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Meio problema ainda é um problemão

Os imóveis pagos em “cash” pelos Bolsonaro exigem explicações. Podem ser 51 terrenos, metade disso ou um só. Por 12% do valor movimentado Lula acabou em cana e Collor perdeu o mandato por menos ainda

Com sua campanha perigando ser enredada pela descoberta que 51 dos 107 imóveis adquiridos pela família Bolsonaro nos últimos 30 anos foram pagos total ou parcialmente em dinheiro vivo, boas justificativas são necessárias. Só que a única apresentada até agora mantém as mesmas incertezas e suspeitas. Na manhã desta quinta-feira (1º), no programa Morning Show, da TV Jovem Pan, foram apresentados trechos de uma entrevista com o presidente gravada no dia anterior. A justificativa de Bolsonaro foi tão simples quanto incompleta. Ele disse que metade dos bens imobiliários foram adquiridos por seu ex-cunhado, José Orestes Fonseca, que foi casado com sua irmã Maria Denise. Separados, eles brigam na justiça pela divisão dos bens.

“O que tenho a ver com ex-cunhado? Não vejo esse cara há um tempão”, indagou retoricamente, repetindo Leonel Brizola sobre sua relação com Jango Goulart: “Cunhado não é parente”. Quando a entrevista toda for ao ar, na segunda (5), se a explicação completa não for boa seus adversários de campanha ganharão farta munição.

Nenhuma certidão ou escritura sobre os contratos de compra e venda levantados pelo UOL nos cartórios da região do Vale do Ribeira indica que José Orestes seria o único ou o responsável pela maior parte dos imóveis comprados total ou parcialmente em dinheiro. Pelo contrário, dos 51 imóveis, apenas 8 teriam sido pagos em dinheiro pelo ex-cunhado e a irmã. Ainda faltariam no mínimo outros 17, mas bem podem ser 43. Essas aquisições somaram R$ 13,5 milhões, que corrigidos pelo IPCA atingem R$ 25,6 milhões. O núcleo familiar do agora presidente negociou 107 imóveis desde 1990. Em 26 deles sequer é possível saber a forma de pagamento nos documentos de compra e venda. Essas operações são menores, somando R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores atuais).

Não existe escândalo pela metade

Bolsonaro esperneia, se diz perseguido, mas tal enrosco tão evidente e continuado jamais atingiu seus antecessores no Palácio do Planalto, ainda que todos tenham sido colocados na berlinda em algum momento – tirando Itamar e Dilma. Lula saiu do governo com a popularidade elevada e acabou condenado e encarcerado por um tríplex suspeito avaliado em 12% do montante movimentado (valores corrigidos) pelo primeiro núcleo familiar da República, enquanto Collor renunciou por causa de gastos injustificados com uma reforma de jardim e na compra de uma perua Fiat Elba.

Portanto, a compra em dinheiro de 43, 26 ou 17 imóveis dá no mesmo. Se envolvidos em alguma irregularidade, os Bolsonaro não se tornarão meio suspeitos nem o episódio será um meio escândalo. Tudo fica pior se for acrescidos todos os indícios e provas do esquema das rachadinhas de salários de assessores no gabinete da Alerj do filho 01, o agora senador Flávio. Ano passado ele comprou uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília, sem ter renda suficiente para cumprir as exigências de financiamento.

Uma ex-cunhada já disse que o atual presidente esteve envolvido nesse tipo de rolo e um amigo das antigas, Waldir Ferraz, o Jacaré, revelou à revista Veja que o embolso ilegal de parte dos salários (crime de peculato) começou na década de 1990, com Jair na Câmara dos Deputados, se espalhando para os gabinetes dos filhos Flávio e Carlos. Entretanto, o amigo isentou em termos o presidente, apontando que a autora da operação foi sua ex-mulher, Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan, o filho 04.

Ou seja, tudo por demais nebuloso e investigável. Se nada há de tão errado para os lados do mandatário, além de algum deslize feio junto ao fisco que seria resolvível com o pagamento de multas, a melhor hora para uma explicação completa chegou. É preciso saber de onde veio a grana.

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