Na semana passada, o economista Mohamed El-Erian, considerado “guru dos mercados emergentes”, disse que, depois da Argentina e da Turquia, o Brasil seria o próximo emergente a “cair”, ou seja, ver uma fuga maciça de dólares que jogaria a moeda brasileira para baixo. E, num evento para investidores, o presidente da SPX Capital, Rogério Xavier, traçou um cenário apocalíptico para a economia brasileira e disse que o dólar pode chegar a R$ 5,30.
Faz sentido tanto pessimismo? O Brasil pode se juntar à Argentina e Turquia?
Para o economista Alexandre Schwarstman, ex-diretor do Banco Central, ao contrário desses dois países, as contas externas do Brasil estão muito boas. A dívida do Brasil em dólar é baixa, o déficit externo não é um problema e as reservas cambiais, de US$ 380 bilhões, dão segurança contra um ataque especulativo. Nesse sentido, os fundamentos da economia brasileira são mais robustos.
A grande vulnerabilidade do Brasil é interno e está no déficit fiscal do setor público. “Há uma agenda grande de reformas para atacar a situação fiscal, mas ninguém parece comprometido com isso”, diz Schwartsman. “Isso mina a confiança do mercado.”
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que o pior pode estar por vir. “Há uma incerteza brutal em relação aos candidatos mais competitivos na eleição presidencial”, diz, se referindo a Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT). Segundo ele, falta aos dois candidatos capacidade de gestão política e econômica. “Como ainda não dá para cravar a vitória de um deles, não dá para decretar a ‘queda’ da economia brasileira. Mas estamos caminhando para isso.”
Outro complicador é que, aos poucos, previsões como a de Xavier e El-Erian podem se tornar “profecias autorrealizáveis”, já que elas podem acontecer antes “do fato em si”. Isso pode ter acontecido com o dólar, que se aproximou de R$ 4 na semana passada. “Ninguém imaginava o câmbio nesse patamar em junho, a despeito de todos os problemas”, diz Vale.
Dada a situação de incerteza, o economista-chefe da MB não projeta o preço do dólar no final do ano. “O real tende a ficar muito pressionado e a tendência é o dólar passar de R$ 4 nos próximos meses”, diz. “Pode haver piora no último trimestre, a depender do próximo presidente e das notícias como equipe econômica, composição do congresso.”