Ontem, durante evento promovido pelo jornal “O Globo”, o ex-presidente Michel Temer voltou a explorar uma ideia que vem propagando desde o início deste ano – a criação de um pacto nacional por parte de quem vencer as eleições, nos moldes do que foi feito na Espanha em 1977 e garantiu a volta da democracia naquele país.
“O ideal seria fazer um grande pacto nacional, como aconteceu na Espanha. Quem for eleito chama a oposição, os 27 governadores eleitos, os chefes de poderes e organizações da sociedade civil para trabalhar até a posse. Quero ver quem se oporia a isso. As pessoas respirariam aliviadas. Isso seria o ideal”, afirmou Temer.
Trata-se de uma possibilidade interessante, que poderia dar ao país o tempo necessário para repensar o futuro da nação e traçar metas comuns de crescimento e de modernização com o apoio das forças políticas dominantes.
Mas, falando friamente: essa ideia é exequível?
Vamos imaginar que o vencedor de 30 de outubro seja Jair Bolsonaro. Até hoje, toda vez que se saiu bem de qualquer processo, o presidente nunca estendeu a mão ou procurou o entendimento. Pelo contrário: sempre tripudiou do outro lado. Por que agiria de forma diferente dessa vez?
Bem, e se Luiz Inácio Lula da Silva for eleito? Embora Lula tenha uma personalidade moldada para tentar o entendimento com seus oponentes, há dois empecilhos para que ele proponha um pacto nacional. O primeiro é a militância raiz do PT, que dificilmente engoliria um acordo de paz com os bolsonaristas. O segundo obstáculo estaria na indisposição do presidente Bolsonaro em firmar um armistício com Lula.
Temer acredita que o entendimento possa ser atingido pela promessa de uma anistia que abrangesse todos os ex-presidentes brasileiros. Isso poderia agradar a Bolsonaro, que já manifestou a seus aliados a preocupação com eventuais perseguições políticas a partir do momento que deixar o Planalto.
A natureza beligerante do presidente, aliada com o discurso de que ele só perderia as eleições em caso de fraude, no entanto, tornam essa hipótese longínqua.
Embora seja uma iniciativa louvável, a proposta do ex-presidente Temer dificilmente ganhará as ruas ou será discutida para valer com todos os poderes que compõem a República brasileira. Infelizmente, a tônica da sociedade deverá ser a da polarização política mesmo depois de eleito o novo mandatário.
Depois de criarmos o voto útil na primeira etapa das eleições, vamos inovar também ao turbinar o Terceiro Turno – o day after das eleições, com críticas e provocações das duas maiores forças eleitorais. Ou seja, o Brasil ainda está muito longe da pacificação, embora precise desesperadamente de um melhor ambiente político para que a economia possa crescer sem amarras ou flutuações inesperadas.