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Os sete gols de Lula

Em 1994, antes da Copa do Mundo, os colunistas esportivos pressionavam o técnico Carlos Alberto Parreira por conta da performance da seleção brasileira durante as eliminatórias e amistosos. Jogos mornos, vencidos com magros placares e um jogo mais retrancado e menos ofensivo. Em uma coletiva, Parreira foi bastante pressionado em função da falta de gols. O técnico saiu-se com essa: “Para vencer a Copa, são necessários apenas sete gols”. A lógica estava ao lado de Parreira. Com sete vitórias de 1 x 0, a seleção poderia erguer a taça após a finalíssima (como se sabe, o retrospecto brasileiro foi de cinco vitórias, dois empates e 11 gols; a seleção levou o caneco para casa).

Quando se analisa a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, percebe-se algo em comum com aquele time de Carlos Alberto Parreira. O ex-presidente está cauteloso como nunca, como se pretendesse vencer o pleito com apenas sete gols. A ausência de Lula no debate do SBT mostra essa preocupação: líder na maioria das pesquisas de intenção de votos e com um telhado de vidro considerável (as acusações de corrupção levantadas pela Operação Lava-Jato), ele traria para si boa parte das perguntas negativas e das críticas dos adversários.

Ao faltar no debate, limitou o prejuízo e deixou Jair Bolsonaro nos holofotes, que levou algumas bordoadas durante o programa. Terá sido a melhor estratégia para o petista? Talvez, até por conta da capacidade que Lula desenvolveu de soltar comentários indesejáveis durante improvisos. Na semana passada, por exemplo, disse que o jeito “ignorante, bruto e capiau de Jair Bolsonaro é característico do interior de São Paulo”. Comprou briga com boa parte dos interioranos paulistas a troco de nada.

Uma espécie de troco veio no final de semana. Imagens capturadas em Campinas mostraram um grupo grande de pessoas fazendo manifestações em favor de Bolsonaro. Aliás, como se explica as maiores aglomerações de Bolsonaro em comparação com as de Lula? Essa dúvida fica ainda maior quando verificamos os números das pesquisas eleitorais, cuja maioria coloca o petista bem na frente do atual presidente.

Uma explicação para isso poderia ser que entre os eleitores de Bolsonaro há um percentual muito alto de militantes, maior que o de Lula. E que as grandes concentrações de pessoas ocorrem em redutos bolsonaristas. Essas e outras dúvidas, no entanto, serão respondidas apenas quando os resultados das urnas forem apurados em 2 de outubro. Com esses números na mão, poderemos entender qual tipo de pesquisa estava certa e que poderia ser usada como balizador daqui para frente.

A campanha aponta para a fase final. Lula vai continuar na retranca e Bolsonaro, pelo jeito, vai insistir na estratégia lacradora. Nos últimos dias, por exemplo, começou a circular um vídeo com a atriz Regina Duarte no qual era dizia que a rejeição ao presidente era fruto da “ignorância”.

O raciocínio dos marqueteiros presidenciais, neste caso, foi: se temos um governo cheio de realizações positivas e a economia está indo bem, somente aqueles que desconhecem os fatos é que podem estar contra a situação.

A pergunta que não quer calar é: se Bolsonaro precisa atrair o eleitor de centro ou os indecisos, chamar aqueles que têm suas reservas contra o presidente de “ignorantes” seria a melhor atitude a essa altura do campeonato? Provavelmente, não. O mais provável é que seja um tiro no pé.

Enquanto isso, Lula continua em sua estratégia à lá Carlos Aberto Parreira. Jogando na retranca e buscando fazer o mínimo de 7 gols, conquistar os votos do centro e levar a taça para casa.

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