Com e-mails arrogantes, desvalorização e problemas de com os freios, bilionário deixa de ser visionário para virar trollador
Elon Musk alertou que pode desistir do acordo de US$ 44 bilhões para a aquisição do Twitter caso a rede social não forneça dados solicitados sobre spans e contas falsas, disse o bilionário em uma carta à empresa nesta segunda-feira (6). Esta é a primeira vez que Musk ameaçou desistir do acordo via documento por escrito, em vez de fazê-lo por publicações na própria rede social. Mesmo assim, em e-mail e declarações ele anda gastando energia e perdendo dinheiro.
Na manhã de sexta-feira (3), soubemos que Musk planejava demitir 10% de sua força de trabalho da Tesla porque, como ele colocou em um e-mail vazado à imprensa, se mostrava com um “sentimento super ruim” sobre a economia. Foi o primeiro episódio de uma série que mostra que o bilionário inovador dos carros elétricos, da nova corrida e quase dono do Twitter também erra feio. O problema é que as tentativas de emenda só pioraram as situações que cria. Pressionado, voltou atrás no dia seguinte, quando afirmou em postagem no Twitter que o número de contratados da sua companhia aumentará nos próximos 12 meses. A aparente reviravolta causou feroz indignação entre funcionários e sindicatos. O pretendido aumento no quadro seria às custas de contratos precários de trabalho.
Esse desastre institucional começou dias antes. Um e-mail interno escrito por Musk e vazado estipulava que, se algum dos quase 100 mil funcionários da Tesla ainda estivesse trabalhando remotamente, deveria retornar ao escritório para cumprir um mínimo de 40 horas semanais ou seria desligado.
Não é que um CEO não possa exigir que as pessoas retornem ao escritório após mais de dois anos de trabalho remoto. Mas o tom arrogante de seu e-mail, juntamente com sua resposta no Twitter defendendo a nova política, nos lembra como Musk pode ser intempestivo quando frustrado de alguma maneira.
Empresa decaindo
Não bastassem os problemas de RH, a Tesla deixou de integrar o índice S&P 500 ESG por falta de uma estratégia de baixo carbono detalhada em sua planta. A exclusão não se deu só por questões ambientais. A S&P Dow Jones Indices identificou acusações de discriminação racial e condições precárias de trabalho na fábrica de Fremont, na Califórnia. Outro ponto que pesou foi como a empresa lidou com a investigação de reguladores nos EUA após acidentes envolvendo veículos com autopilotagem da montadora. A Administração Nacional de Segurança no Trânsito de Rodovias (NHTSA, na sigla em inglês), agência responsável pela segurança automotiva nos Estados Unidos, afirmou ter recebido 758 relatos de acionamento inesperado do sistema de freios dos veículos da Tesla.
Em abril, as ações da companhia eram negociadas a mais de US$ 1.100 cada, mas desde então caíram mais de 40%. Em meados de maio, o terceiro maior investidor da Tesla, Leo Koguan, pressionou publicamente Musk a elevar os preços das ações por meio de uma operação de recompra.
Ameaçado, talvez acredite que sua melhor resposta seja trazer o pessoal de volta ao escritório. Talvez ele ache que os investidores de Wall Street acreditem que a obrigatoriedade do presencial aumente a produtividade e solucione seus problemas. Na prática, poderá acarretar a saída de bons, jovens e cobiçados profissionais de tecnologia. Gente que nem estaria na cota dos 10% de demitidos. Pesquisas mostram que 60% dos americanos querem a opção de trabalhar em casa alguns dias da semana e há mais vagas abertas do que pessoal para preenchê-las. Musk desconsiderou esses fatores.
Diante desse quadro, parte dos funcionários da Tesla pode buscar um chefe mais preocupado com seu bem-estar do que em trollar as pessoas no Twitter e ter seu nome em destaque nas notícias.
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