MONEY REPORT escolheu como sua imagem da semana o registro do protesto de mulheres iranianas contra a obrigação do uso de véu. Algumas queimam a peça publicamente. As manifestações eclodiram em cerca de 80 cidades, confrontando o regime teocrático xiita dos aiatolás, no poder desde 1979. O estopim foi a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, ocorrida na sexta-feira passada (16). A jovem curda estava sob custódia após ser detida por não manter adequadamente sua cabeça encoberta com um hijabe, como exige a lei iraniana, onde religião e estado são sinônimos. Amini foi detida pela Patrulha de Orientação da República Islâmica, uma força encarregada da fiscalizar o cumprimento dos regulamentos corânicos nas ruas. Testemunhas afirmaram que os agentes teriam batido em sua cabeça com um bastão. A jovem morreu após entrar em coma, mas as autoridades alegam não haver evidências de maus-tratos e que a ela teria sofrido de “insuficiência cardíaca súbita”. Não houve autópsia. O hijabe é obrigatório apenas no Irã xiita e na Arábia Saudita sunita, sendo adotado costumeiramente em outras regiões de maioria muçulmana.
Os protestos contra o governo contaram com o apoio público de homens e desencadearam uma reação feroz. Na quinta-feira (22), os distúrbios somavam 17 manifestantes mortos, em uma repetição das ondas de violência que ocorrem no país de tempos em tempos. A eleição do novo presidente Ebrahim Raisi, 2021, piorou a vida feminina. Desde agosto, câmeras de vigilância monitoram as ruas das principais cidades. Qualquer mulher que suspeita pode ser levada ao “aconselhamento”, o que significa prisão e espancamentos. Também foi estabelecida a pena de prisão para qualquer iraniano que questionar as regras do hijab na internet. Como resposta, mesmo antes da morte de Amini as iranianas postavam fotos e vídeos de si mesmas sem véu nas redes sociais. Em represália, o governo tenta bloquear as redes sociais.