Aproveito este feriado para falar sobre uma semana reduzida de trabalho – apenas quatro dias úteis. Nos últimos dias, tenho recebido material de alguns amigos (e visto posts nas redes sociais de outros) sobre este assunto. A fonte de quase todos é a mesma: a 4 Day Week Global, uma organização sem fins lucrativos que defende uma semana de trabalho menor para todos. Um “white paper” disponível no site desta iniciativa mostra números de uma pesquisa realizada pela Universidade de Auckland, na Nova Zelândia. Segundo esse estudo, 63 % das empresas que oferecem uma semana mais curta de trabalho têm mais condições de atrair e manter talentos do que uma empresa com jornada normal. Além disso, 78 % dos entrevistados que se encaixam nesta rotina de emprego são mais felizes e menos estressados que aqueles com rotinas tradicionais.
Dou uma olhada nas redes sociais dessa ONG. Não é exatamente uma ideia que move milhões de pessoas. Sua conta de Instagram tem menos de 2 000 seguidores, enquanto a do Facebook tem quase 13 000 fãs e, a do Twitter, 3 800.
Mesmo assim, é um tema razoavelmente discutido nas redes. Uma pesquisa com os dizeres “4 day week jobs” gera 2,15 bilhões de resultados. Quando inserimos “5 day week Jobs”, o resultado é ligeiramente superior: 2,5 bilhões de respostas. Isso mostra que há um grande potencial para falar sobre este assunto.
Antes de mais nada, uma pergunta: você gosta da ideia de trabalhar um dia a menos, esticando o seu final de semana? Em um mundo ideal, talvez 10 em 10 pessoas poderiam responder afirmativamente. A minha resposta? Não, não gostaria de ter um dia a mais de folga.
Como empreendedor, não posso me dar ao luxo de ficar fora do ar por mais um dia na semana. Quem é dono de seu próprio negócio tem dificuldades para se desligar do trabalho. Eu, por exemplo, estou sempre pensando em temas que podem servir de pauta para MONEY REPORT – ou de discussão para um seminário ou workshop. Gosto desse estado de permanente atenção e de estar conectado o tempo todo com minha empresa (porém, me obrigo, de tempos em tempos, a fazer um detox de trabalho – mas isso é tema para outro texto).
Entretanto, o fundador da 4 Day Week Global, Andrew Barnes, afirma o seguinte: “Quando começamos a divulgar essa ideia, a reação inicial de todos era: “como eu posso fazer meu trabalho em quatro dias em vez de cinco?”. A experiência com as tentativas, no entanto, mostra que as pessoas não apenas conseguem fazer seu trabalho em quatro dias, como o fazem melhor”.
Esta frase me faz matutar: será que estou sendo ranzinza?
Tenho amigos que adotaram esse estilo de vida há algum tempo, com a semana oficial terminando na quinta-feira. São pessoas que se tornaram mais leves e criativas depois que passaram a trabalhar menos. Todos os exemplos que conheço em relação a semanas de trabalho mais curtas, entretanto, são de donos de empresas ou CEOs com enorme poder sobre suas estruturas.
Isso funcionaria para diretores, gerentes ou até executivos de nível médio? Conheci recentemente um diretor de empresa que resolveu morar em Portugal e vem ao Brasil uma ou duas vezes por mês. Fica ligado no computador o tempo todo, mas evita marcar qualquer compromisso de trabalho, mesmo virtual, às sextas. Ele me garante que isso dá certo. Mas não conhece pessoalmente 40 % de sua equipe, já que a companhia na qual trabalha optou pelo trabalho remoto.
Fico imaginando como é possível criar a cultura de uma empresa em um panorama como este, uma combinação de Home Office com menos horas de trabalho. Talvez eu esteja ficando velho, mas não consigo enxergar como isso pode ser possível.
Além disso, fico imaginando como esse comportamento se encaixa na rotina das demais empresas. O final de semana é uma instituição que existe há muito tempo. Nem por isso é respeitado por várias chefias. Como esperar que certas demandas corporativas esperem de sexta até segunda-feira para resolver um eventual problema?
O fim de semana de três dias, a esta altura do campeonato, parece ser uma utopia ao alcance de poucos. No que depender deste coroa que vos fala, porém, dificilmente será algo que vai emplacar no mercado de trabalho.