Uma pesquisa revelada ontem pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, mostra que nem sempre os militantes são a maioria absoluta em temas de grande exposição nas mídias digitais. O estudo, feito em cima do caso da atriz que foi estuprada e deu o bebê para adoção, chegou à conclusão de que 75 % das publicações a respeito do ocorrido partiram de pessoas sem militância de esquerda ou de direita (ou seja, esses indivíduos podem ser adeptos de um lado ou de outro; apenas não manifestam sua ideologia com frequência através do mundo digital).
De todos os posts sobre o assunto feitos até segunda-feira, 95 % tinham um conteúdo de apoio à artista. Os ativistas de direita foram responsáveis por 1,67 % das publicações sobre o caso. E cerca de 99% dessas mensagens condenavam a violência e a quebra de sigilo que levou a história ao conhecimento popular.
Apenas 1 % das mensagens vindas do quadrante da direita criticaram a atriz por ter dado a criança para adoção. Ou seja, se tivéssemos hipoteticamente dez milhões de postagens sobre o assunto, 167.000 teriam vindo de militantes da direita. Desses, 1.670 criticaram a vítima de estupro. Repetindo: 1.670 pessoas condenariam a moça entre 10 milhões (números hipotéticos, ressalvemos novamente).
Ou seja, uma parcela ínfima de pessoas insistiu na tese de que a atriz teria de criar um filho gerado por um ato de violência. Mesmo assim, essa minoria fez um estardalhaço gigantesco, a ponto de fazer a garota se manifestar publicamente. “Como mulher, eu fui violentada primeiramente por um homem e, agora, sou reiteradamente violentada por tantas pessoas que me julgam”, escreveu ela em uma carta aberta.
Esse caso é sintomático, pois é uma tragédia que chamou a atenção de todos. Mas há um lado bom que surge dessa mazela. Percebe-se, através do alto volume de mensagens solidárias, que a empatia não desapareceu entre nós. E que muitos daqueles que normalmente se calam diante de barracos constantes nas redes não ficaram quietos desta vez – e se colocaram ao lado da vítima.
Talvez o rancor que se destila no ambiente digital, dessa forma, esteja circunscrito a uma minoria raivosa e atuante. E que a maioria, atônita, fica dividida entre o silêncio, com medo de ataques, e o voyerismo cibernético. Esse grupo majoritário, porém, pode surgir em momentos dramáticos, como o vivido pela jovem atriz.
Aos participantes dessa provável maioria silenciosa, vai aqui um pedido: entrem mais na briga, nem que seja para apenas pontuar sua opinião. Não podemos deixar que os radicais intolerantes (não importa de qual ideologia) achem que eles representam toda a população e a verdade absoluta – é por causa dessa convicção, fomentada pelo imobilismo dos moderados, que essas pessoas se julgam infalíveis e praticantes de uma intolerância cega e vil.