam dentro de 48 horas.
Ele não deu detalhes das acusações, mas disse que a embaixada dos EUA vem interferindo em questões militares, econômicas e políticas e prometeu apresentar provas à nação em breve.
“Nem com conspirações nem com sanções vocês segurarão a Venezuela”, disse Maduro em um evento na sede da comissão eleitoral, que é comandada por simpatizantes do governo, no centro de Caracas.
O Departamento de Estado norte-americano disse rejeitar as alegações de Maduro feitas contra os diplomatas expulsos.
“CRIME CONTRA HUMANIDADE”
Mais cedo nesta terça-feira, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano classificou as sanções como “um crime contra a humanidade”. A gestão socialista de Maduro, que há tempos acusa uma “guerra econômica” liderada por Washington pela crise profunda no país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), disse que as novas sanções violam a lei internacional.
“A Venezuela volta a condenar a campanha sistemática de agressão e hostilidade do regime dos EUA para punir o povo venezuelano por exercer seu direito de voto”, disse a chancelaria em um comunicado. “Estas medidas arbitrárias e unilaterais constituem um crime contra a humanidade”.
De acordo com o ministro do Comércio da Venezuela, José Vielma, as sanções recentes terão um efeito “mais sério” sobre o sistema financeiro, mas disse que o país sul-americano continuará a exportar combustível e petróleo aos EUA apesar das relações bilaterais cada vez mais hostis.
A oposição da Venezuela acusa o governo Maduro de se comportar de forma imoral e de tentar ocultar a escassez e a corrupção por trás de uma retórica bombástica. A principal coalizão opositora boicotou a votação de domingo, que qualificou como uma farsa criada para legitimar o controle de Maduro a despeito de sua baixa popularidade.
Maduro, cujo segundo mandato começa em janeiro próximo, obteve 68 por cento dos votos, mas o comparecimento foi de menos de 50 por cento – em 2013 a cifra foi de 80 por cento.
O ex-governador estadual Henri Falcón, que rompeu com o boicote para concorrer contra Maduro, disse ter recebido relatos de centenas de irregularidades.
(Reportagem adicional de Deisy Buitrago e Andrew Cawthorne em Caracas, Ben Blanchard em Pequim e Robin Emmott em Bruxelas)