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Empresários que não querem ligar para o governo: isso é bom ou ruim?

Na segunda-feira, a Aya Initiative, uma parceria entre o empresário Alex Allard e a ex-secretária do governo paulista, Patrícia Ellen, realizou o evento Ambição 2030 em conjunto com a Organização das Nações Unidas (ONU). A intenção desta investida é buscar recursos para que o Brasil consiga fazer um upgrade em suas ações ambientais e se torne um líder mundial neste setor.

No evento, que reuniu cerca de 300 empresários e líderes de diversas organizações sociais, percebeu-se um sentimento entre os representantes da iniciativa privada: não se pode mais esperar o governo se mexer. As empresas precisam se unir para estabelecer metas, buscar verbas e provocar mudanças que levarão o Brasil à modernidade.

Esse sentimento não é restrito apenas às questões ligadas ao meio ambiente. Trata-se de uma intenção que ultrapassa aos barreiras da sigla ESG e que deve chegar a outras questões sociais, ampliando a participação do empresariado na solução dos problemas brasileiros. Inúmeros dirigentes empresariais, na última noite de segunda-feira, foram bastante claros: nosso país está flertando com o caos e pouco faz para evitar algumas catástrofes anunciadas.

Trata-se de uma sensação que, aos poucos, pode se tornar uma convicção – achar que não se pode contar com o governo para provocar as verdadeiras mudanças que nossa sociedade necessita. É como o escritor Mark Twain (imagem) costumava dizer: “Essa é a diferença entre governos e indivíduos: governos não se importam com ninguém; os indivíduos se importam”.

De um lado, isso é uma notícia boa. Empresas privadas podem criar iniciativas que tragam eficiência para áreas que hoje são apenas cobertas pelo Estado, aproveitando técnicas de gestão utilizadas em outros setores para buscar novas soluções para problemas antigos. Isso deve tirar muitos empresários da zona de conforto, na qual só se malha o governo, e jogá-los diante de novos desafios – os de consertar necessidades crônicas de nosso país.

Porém, nem todos homens e mulheres de negócios estão em uma fase na qual podem dispor de seu tempo para pensar no futuro do país. Inúmeros estão buscando ainda desbravar a mata selvagem da concorrência e pouco podem contribuir nessa hora (mesmo em relação àqueles que têm condições de dedicar tempo e dinheiro no sentido de ajudar as nobres causas nacionais, o Estado estará onipresente para regulamentar além da conta e criar empecilhos fiscais para o empreendedorismo).

O lado ruim? Quando os empresários passam a achar que não importa quem será o mandatário da Nação poderão lidar com duas situações.

A primeira: sem grandes pressões, o governo pode tornar sua mão mais pesada e ampliar o seu espectro de regulamentações. E isso seria suficiente para tornar o ambiente de negócios no país ainda mais inóspito do que é hoje.

Em segundo lugar, se concluírem que os políticos são todos iguais – especialmente em seus defeitos –, os empresários ficam reféns de uma escolha que passa ao largo das necessidades da iniciativa privada. É como naquele comercial da rede Burguer King, que presenteava um sanduíche sem hambúrguer a quem dissesse que iria votar em branco. “Quando alguém escolhe em seu lugar, não dá para reclamar do resultado”, dizia a assinatura da propaganda (a cara de tacho de quem recebeu um pão de hamburguer com maionese e cebola, sem carne, é impagável).

Este é o risco que os empresários correm ao deixar de se preocupar radicalmente com o governo. Por isso, palmas para quem se envolver em atividades necessárias para manter o tecido social intacto. Mas isso pode ser feito sem deixar de cobrar as autoridades. Os empresários precisam se envolver, cada vez mais, na política (seja qual for sua decisão eleitoral). Só assim é que o ambiente de negócios pode melhorar, com pressão para encontrarmos um país mais simpático ao empreendedorismo.

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