Anos atrás, estava esperando um texto de um empresário para publicá-lo na revista na qual trabalhava. Conhecia o autor há muitos anos, mas nunca tinha visto um texto de sua autoria. Confesso que estava um pouco ansioso. Tinha um palpite de que fechar aquele artigo seria uma coisa muito difícil.
O empresário mandou um recado com a peça escrita, pedindo para que eu corrigisse a pontuação e os eventuais erros de português. Comecei a ler o texto e tive de repetir a primeira frase cinco vezes até entender vagamente o sentido daquela sentença. Conforme ia avançando, respirei fundo. Aquelas mal traçadas linhas (cujo tamanho veio com o dobro do espaço permitido) iriam me dar um trabalho fenomenal.
Mandei um e-mail com cinco perguntas com dúvidas e assim que recebi a resposta comecei uma das edições mais complicadas que já fiz na vida. Depois que a versão final foi publicada, recebi uma ligação do autor, que disse, em tom brincadeira: “Eu não sabia que escrevia tão bem”. Minha reposta: “Eu também não”.
Nesta semana, remexendo em meus arquivos (os jornalistas mais velhos chamavam de alfarrábios), topei com uma história parecida, mas com um final muito mais interessante que o vivido por mim.
O personagem em questão era o italiano Luigi Arnaldo Vassallo, um dos primeiros diretores do jornal romano Il Messaggero, que existe até hoje. Vassallo, cujo alter ego era o cartunista Gandolin, ganhou fama pela língua ferina e rapidez de raciocínio.
Certa vez, ele recebeu um político com um texto intragável como aquele que recebi. O autor original disse: “Conserte a pontuação e publique o artigo todo”. O político recebeu a seguinte resposta: “Atendemos à sua solicitação. Mas, no futuro, favor mandar-nos apenas a pontuação. Nós escreveremos o artigo”.
Pena que eu não tive a mesma presença de espírito que o legendário Gandolin. Mas gravei essa frase para uso futuro.
Uma resposta
Sempre muito bom artigo Aluízio.