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O que é melhor: criação de valor ou eficiência na produção?

E não, você não pode ter os dois ao mesmo tempo

Qual é o objetivo de uma economia?

A atual ciência econômica lecionada nas universidades sugere que a economia — especialmente a microeconomia — é sobre a busca por eficiência na produção. Estuda-se a teoria da produção, equações de maximização dos lucros, fronteiras de possibilidade de produção, eficiência produtiva, eficiência alocativa etc.

Consequentemente, modelos são criados tanto para avaliar o grau com que tal objetivo — a eficiência da produção — é alcançado quanto para prever quais serão os resultados caso ocorra esta eficiência.

Mas isso, além de ser um erro fundamental e ser claramente impossível, é também indesejável. Sim, é indesejável se concentrar na “eficiência da produção”.

A garantia do imobilismo:

A verdadeira economia não é sobre maximizar a eficiência da produção, mas sim sobre criar valor.

Criar valor é descobrir o que os consumidores valorizam e então ofertar bens ou serviços para satisfazer essa demanda. Resolver problemas, satisfazer desejos ou necessidades, tornar a vida mais confortável etc.: tudo isso é criação de valor.

Seja abrir um restaurante que oferte alimentos desejados ou criar um aplicativo de transporte que se torna bastante demandado: isso é criar valor.

A eficiência na produção, embora desejável, não pode ser o objetivo final. Eficiência, por definição, significa olhar para o passado para tentar fazer alterações no presente. Significa ausência de progresso. Já a criação de valor significa olhar para o futuro, ter ambições, gerar novidades.

Eficiência é sobre reformular e alterar processos e mecanismos que já existem, com o objetivo de torná-los mais rápidos, estáveis e com menos desperdício. É sobre gerenciamento. É sobre reduzir custos e gastos desnecessários.

Só que, por definição, só é possível cortar custos se já existir um processo de produção estabelecido, do qual custos podem ser cortados.

Em outras palavras, eficiência não é uma questão de descobrir novas coisas a serem feitas, mas sim de apenas efetuar — de outras maneiras — coisas que já existem. De certa forma, isso é um imobilismo.

Considere um determinado processo de produção — seja dentro de uma empresa ou da economia como um todo —, o qual já é eficiente (ou que está bem perto de se tornar eficiente). Cada medida adotada visando a aumentar a produção com um menor custo por unidade de insumo é um aprimoramento em termos de eficiência. Isso seria bom para a sua margem de lucro.

E aí vem a pergunta: por que, nesta situação de busca pela eficiência, você redirecionaria recursos e especularia na produção algo diferente? Por que você se aventuraria em outros ramos, em novas linhas de produção? Não faria sentido. Do ponto de vista lógico, você não faria isso porque tal medida seria ineficiente; ela tornaria todo o processo de produção menos eficiente.

Entretanto, isso é exatamente o que ocorre em uma economia em que há empreendedorismo: há várias tentativas de inúmeros novos tipos de produção, de novos tipos de produtos e serviços etc. E uma primeira tentativa nunca é eficiente. Na esmagadora maioria das vezes, a primeira tentativa é escandalosamente ineficiente e esbanjadora. Porém, naqueles empreendimentos que se revelam bem-sucedidos, há criação de valor. As demandas dos consumidores são atendidas e, consequentemente, novos valores são criados.

E é aí, então, por meio das descobertas estimuladas pela concorrência e por administradores competentes, que o processo de produção pode passar a ser aprimorado visando a eficiência (se ele irá alcançá-la ou não é outra história). É após a criação de valor que o empreendedor pode começar a “se dar ao luxo” de otimizar seu processo de produção.

Surgem outros mais ineficientes, e aí ocorre o progresso

Com alguma sorte, todo este processo — embora esteja se aproximando da eficiência — é abalado pelo surgimento de um novo processo mais ineficiente, o qual, no entanto, cria mais valor para os consumidores. É mais esbanjador em termos de recursos utilizados em relação ao valor do produto criado, mas, ainda assim, o produto criado é mais valoroso (para os consumidores).

Schumpeter rotulou este processo de “destruição criativa” (capítulo 7 de seu livro Capitalismo, Socialismo e Democracia), argumentando que este processo de descoberta e criação sempre irá sobrepujar um sistema que esteja sempre maximizado.

É exatamente porque há recursos disponíveis/ociosos, que o elemento essencial de uma economia livre (o empreendedorismo) consegue criar imenso valor – e sempre por meio de inovações ineficientes, mas voltadas para a tentativa de criação de valor.

Toda ação envolvendo criação de valor está mirando o futuro, como Carl Menger sempre enfatizou. Já a eficiência envolve o gerenciamento daquilo que já existe e já está bem estabelecido.

Você só pode otimizar e tornar mais eficientes aqueles processos que já existem e já estão estabelecidos; você não pode exigir que algo novo já seja eficiente desde o surgimento.

Consequentemente, a busca sistematizada pela eficiência necessariamente irá criar obstáculos caso nosso objetivo seja aumentar o padrão de vida e bem-estar, e salvar a humanidade da pobreza. Ademais, um enfoque obsessivo na eficiência em vez de na criação de valor (e você não pode ter os dois simultaneamente), pelo fato de recorrer ao passado em vez de olhar o futuro, também irá fortalecer as estruturas já consolidadas. E não há nada que garanta que os detentores de capital do passado serão os mesmos que criarão valor no futuro. Com efeito, é quase sempre o contrário: disrupções são geradas por pequenos e aparentemente insignificantes empreendedores e inovadores.

Por tudo isso, se o nosso objetivo for a eficiência, então quaisquer que sejam as diferenças entre os empreendedores já estabelecidos e os potenciais novos entrantes serão aumentadas: aqueles que já possuem e dominam estruturas de produção existentes serão os que irão se beneficiar de torná-las mais eficientes (menos custosas). E, consequentemente, a diferença entre os que detêm capital e os que não detêm será consolidada. E não por causa de seu poder e influência — muito embora o estado tenda a lhes garantir isso também —, mas sim porque o passado não sofrerá uma disrupção oriunda de uma nova criação de valor.

Para concluir

A realidade é que, em uma economia de mercado, empreendedores concorrem entre si não para ver quem minimiza custos (aumenta a eficiência), mas sim para ver quem mais gera valor para os consumidores.

O que interessa para a sociedade e para a economia é esta busca pela criação de valor, pois é ela que melhora nosso padrão de vida. E o resultado dela será uma variedade de bens e serviços que os consumidores poderão escolher — e eles escolherão aqueles que representarem a melhor opção de acordo com seu ponto de vista (ou seja, aqueles que mais lhes criarem valor).

Neste sentido, e ao contrário do que é ensinado, a busca pela eficiência, por si só, não deve ser o objetivo de uma economia. Mais ainda: do ponto de vista de indivíduos que querem elevar seu padrão de vida, ela deveria ser evitada.

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Por Per Bylund

Publicado originalmente em: https://cutt.ly/YGYeArO

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