Redução nos preços administrados é sentida pelos brasileiros de maior poder aquisitivo. Alimentos seguem acima da inflação
A queda de 0,68% para o mês de julho no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ocorreu principalmente pela baixa no preço dos combustíveis por causa da desoneração promovida pela governo para a gasolina e o diesel, e também nos preços de energia elétrica, com a volta das chuvas e a recuperação do nível dos reservatórios das hidrelétricas no Sudeste e Centro-Oeste. Todavia, itens como gás de botijão, óleo diesel e alimentos seguem em alta acima da inflação acumulada em 10,07% nos últimos 12 meses.
Esta é a primeira deflação registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em mais de dois anos e a menor taxa desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980. Em 2022, a inflação acumulada é de 4,77% . Esse comportamento dos preços é explicado por economistas ouvidos por MONEY REPORT.
Mecanismos
Se a queda da inflação, a partir de meados de 2022, se deu por recuos em preços administrados — principalmente combustíveis e energia elétrica —, as projeções para 2023 apontam pressões nos preços livres, com destaque para serviços e bens industriais. Ainda que em níveis mais baixos, na comparação com o projetado para 2022, quando ambos deverão registrar alta em torno de 10%, são previstas elevações de preços importantes nos dois grupos, acima de 6%, no ano que vem.
“A gente passou o primeiro semestre observando várias surpresas para cima da inflação, mesmo com os economistas prevendo números altos. De lá para cá, começamos a ter menos surpresas, e algumas para baixo. Esse comportamento das surpresas, em geral, tem algum grau de persistência, pelo menos no curto prazo. Claro que não é algo dado, mas pode ser um sinal de que saímos de um regime de surpresas para cima e podemos ter leituras de IPCA, no mínimo, em linha nos próximos meses”, afirmou o economista da Quantitas, João Fernandes.
O economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, lembra que o índice de difusão, que mede o percentual de produtos e serviços com aumento de preços, está em 63% – ou seja, apesar da queda geral do índice de 0,68%, quase dois terços dos preços que compõem o IPCA na verdade subiram. “Do jeito que a deflação aconteceu, beneficia principalmente o brasileiro mais rico, que consome gasolina e gasta mais energia. É uma queda que foi mais sentida pelos ricos. A população mais pobre ainda sofre com a alta dos alimentos, que diminui o seu poder de compra. É um grupo que não tem muita flexibilidade para fugir desse processo inflacionário”, afirmou.