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Mais uma grande figura se vai – agora, foi a vez de Jean-Luc Godard

Nouvelle vague. Em português, essa expressão quer dizer “nova onda”. Na linguagem dos cinéfilos, porém, foi uma das escolas cinematográficas mais surpreendentes e originais criadas desde que o celuloide foi inventado pelos irmãos Lumiére. O nome mais importante dessa escola foi o de Jean-Luc Godard, que nos deixou na última terça-feira (outros grandes cineastas do movimento foram François Truffaut e Alan Resnais).

Conheci uma parte da obra de Godard quando adolescente. Vi, em questão de dias, quatro filmes dele, que foram exibidos em um cineclube moderninho dos anos 1980: “Acossado”, “O Desprezo”, “O Demônio das Onze Horas” e “Alphaville”. Fiquei absolutamente arrebatado pela linguagem cinematográfica crua e nada rebuscada, além dos toques surrealistas inseridos na narrativa. E tentando compreender alguns aspectos do roteiro que não faziam sentido para alguém que estava acostumado, como eu aos dezesseis anos, às produções blockbuster de Hollywood.

Foi como se uma porta se abrisse diante de mim e eu pudesse enxergar a criatividade em estado bruto, em filmes produzidos com pouquíssimo dinheiro. Essas obras me levaram a explorar o trabalho de outros diretores franceses, como Truffaut e Resnais (que realizou uma das minhas películas favoritas, “Hiroshima Meu Amor”), e de grandes nomes da década de 1960, como Michelangelo Antonioni, Luchino Visconti, Ingmar Bergman, Bernardo Bertolucci e Luis Bunuel.

Os filmes destes cineastas me inspiraram a seguir por uma breve carreira de contista, que durou dos dezesseis aos vinte anos. Toda a ficção o que escrevi nessa época tem como referência os roteiros de produções europeias realizadas entre 1959 e 1980 (acredito que fechei este ciclo com “Meu Tio da América”, de Alain Resnais).

Godard e seus colegas de profissão me ajudaram a trabalhar histórias, universos paralelos, romances (correspondidos ou não); descrever psicologicamente os personagens de um conto a partir de suas ações e não de suas características; me ajudaram, principalmente, a não colocar amarras na capacidade de criar um texto, deixando-me livre para apostar em narrativas nada lineares.

Jean-Luc Godard também me presenteou com duas paixões platônicas: Anna Karina, estrela de “O Demônio das Onze Horas” e “Alphaville”, e Brigitte Bardot (com o diretor na imagem), que faz a personagem principal de “O Desprezo”.

Hoje, devo muito às referências que surgiram na minha vida por conta dos filmes deste francês – e percebo que ele deve ter influenciado minha geração como um todo. Um exemplo? A primeira produtora de Quentin Tarantino foi batizada de “Band à Parte”, por conta de um filme dirigido por Godard em 1964.

Quer outro? Que tal dois? No rock brasileiro, ele é citado duas vezes.

Em “Eduardo e Mônica”, da Legião Urbana, Renato Russo diz: “O Eduardo sugeriu uma lanchonete/ Mas a Mônica queria ver um filme do Godard”. Já em “Selvagem”, dos Paralamas do Sucesso, a referência é a censura exercida pelo presidente José Sarney ao filme “Je Vous Salue Marie” em 1986: “O governo apresenta suas armas/ Discurso reticente, novidade inconsistente/ E a liberdade cai por terra/ Aos pés de um filme de Godard”.

Por toda a sua obra e por ter ajudado uma geração inteira a sonhar acordado, eu vos saúdo, Jean-Luc Godard.

Leigião Urbana com “Eduardo e Mônica”
Paralamas com “Selvagem”

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