Por Claudia Violante
SÃO PAULO (Reuters) – A atuação mais firme do Banco Central no mercado cambial deve cumprir o prazo dado pelo presidente da instituição, Ilan Goldfajn, e terminar nesta sexta-feira, o que não quer dizer que a autoridade deixará o mercado à deriva, afirmaram especialistas ouvidos pela Reuters.
“As atuações já limparam muito das posições de quem estava muito mal dado. Acho que o BC vai manter a rolagem, mas tirar as intervenções novas, deixando a questão da incerteza (na atuação) para administrar a volatilidade”, avaliou o estrategista da corretora Coinvalores, Paulo Nepomuceno.
No final da semana passada, depois que o dólar se aproximou do patamar de 4 reais, o BC decidiu intervir mais pesadamente no mercado, anunciando oferta de 20 bilhões de dólares em novos swaps cambiais o fim dessa semana. O montante, somado ao que já vinha sendo injetado em novos contratos, poderá totalizar 24,5 bilhões de dólares.
Além disso, o BC passou a agir de forma discricionária, sem anunciar previamente quando fará os leilões de novos swaps, utilizando o fator surpresa para conter o ímpeto dos agentes e conter a volatilidade.
Desde o início do mês até esta quarta-feira, a autoridade monetária já colocou 18,116 bilhões de dólares em novos contratos de swap cambial, equivalente à venda futura de dólares. Além disso, seguia rolando os contratos que vencem julho, que soma 8,762 bilhões de dólares.
“Os motivos para a alta do dólar continuam… O BC pode apenas manter a rolagem ou manter a ação disricionária com menores volumes. Ele não pode queimar cartucho, temos as eleições pela frente”, afirmou o operador da corretora H.Commcor Cleber Alessie Machado, ao citar a corrida presidencial como um dos motivos que ajudaram a içar a moeda norte-americana recentemente.
As últimas pesquisas eleitorais não trouxeram um pré-candidato que o mercado considere mais comprometido com reformas despontando, o que azedou o humor dos investidores, sobretudo após o impacto bilionário da greve dos caminhoneiros sobre as contas públicas.
Só em maio, o dólar acumulou alta de 6,66 por cento sobre o real e, no pico deste mês, chegou a ultrapassar o patamar de 3,90 reais, cerca de 0,20 centavos de real a mais do que o fechamento do mês passado. Após a ação mais contundente do BC, a partir do dia 8, o dólar já era negociado ao redor de 3,70 reais novamente.
O cenário externo também pesou sobre a recente turbulência nos mercados, com expectativas de ritmo mais forte de aumentos de juros nos Estados Unidos neste ano.
O Federal Reserve, banco central norte-americano, deverá promover nessa tarde a segunda elevação na taxa do país. O mercado estava dividido entre três ou quatro altas de juros neste ano ao todo, em meio a sinais de melhor desempenho econômico que os Estados Unidos têm dado.
“Mesmo que o Fed sinalize uma quarta alta neste ano, acredito que o dólar encontrou seu piso, ao redor de 3,70 reais, com os riscos que estão aí”, avaliou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, para quem o BC pode não dar continuidade a essa atuação mais firme no câmbio.
TESOURO
A avaliação de que o BC pode aliviar suas ações no mercado cambial não é compartilhada quando se olha para o mercado de juros futuros. Para os especialistas, o Tesouro terá de continuar atuando de forma contundente para continuar dando equilíbrio, sensível tanto ao cenário externo quanto interno.
“O Tesouro tem que continuar atuando. Seria pior sem ele, o mercado estaria mais estressado, mais volátil”, disse Gonçalves.
A autoridade tem feito diariamente leilões de compra e venda de Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F), um papel pré-fixado, e suspendeu, neste período, seus leilões tradicionais.
No final da semana passada, o próprio Tesouro anunciou que continuaria atuando nos mercados, por meio de leilões extraordinários de compra e venda títulos públicos, até o final deste mês para tentar buscar o equilíbrio das taxas de juros novamente.
E que, para esta semana, estariam mantidas as ofertas diárias de NTN-Fs e, a partir daí, seria avaliado se a estratégia de leilões diários seria mantida ou não até o fim de junho.
“Acho que a atuação do Tesouro tem que ser mantida até o mercado se acalmar, precisa continuar dando saída a seus parceiros, mas sem dar moleza”, avaliou Nepomuceno, da Coinvalores. “Estamos em épocas excepcionais, se você não der saída, perde seu parceiro.”