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Cacique do PL é indiciado por pedofilia contra netas

Integrante do diretório nacional, José Renato da Silva foi denunciado pela filha, que também teria sofrido abusos na infância

Discreta figura política de respeito capaz de circular em Brasília e vice-presidente estadual do PL em São Paulo, José Renato da Silva (71) é investigado desde abril pela Polícia Civil por agressão sexual contra duas de suas netas adolescentes, em um caso de pedofilia que ocorreria desde que as meninas tinham 6 e 7 anos. À frente da denúncia, a secretária municipal de Administração de Suzano (na Grande São Paulo), Cíntia Lira da Silva. Filha única do próprio suspeito e mãe de cinco, ela diz que só teve forças para enfrentar o pai e padrinho político depois de descobrir que suas duas meninas passavam pelo mesmo que teria sofrido na infância.

Ex-vereador e presidente da Câmara de Suzano (93-96, pelo antigo PMDB), José Renato era influente na região e usaria sua posição para abafar seus atos. Homem de confiança e articulador das campanhas do presidente nacional do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto (72), em 2018 ele chegou a trabalhar colhendo assinaturas para a criação do natimorto Muda Brasil, partido que seria preparado para Jair Bolsonaro, que acabou dando um tempo no PSL até ser acolhido no PL. Veterano quadro partidário, ele indicava e derrubava gente nas prefeituras da região de Mogi das Cruzes, onde repousa a maior força política de Boy, como Costa Neto é conhecido em sua terra natal.

Vítimas de José Renato seriam abusadas a partir dos 6 anos

Desespero

O que agora está exposto é uma história de traumas e silêncios depressivos ao longo de 42 anos para a mãe e 9 anos para as filhas. As três começaram a ser abusadas por volta dos 6 anos. O caso seguia em segredo de Justiça e era acompanhado por MONEY REPORT desde abril. Com Zé Renato indiciado por estupro de vulnerável, na tarde desta quarta-feira (6) Cíntia foi às redes lançar um desabafo (leia as postagens abaixo). É um relato de dor, vergonha, desespero e pensamentos suicidas desencadeados a partir de um trivial banho. Mas também é um manifesto poderoso para que tais abusos não sejam silenciados pelo descaso, que surge até na forma de conselhos aparentemente bem-intencionados: “Deixe isso para lá” ou “Pra que mexer mais”.

Cíntia: “O trauma e o silêncio nos deixam impotentes e isoladas”

A denúncia foi feita em 12 de abril como um caso de violência doméstica a ser investigado na Delegacia da Mulher de Suzano. Em menos de um dia no fórum da cidade já era comentado que se trataria de abuso e pedofilia. Como o escândalo teria componentes para causar danos ao PL às vésperas da campanha à reeleição de seu principal quadro, o presidente da República Jair Bolsonaro, José Renato foi isolado politicamente, em uma discreta e eficaz manobra de cancelamento – o que é perfeitamente justificável. Além de vice-presidente estadual, ele era presidente do conselho político do diretório nacional do PL. Na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), ocupava a chefia de gabinete da liderança do PL. Antes, foi da equipe do deputado André do Prado (PL). Em Suzano, integrava o conselho fiscal da Santa Casa. Sem alarde, foi excluído dos diretórios e substituído na entidade filantrópica. Na Alesp, onde estava comissionado desde 2013, foi exonerado em 13 de abril, um dia após a denúncia. Também houve um apagão digital. Suas imagens em eventos do partido sumiram das redes sociais.

Questionado ainda em abril, o PL não se manifestou sobre seu filiado e nem quais providências teria adotado. Procurado em duas ocasiões por MONEY REPORT, primeiro Valdemar Costa Neto manteve silêncio absoluto sobre o que estaria acontecendo com o auxiliar que o ajudou a reerguer o partido após suas condenações no Mensalão e na Lava-Jato.

Controle de danos

Agora que Cíntia tornou o caso público, Costa Neto comentou, por meio da assessoria de comunicação do partido, que o desligamento foi um pedido de José Renato, que teria alegado razões pessoais. “Valdemar só soube depois e não poderia desconfiar”, comentou um interlocutor. Não é bem assim. Não daria tempo, já que os desligamentos e o cancelamento digital se deram menos de 24 horas após a queixa. Como os afastamentos ocorreram há quase três meses e caso correu sob sigilo por envolver menores de idade o controle de danos político deve funcionar.

José Renato teria seus crimes expostos no âmbito familiar durante uma discussão. A mãe estranhou o comportamento das filhas. Procurado pela reportagem em diferentes ocasiões para apresentar sua versão, ele saiu da cidade e até teve dificuldades para encontrar um representante legal, já que um de seus advogados costumava ser o genro, pai das meninas. De início, Cíntia disse à reportagem que o assunto era familiar. Errado. A investigação jornalística seguiria. Agressões de caráter sexual contra crianças indefesas são crimes que merecem mais atenção do que costumam receber no Brasil. E se houver envolvimento de alguma figura pública ou agente político de qualquer nível, é preciso apurar com ainda mais vigor, dada a influência que podem exercer. O que não surpreende, infelizmente, são os abusos ocorrerem no ambiente familiar. De acordo com a Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, crianças entre 5 e 13 anos somam 50,8% dos registros de crimes sexuais, sendo que no geral, 79,6% dos ataques partem de conhecidos, principalmente parentes próximos. A estatística prova que este caso não seria uma exceção.

Reportagem de Rodrigo Dias e André Vargas

Após 42 anos de silêncio, o desabafo
“Algo que escondi por 42 anos”
“Apaguei boa parte da minha infância”
“A violência sexual destrói qualquer capacidade”
“Não posso me calar mais”
“Não teve conjugação carnal. Só seguir”
“Eu, com 6 anos, minhas filhas, com 6 e 7”
“Não ser mais obrigada a ‘cuidar’ da imagem dele”
“Crianças terão com quem conversar e pedir socorro”
“O trauma e o silêncio nos deixam impotentes e isoladas”
“Não se calem”

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Comentários

Respostas de 4

  1. Puxa Vida, fiquei muito triste ao ler essa matéria. Meu coração e toda empatia queria dar um abraço na Cíntia, como mulher , mãe, compartilho da dor emocional que essa família está passando. A Cíntia é um exemplo de mãe, de mulher de batalhadora, de trabalho. Eu a admiro agora ainda mais. A dor de uma mulher deve ser a nossa.

  2. Esse canalha tem que ser preso, e sentir na carne a dor desse abuso que ele praticou. Conheço esse canalha pessoalmente, sua fala mansa, seu jeito arrogante desde os tempos de vereador, e depois o homem forte do PL em SP nunca me enganaram, eu sabia que não prestava mas chegar a esse ponto, nunca imaginei. Esse relato dessa, pobre filha me faz sentir ódio desse canalha!

  3. Agradeço a essa moça pela dignidade e coragem, vai ajudar muitas pessoas a tomarem atitude semelhante. O maior problema das crianças é a cumplicidade das mães, tias, avós e familiares.

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