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A semelhança entre um pós-operatório e o empreendedorismo

Há uma música da banda Genesis cujo refrão reflete bem a minha situação atual: “You’ve got to get in to get out” (“você precisa entrar para poder sair”). O verso faz parte da canção “Carpet Crawlers” e está no disco “The Lamb Lies Down On Broadway”, o último que conta com a participação do cantor e compositor Peter Gabriel, gravado em 1974.

Por que exatamente eu tive de entrar para sair?

Vivia um cotidiano cheio de dores e limitações, devido à falta de cartilagem no quadril. Sabia que, se fizesse uma cirurgia e colocasse uma prótese de fêmur, iria resolver o problema. Mas que, antes, passaria por um período difícil. Estava sentindo dores? Iria sentir mais. Tinha limitações de locomoção? Teria outras, ainda maiores. O.K., é por um curto período. Mas trata-se de uma fase complicada. Por isso, tive que entrar (fazer a cirurgia e passar pela recuperação difícil) para poder sair (andar sem sequelas e sem dor).

No fundo, isso vale para qualquer um de nossos problemas, dos menores aos maiores. Sem encará-los de frente e buscar uma solução definitiva (ou algo próximo disso), ficamos dando voltas sem chegar a lugar nenhum.

Mas essa não é a única lição que tiro dessa fase (se esse texto estiver virando um artigo de autoajuda, peço desculpas imediatas e entenderei se você me abandonar neste exato momento).

O pós-operatório desta cirurgia obriga todos os pacientes a entender rapidamente quais são suas limitações físicas. Os músculos da perna do lado operado têm que se fortalecer, pois perdem o tônus com o procedimento cirúrgico. Com isso, temos de nos locomover primeiro de andador; depois, com duas muletas; após essa fase, uma só muleta; por fim, é preciso caminhar com uma bengala. Após abandonar qualquer auxílio para andar, ainda mancamos durante algum tempo – para depois voltar a caminhar normalmente. Conviver com limitações tão claras é chocante para quem tem o espírito independente. Mas, ao mesmo tempo, estimula quem gosta de bater as próprias metas e buscar superação.

O problema é que, para fazer isso, é preciso de paciência. Muita paciência. Por mais rápida que seja a recuperação (que, felizmente, é meu caso), o processo é sempre lento diante de suas expectativas e vontades. A evolução só pode ser obtida com sessões de fisioterapia. E nossos músculos têm uma agenda própria, diferente daquela que o cérebro quer comandar.

Muita gente fala em resiliência nos dias de hoje. É uma palavra que define aquilo que é necessário para superar todo o tipo de dificuldades, especialmente na trajetória empreendedora ou na carreira executiva. É um termo da moda, mas pode ajudar a entender o que precisamos fazer em um momento como esse.

No meu quarto de hospital, fiquei sozinho por uma hora no dia seguinte à operação. E fiquei pensando sobre o que seria resiliência. Talvez ainda sob os efeitos anestésicos da cirurgia, imaginei que o estado resiliente de ser divide-se em três fases.

A primeira é a do estoicismo e da paciência: a aceitação plena do que está acontecendo. Entender o que causa o problema e aceitá-lo pode ser um bom começo. A segunda etapa é ter firmeza em relação aos propósitos para resolver a situação. Por fim, é preciso construir dentro de si uma capacidade de resistir aos últimos metros do processo – pois muitos desabam nesta hora. Esse mindset é muito parecido com o dos empreendedores que buscam construir suas empresas e gerar um legado para futuras gerações. Mas vale (ou pelo menos para mim está valendo) para uma recuperação cirúrgica.

Voltando ao disco que mencionei na abertura: como ocorre na maioria dos álbuns duplos, “The Lamb” daria um LP simples absolutamente fabuloso. Mas a história que Peter Gabriel queria contar (a saga do personagem Rael) acabou precisando de mais espaço. Essa é outra lição que aprendo neste momento pós-operatório e pretendo aplicar daqui para a frente em tudo: enveredar pelo caminho mais simples, sem firulas ou procrastinações.

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