Compra levanta divertidos e profundos debates sobre o impacto do maior bilionário do planeta na praça pública da rede social
“Ainda pode falar mal do Musk no Twitter?”. A pergunta feita logo após as 16 horas desta segunda-feira (25) em um post na rede social resume as dúvidas sobre o que Elon Musk quer, afinal. Dono de uma fortuna de US$ 173 bilhões e de 82 milhões de seguidores no Twitter, Musk fechou a aquisição da rede por US$ 44 bilhões.
O Exame In recorreu à própria rede social para elencar alguns dos principais questionamentos sobre o peso do negócio para o debate público, dos mais prosaicos aos mais profundos. Meia hora após o negócio vir a público já havia mais de 1 milhão de tuítes sobre “Elon Musk”. Em minutos, o sul-africano virou trending topic da própria empresa de mídia.
Musk já afirmou reiteradas vezes, inclusive num tuíte feito hoje, que quer manter seus piores críticos no Twitter, porque “isso é o que é a liberdade de expressão”. A mensagem foi compartilhada por muitos políticos, inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Uma das mais urgentes questões é sobre outro político, o ex-presidente americano Donald Trump. O novo dono vai permitir que Trump volte à rede da qual foi banido em janeiro de 2021 após a invasão do Capitólio. Um post com a foto de Trump e um “I’m back, thank you Elon” viralizou minutos após o anúncio oficial desta segunda-feira. A posição de Musk sobre a liberdade de discurso em pautas que potencialmente incitem violência, racismo e outros crimes também movimentou a rede nos últimos dias.
Scott Galloway, professor na Universidade de Nova York, e um dos mais influentes pensadores de Wall Street, tuitou poucas horas antes da confirmação do negócio. “Inteligência é a habilidade de manter dois pensamentos antagônicos em sua cabeça ao mesmo tempo. Elon é o maior empreendedor de sua geração. Ele provavelmente vai fazer mais mal do que bem com o Twitter”.
Galloway linka em seu comentário um texto escrito em seu site no dia 22. Nele, afirma acreditar que “Elon será um garoto-propaganda do potencial de corrupção do poder”. Um exemplo “catastrófico” do risco de uma praça pública ficar sob controle de uma só pessoa, segundo Galloway, está no Facebook de Mark Zuckerberg.
O que sabemos sobre poder, destaca Galloway, não tem relação com o histórico de uma pessoa ou sua inteligência moral. “O poder é um agente de mudança psicológica que faz você agir erraticamente”. Ao defender a liberdade, Musk permitiria, pergunta o estudioso, o assassinato ao vivo de um pet no Twitter Spaces?
O argumento de liberdade de expressão é apenas uma distração para uma pergunta maior, finaliza Galloway: podem poucos indivíduos terem tanto poder a ponto comprar ou extinguir companhias como o Twitter?
Em um campo mais, digamos, cotidiano, a propalada defesa de Musk da liberdade foi tema de inúmeros outros tuítes hoje. Chico Barney, colunista do Uol, questionou: “Se és tão fã da liberdade de expressão, Elon Musk… Pq ainda temos esse limite de 280 caracteres por tweet?”.
Os limites da liberdade e o acúmulo de poder serão temas de intensos debates nos próximos dias. No Twitter, por enquanto, apenas de 280 em 280 caracteres.
_______________________________________
Por Lucas Amorim
Publicado originalmente em: https://cutt.ly/TGkBI8z