Antes de ser criado por Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, o bairro paulistano do Itaim Bibi abrigava algumas tabas de indígenas. Até por conta dessa influência, quando Magalhães resolveu traçar ruas em sua chácara e lotear terrenos, várias vias ganharam nomes em tupi-guarani: Yara, Iaiá, Tabapuã, Ibiaté e Urussuí. Algumas foram rebatizadas. Assim, a Tapera virou Bandeira Paulista e a Urupê se transformou em Jesuíno Arruda. No meio do empreendimento imobiliário, uma via foi aberta seguindo o curso de um córrego cuja água era considerada muito verde. Esse veio de água era chamado de “Iguatemi” pelos índios da região e a viela ganhou o mesmo nome.
Nos anos 1960, essa rua, que emendava a rua Joaquim Floriano ao Largo de Pinheiros, foi quase que quadruplicada da Avenida Cidade Jardim à Avenida Rebouças. O prefeito que conduziu a obra, José Vicente Faria Lima, pretendia chamar esse trecho de avenida Radial Oeste. No entanto, ele morreu antes de inaugurá-la. Resultado: acabou dando nome ao novo logradouro.
Muitos anos depois, a prefeitura desengavetou um novo projeto que ligaria o início da Faria Lima à Vila Olímpia, criando um corredor do bairro de Pinheiros ao Brooklin (daí o nome Radial Oeste pensado por Faria Lima). O novo trecho ganhou prédios luxuosos e modernos. E rapidamente várias instituições financeiras se mudaram para a nova avenida. Foi assim que essa via aglutinou banqueiros, corretores e financistas em geral – os chamados “Faria Limers”.
Esse apelido, relativamente novo, pegou rapidamente em São Paulo. No início, era uma forma crítica e jocosa de chamar os jovens que se vestiam igual e queriam ser as novas lendas financeiras paulistanas. Um pouco depois, a alcunha foi assumida pela turma. Na semana passada, porém, esse apelido ganhou outro status: foi lançado um bonequinho chamado “Faria Limer”.
Esse boneco vem com cabelo cortado no estilo topete, barba rente e sobrancelha desenhada. Veste calça apertada, com barra curta, e um colete, além de contar com um copo que mantém a bebida gelada por horas e um patinete amarelo. Este visual estereotipado do jovem financista tem suas raízes em janotas de outras décadas – o “yuppie” dos anos 1980 e o “mauricinho” dos anos 1990.
Brinquedos inúteis existem aos borbotões. No setor dos bonecos, por exemplo, é possível lembrar do Mug, um simpático bichinho de pelúcia de raça indecifrável que, segundo seus garotos propaganda, Wilson Simonal e Chico Buarque de Holanda, trariam sorte ao dono. Uma presa fácil dos comerciais de TV, tive um desses aos cinco anos de idade.
Voltando ao “Faria Limer”. Este lançamento me levou à reflexão. Há, no mundo, inúmeras perguntas sem resposta. Algumas delas:
+ Quanto tempo vai durar a Guerra entre Rússia e Ucrânia?
+ De onde viemos e para onde vamos?
+ Qual é o sentido da vida?
A essas questões, se junta outra, igualmente sem solução: quem é que vai comprar, em sã consciência, um bonequinho Faria Limer?